Nunca desde o reaparecimento da crise aberta do capitalismo no final dos anos sessenta, essa tinha sido tão perigosa. Em relação a uma outra referencia histórica, se pode dizer que a situação é globalmente mais perigosa de que na véspera da crise de 29, o que não significa que esta vai se repetir de imediato, pois o capitalismo faz tudo que pode para evitar que se produza novamente tal manifestação aberta e brutal do impasse da economia capitalista.
O conjunto dos fatores a seguir expressa o retorno na cena histórica, com violência, de todas as manifestações da crise aberta do capitalismo que a burguesia tinha tentado conter através vários meios desde o final dos anos sessenta:
Enquanto a burguesia gasta dezenas de bilhões para auxiliar bancos e instituições financeiras, a situação de milhões de pessoas pobres no mundo está aumentando em ritmo acelerado.
Nos EU, milhares de operários são expulsos de sua casa, pois não podem mais pagar o reembolso das mensalidades cada vez mais altas como conseqüência da crise dos empréstimos do tipo "subprimes". Paradoxalmente, o número de pessoas sem teto aumenta, não porque existe uma penúria de moradia, muito embora exista excesso de moradias. O mesmo fenômeno começa a afetar o consumo a credito em geral.
Não é todo. O departamento do trabalho dos Estados-Unidos anunciou o dia 7 de Março que 63000 empregos foram perdidos durante o mês de fevereiro. Isso constituiu a segunda queda consecutiva do número de empregos a nível geral no país e a terceira do setor privado.
No entanto, as conseqüências dramáticas da crise mundial do capitalismo não se manifestam somente nos EU: segundo a comissão da ONU dos direitos humanos, 1 bilhão de pessoas necessita de uma moradia adequada, e 10 milhões simplesmente não têm nenhuma.
Em 2008, uma outra realidade se manifesta de maneira ainda mais dramática: o crescimento da fome a nível mundial como conseqüência da penúria e do aumento vertiginoso do preço dos alimentos no mundo. O presidente do banco mundial "exortou para que se tomassem medidas imediatas para enfrentar o aumento dos preços dos alimentos, os quais causaram fome e revoltas em vários países", acrescendo que "pelo menos 33 países enfrentam protestos e instabilidade devido à falta de comida". O secretariado da FAO, Jacques Diouf, afirmou que "nos últimos nove meses o preço dos alimentos subiu em média 80% e que existe escassez de arroz, milho e trigo". Por sua parte, o chefe do FMI, Dominique Strauss-Kahn, alertou que "o aumento dos preços dos alimentos poderia ter conseqüências graves para a população dos países em desenvolvimento".
O que preocupa toda essa gente são mais as conseqüências sociais da fome de que os sofrimentos desta. Houve uma série de revoltas contra a fome em vários países. "Há protestos na Guiné, Marrocos, Mauritânia, Moçambique, Nigéria e Senegal. Em Camarões, causaram 40 mortos. Na Costa de Marfim e Burkina Fasso, as manifestações se transformaram em saques e violências, enquanto no Egito sete pessoas morreram nos tumultos na tentativa de receber pão subsidiado. Uzbekistão, Yemen, Bolívia e Indonésia estão conhecendo uma situação semelhante. Os preços elevados dos alimentos colocaram este fora do alcance de milhões de pessoas, e a situação só faz se agravar." (Fonte Site semana.com).
Um caso mais próximo geograficamente foi o do Haiti no início do mês de abril onde os habitantes da capital, Porto Príncipe, e de outras cidades manifestaram durante cinco dias contra a escassez e o aumento do preço dos alimentos básicos, cujos preços foram multiplicados por três desde novembro de 2007. As manifestações deixaram um saldo de entre cinco e oito mortos, em conseqüência da repressão pelas forças da ONU estabelecidas no Haiti, comandadas pelo exercito brasileiro.
O afundamento do capitalismo na sua crise vai acentuar as tensões imperialistas entre nações ao tempo em que situação já é insuportável neste plano:
Há menos de dois meses um aceno de guerra se levantou no continente Sul-americano através medida de força entre Columbia e Equador que envolveu vários países da região, principalmente a Venezuela que mobilizou tropas na fronteira colombiana, em "solidariedade" ao Equador. Este conflito é resultado da instabilidade induzida na região pelos Estados-Unidos para tentar pôr ordem no seu próprio "pátio traseiro" e do fato que um governo como o da Venezuela se aproveita das dificuldades deste país no plano imperialista mundial, para tentar alçar a condição de potência regional.
O conflito Equador-Colombia não é nada mais que uma expressão das tensões na região onde todos os países, sem exceção, aumentam suas despesas militares e de influência geopolítica. O Brasil é um dos países que tem passado a jogar um papel de primeira ordem com potência regional. Com Lula, foi capaz de levar a cabo uma política mais discreta e eficaz de que a de Chávez e de se posicionar como verdadeira potencia regional, competindo ou complementando (segundo as circunstancias) os próprios Estados-Unidos.
A situação atual não é somente a reedição em maior escala de todas as manifestações da crise desde o final dos anos 1960. Essas últimas se expressam de maneira mais uniforme, simultânea e explosiva conferindo assim à catástrofe econômica uma qualidade nova e propícia ao questionamento radical deste sistema.
Desde 2003 o proletariado mundial tende retomar suas lutas, demonstrando nessas um desenvolvimento significativo e uma tendência a lutas massivas (as recentes greves de 400 000 funcionários públicos na Grã-bretanha), manifestações crescentes de solidariedade ativa entre operários de diferentes setores (Opel e Nokia em Alemanha) ou nacionalidades (Dubai na construção civil), ultrapassando o quadro sindical (Bélgica no pólo petroquímico BP), a resistir as ameaças inclusive físicas por parte da burguesia (Turquia na construção naval, Egito na industria têxtil).
Tem de se tomar em conta o caminho que nossa classe está percorrendo através do número impressionante de lutas no mundo com um caráter cada vez mais simultâneo. Assim, desde o começo deste ano, houve lutas importantes ou significativas nos países seguintes:
Diante da crise do capitalismo, só há uma via: desenvolvimento internacional da luta de classe, unificação do combate com a perspectiva da derrubada deste sistema bárbaro.
(22 de abril 2008)