Submetido por CCI em
Na semana passada, o governo Sarkozy/Fillon/Hortefeux/Pécresse[1] e consortes - contando, além disso, com a silenciosa cumplicidade do PS (Partido Socialista) e de toda a "esquerda plural" - tem franqueado o limite da ignomínia. Depois de expulsar "manu militari" os imigrantes do território francês, invocando a política de "imigração seletiva", agora lhes tem chegado a vez os estudantes em greve que tem sido selvagemente espancados com cassetetes com uma feroz represão por sua oposição à lei sobre a privatização das universidades (a chamada LRU). Invocando a "democracia" e a "liberdade", alguns reitores universitários ao serviço do capital, têm tomado a iníqua decisão de chamar aos CRS[2] e outros corpos antidistúrbios para desalojar as faculdades universitárias ocupadas nas quais haviam se trancado os estudantes em Nanterre, Tolbiac, Rennes, Aix-Marseille; Nantes, Grenoble,...
A ordem do terror capitalista!
Essa repressão tem sido especialmente ignóbil em Rennes e, sobretudo em Nanterre.
Atrás da intervenção de guardas com cachorros, os reitores destas universidades permitiam que centenas de CRS entrassem pela força nos locais desalojando os piquetes de estudantes a pancadas e asfixiando-os com gases lacrimogêneos. Muitos destes estudantes acabaram sendo feridos ou detidos. Os CRS chegaram ao sadismo de arrancar-lhe os óculos (todo um símbolo dos que estudam e lêem livros!) a um estudante de Nanterre e quebrá-los. As mídias pró-Sarkozy e ao serviço do capital têm posto seu grão de areia na justificativa de tal repressão e na sua divulgação, dando a palavra aos reitores universitários. Em 13 de Novembro passado, no noticiário de "France 2" das 20 horas, pôde ouvir-se o reitor da Universidade de Nanterre justificar a repressão dizendo que "não se trata de uma luta, mas de delinqüência". E enquanto a esse outro histérico lacaio da burguesia que é o reitor da Universidade de Rennes teve o descaramento de afirmar que aqueles que se rebelam são "terroristas e kmers vermelhos[3]"!
Está claro que o antigo Primeiro Polícia da França, Nicolás o Pequeno (apelido popular de Sarkozy dadas suas pretensões napoleônicas) se dispõe hoje a fazer uma "limpeza à Kärcher"[4] das universidades francesas, e a estigmatizar os filhos dos trabalhadores como "baderneiros", "escória" ou "delinqüentes" (por empregar os termos do reitor de Nanterre). Enquanto a todos esses que se dedicam à "política" (a Sra. Pécrese, declarava em 7 de Novembro em LCI que "os encerros são sobretudo políticos"), se trata de "terroristas". No mesmo momento em que a ministra de Interior, Alliot-Marie, dava ordem a seus esbirros para que assaltassem as faculdades ocupadas, sua "companheira", a Sra. Pécrese declarava na TV, no cúmulo do cinismo, que ela queria "tranqüilizar os estudantes".
Trata-se de uma mensagem lançada aos trabalhadores tanto do setor público como do privado: quem ouse fazer greves "ilegais" e "impopulares" (e já está Tele-Sarkozy com sua matraca cotidiana para fazer que assim o sejam), quem como os trabalhadores da SNCF (ferrovias) ou da RATP (rede de transportes das proximidades de Paris) se atrevam a "tomar como reféns os usuários", serão denunciados como "terroristas" ou "perturbadores" da "ordem pública".
O verdadeiro "perigo amarelo" não vem dos supostos "kmeres vermelhos" da universidade de Rennes, mas dos "valentões", das hordas policiais que se dedicam a espancar e atacar com gases as jovens gerações do proletariado, com a inestimável colaboração desses denunciantes e puxa-sacos que são os reitores universitários. Os verdadeiros "terroristas", os autênticos criminosos, são os que nos governam, os que executam as ordens dessa classe de gângsteres que é a burguesia decadente. Sua "ordem" não é outra que o TERROR implacável do capital.
Porém estes ladrões não têm se contentado com enviar seus cachorros raivosos (e não necessariamente os de quatro patas) contra os estudantes grevistas. Em algumas universidades desalojadas pela polícia tem chegado inclusive à vagabundagem de "confiscar" as caixas de resistência dos estudantes. Assim aconteceu em 16 de novembro em Lyón. Enquanto que os CRS armados até os dentes se dedicavam a desocupar a faculdade, a Administração da Universidade se dedicava a roubar os utensílios de cozinha que os estudantes tinham trazido e a meter a mão na caixa em que os estudantes haviam reunido umas centenas de euros. Que comportamento mais vergonhoso e repugnante o destes pequenos gângsteres da burguesia, que nada tem que invejar evidentemente ao dos valentões dos subúrbios que foram manipulados pelo Estado burguês para serem enviados contra as manifestações estudantis anti-CPE da primavera de 2006, e que se dedicaram a roubar-lhes os telefones celulares!
Esse é o verdadeiro rosto da democracia parlamentar: a ordem "pública" é a ordem do capital. É a ordem do terror e das porretadas, a dos policiais e dos meios de comunicação, a ordem da manipulação e da Tele-Sarkozy. É a ordem desses "Maquiavélicos" que tratam de dividir-nos para poder reinar. A ordem de quem busca que nos enfrentemos entre nós aplicando a conhecida doutrina preconizada pelo anterior governo Villepin/Sarkozy em 2006: utilizar a violência para apodrecer as lutas.
A solidariedade dos estudantes e dos ferroviários nos mostra o caminho
A repressão selvagem contra os estudantes constitui um ataque criminoso contra o conjunto da classe operária. A grande maioria dos estudantes que lutam contra a privatização da universidade e contra uma seletividade em base à capacidade econômica das famílias é na realidade, contra o que afirmam algumas mídias e os "sócio-ideólogos" da burguesia, filhos de trabalhadores e não de acomodados pequeno burgueses. Muitos deles são efetivamente filhos de trabalhadores do setor público ou de imigrantes (isto se dá, sobretudo nas universidades da periferia como Nanterre ou Saint-Denis). O caráter proletário da luta dos estudantes contra a Lei Pécrese se põe precisamente de manifesto no fato de que os grevistas têm sido capazes de ampliar suas reivindicações, de tal modo que na maioria das universidades ocupadas têm posto adiante não só a retirada da LRU, mas também a manutenção dos regimes especiais de aposentadoria (ver o outro artigo em espanhol sobre França[5]), a recusa da lei Hortefeux e da política de "imigração seletiva" de Sarkozy, o rechaço das franquias nos gastos médicos e do conjunto dos ataques do governo contra o conjunto da classe operária. Têm colocado a frente a necessária SOLIDARIEDADE que deve unir todos os trabalhadores em luta em vez de ficar encerrados no setor ou nas negociações "empresa a empresa" que preconizam os sindicatos. Os estudantes têm conseguido demonstrar na prática em que consiste essa solidariedade. Assim por exemplo várias centenas de estudantes parisienses, e o mesmo aconteceu nas províncias, se somaram às manifestações dos trabalhadores da ferrovia (sobretudo as de 13 e 14 de Novembro) que lutam contra a ameaça sobre seus regimes de aposentadoria. Em algumas cidades, caso de Rennes, Caen, Rouen, Saint-Denis, Grenoble, esta solidariedade dos estudantes tem sido muito bem acolhida pelos ferroviários que, além disso, lhes têm aberto as portas de suas Assembléias Gerais e têm organizado ações comuns com eles (tais como as intervenções nos pedágios das auto-estradas onde estudantes e ferroviários deixavam passar gratuitamente os automobilistas explicando-lhes o sentido de suas mobilizações). Hoje vemos estudantes e ferroviários refletir e discutir juntos, atuar juntos e compartilhar juntos os sanduíches de um pelotão. Em algumas universidades - nas que o reitorado é ocupado por seres humanos e não por hienas histéricas que uivam com os lobos - também têm podido somar-se educadores e pessoal administrativo. Tal tem sido o caso de Paris 8-Saint Denis.
Este caráter proletário da luta dos estudantes se tem visto ainda mais reafirmado pelo fato de que os estudantes não têm ocupado os locais universitários só para poder fazer suas assembléias gerais e levar a cabo debates políticos abertos a todos (se, Mme Décrese, a espécie humana, precisamente porque está dotada de linguagem à diferença dos símios, é uma espécie política, tal e como tem demonstrado alguns dos "pesquisadores", que trabalham nos "centros de excelência" educativos): Em algumas faculdades os estudantes em greve tem posto seus locais à disposição dos imigrantes sem papéis.
E precisamente ante o risco de que esta solidariedade ativa se extenda como uma mancha de óleo, o Governo de Sarkozy/Fillon (com a companhia de suas "damas de ferro" as Pécrese, Alliot-Marie, Dati,...) tem decidido enviar suas polícias para quebrar a luta da classe operária. A Aspiração da burguesia francesa é aplicar a mesma política que colocou em prática Margaret Thatcher. O que querem é proibir, como na Grã Bretanha, toda greve por solidariedade, com objeto de ter as mãos livres para desferir, atrás das eleições municipais do ano que vem, ataques ainda mais brutais. Porém hoje com este pulso e com o emprego da repressão, o que pretende a classe dominante, e seu executor Sarkozy, é impor o reino da ordem "democrática" do capital.
O movimento de solidariedade, em que se têm envolvido estudantes e alguns ferroviários, demonstra que os ensinamentos da luta contra o CPE[6] não têm passado ao esquecimento apesar da ensurdecedora campanha ideológica das eleições presidenciais. A solidariedade de estudantes e trabalhadores da SNCF e a RATP nos mostra o caminho. E essa é a via na qual devemos implicar-nos resolutamente, todos os trabalhadores, ativos e desempregados, franceses "de naturalidade" e imigrantes, da função pública e das empresas privadas. É a única forma de criar uma relação de forças contra os ataques da burguesia e do seu sistema decadente que não tem outro futuro a oferecer às novas gerações: desemprego, precariedade, miséria e repressão (hoje as cacetadas e os gases lacrimogêneos, amanhã a metralhadora).
Na primavera de 2006, se o então Primeiro Policial da França, Sarkozy, não enviou os CRS contra os estudantes "bloqueadores", não é porque à época conservara algum escrúpulo moral, mas porque sendo candidato às eleições presidenciais não queria colocar-se contra o eleitorado que tinha seus filhos na Universidade. Hoje já assentado no poder, quer estufar o peito e ressarcir-se da humilhação que sofreu toda a burguesia tendo que retirar a CPE em 2006. Não anunciou já no mesmo dia de sua eleição que "o Estado não deve retroceder nunca"? O que pretende Sarkozy é demonstrar aos da banda de Villepin que não lhe falta pulso, e que como dizia Raffarin ante as manifestações massivas de 2003. "Não é a rua que governa". O cinismo com o que tem anunciado publicamente, supostamente em nome de transparência, o aumento do seu salário em 140%, ao mesmo tempo em que se mostra disposto a manter intransigentemente todo o calendário de ataques às condições de vida da classe operária, constitui uma verdadeira provocação. A mensagem que quer transmitir-nos com tamanho desprezo é claro: "Não tem sentido algum pôr na questão os privilégios da burguesia. Eu fui eleito pelos franceses, e por isso tenho carta branca para fazer o que quero". Porém deixando de lado os interesses e as ambições pessoais deste sinistro personagem, o certo é que atua em representação dos interesses de conjunto da classe capitalista e para fazer cumprir a lei do capital. A pugna que tem lançado aos ferroviários não tem mais que um objetivo: infligir uma humilhante derrota à classe operária que arranque das cabeças dos trabalhadores o sentimento que deixou a luta contra a CPE: que só a luta unida paga. Por essa razão Sarkozy não tem nenhuma intenção de ceder ante os ferroviários e por isso quer converter as universidades em quartéis policiais.
Mas seja qual for o resultado final desta pugna entre o governo Sarkozy/Fillon/Pécrese e a classe operária, a luta já tem começado a responder: o movimento de solidariedade a que já recorrem estudantes e ferroviários e que começa a se entendendo para outros setores da classe operária (sobretudo entre trabalhadores da própria universidade) deixará uma impressão duradoura nas consciências como já sucedeu com a luta contra a CPE. Como todas as lutas operárias que se desenvolvem em todo o mundo, se trata de um estágio no caminho que conduz à futura destruição do capitalismo. O principal ganho da luta é a luta mesmo, é a experiência de solidariedade viva e ativa da classe operária lutando por sua emancipação, e pela libertação de toda humanidade.
Trabalhadores "franceses" e imigrantes, do setor público ou das empresas privadas, estudantes universitários ou dos institutos, desempregados: um só e único combate contra os ataques do governo. Abaixo o estado policial! Frente ao terror do capital: solidariedade de toda a classe operária!
Sofiane (17 de Novembro 2007).Do suplemento com que a CCI está intervindo nas manifestações e mobilizações dos trabalhadores na França.
[1] Presidente da República, primeiro ministro, e ministros de imigração e educação respectivamente do atual governo francês.
[2] Companhia Republicana de seguridade; força de repressão.
[3] Os kmeres vermelhos, cujo nome oficial foi sucessivamente Partido Comunista do Camboja e Partido do Kampuchea democrático eram membros de uma organização stalinista no poder no Camboja desde 1975 até 1979. Os kmeres vermelhos tornaram-se a ser tristemente celebres por suas exações que causaram a morte de cerca de 1,5 milhões milhão de pessoas (mais de um quarto da população), mortas de fome, de esgotamento ou executadas.
[4] Nome de uma potente limpadora industrial. Essa expressão foi empregada por Sarkozy para referir-se às instruções dadas à polícia contra as revoltas dos subúrbios em Novembro de 2005.
[5] Luchas en Francia: ¡Hay que luchar unidos! https://es.internationalism.org/ap/2007/178_unidos
[6] Ver em. "Tesis sobre o movimento dos estudantes da primavera de 2006 na França" (Revista Internacional nº 125): publicado em português em : https://pt.internationalism.org/icconline/2006_estudiantes_franca