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Os anos 1930 até 39 são os de preparativos para a guerra que se realiza sobre as cinzas da onda revolucionaria que surgiu em reação à Primeira Guerra mundial. Em todos os lugares do mundo, o proletariado foi vencido, esgotado, massacrado, preso na falsa alternativa capitalista que o arranca de seu terreno de classe, "fascismo ou democracia", e submetido à histeria nacionalista que o leva inexoravelmente para a Guerra.
Ao mesmo tempo, em seguida após a morte da Internacional Comunista ratificada pela proclamação do socialismo num só país, quase a totalidade das organizações operárias em plena degenerescência são absorvidas no campo da burguesia ou tendem a se desagregar totalmente. Os "partidos comunistas" se tornam verdadeiras correias de transmissão da "defesa da pátria socialista" às ordens da contra-revolução stalinista. As únicas vozes que se expressam à contracorrente mantendo-se firmemente sobre posturas de classe como Bilan (órgão da Esquerda comunista de Itália entre 1933 e 38 no estrangeiro) são o produto de um punhado de revolucionários.
A esquerda desvia o proletariado da sua perspectiva própria e o submete ao Estado burguês
Na Espanha subsistia uma fração do proletariado mundial que ainda não tinha sido esmagada por conta da não participação deste país na Primeira Guerra mundial. Teve de enfrentar as tentativas da burguesia para que ele abandone seu terreno de classe para o terreno capitalista de uma batalha exclusivamente militar e imperialista.
Por conta da sua situação geográfica de porto da Europa, nos confins do mar mediterrâneo, do oceano atlântico e da África, a Espanha constituía o terreno ideal de materialização das tensões imperialistas exacerbadas pela crise, notadamente por parte dos imperialismos alemão e italiano que procuravam estabelecer um braço forte na bacia do mediterrâneo e acelerar o curso para a guerra.
Ademais, as estruturas arcaicas deste país, profundamente sacudidas pelo arrebentamento da crise econômica mundial do capitalismo nos anos 1930, constituíam um contexto favorável à adoutrinação do proletariado. O mito de uma "revolução democrática burguesa" a ser realizada pelos operários foi incutido para envolvê-los atrás da alternativa "república contra monarquia" preparando o caminho para a luta "anti-fascismo contra fascismo".
Depois da ditadura de Primo de Rivera, instaurada em 1923 e que se beneficia da colaboração ativa do sindicato socialista UGT (União Geral dos Trabalhadores), a burguesia espanhola elaborou o pacto de San Sebastian, no qual são associados os dois grandes sindicatos, a UGT e a CNT (Confederação Nacional dos Trabalhadores), esta última dominada pelos anarquistas. O pacto estabelece preventivamente as bases de uma "alternativa republicana" ao poder monarquista. A 14 de Abril de 1931, a burguesia obriga o rei Alphonse XIII a abdicar diante da ameaça de uma greve dos ferroviários e proclama a república. De imediato, nas eleições, uma coalizão social-republicana ascende ao poder. O novo governo "republicano e socialista" não demora em expressar sua real natureza anti-operária. A repressão é violentamente desencadeada contra os movimentos de greve que surgem diante do incremento rápido do desemprego e do aumento dos preços, com centenas de mortos e feridos entre os operários, notadamente em Janeiro de 1933 em Casas Viejas, na Andaluzia. Durante esta onda de repressão, o "socialista" Azana manda a tropa: "Nem feridos, nem presos, atirem na barriga!".
Esta repressão sangrenta das lutas operárias, realizada em nome da democracia e que vai continuar dois anos, de um lado vai possibilitar às forças de direita organizar-se e, de outro, vai levar ao enfraquecimento da coalizão governamental. Em 1933, as eleições vão dar uma maioria a direita. Uma parte do partido socialista bastante desacreditado pela repressão da qual foi o responsável, vai se aproveitar desta mudança eleitoral para efetuar um giro para a esquerda.
As organizações políticas de esquerda tratam aí de desviar o proletariado da luta de classes quando as greves se desenvolvem. Em abril-maio 1934, as greves tomam a maior amplitude. Os operários da metalurgia de Barcelona, os ferroviários e, sobretudo, os operários da construção civil em Madrid, empreendem lutas muito duras. Frente a estas lutas, toda propaganda, da esquerda e da extrema-esquerda, toma como eixo o anti-fascismo, para arrastar os operários a uma política de "frente única de todos os democratas", verdadeira camisa de força sobre o proletariado.
De 1934 até 1935, os operários são submetidos a um verdadeiro bombardeio ideológico em preparação das eleições, com objetivo a instauração de um programa de Frente popular e para "encarar o perigo fascista".
Em outubro de 1934, estimulados pelas forças de esquerda, os operários das Astúrias caem na armadilha de um confronto suicida contra o estado burguês que vai infligi-los uma derrota sangrenta. Sua insurreição e depois sua resistência heróica nas zonas mineiras e na zona industrial de Oviedo e Gijon foram totalmente isoladas pelo PSOE e pela UGT que impediram, por todos os meios, que a luta se estendesse para resto da Espanha, em particular a Madrid. O governo dispôs então uma força de 30 000 soldados com tanques e aviões de combate, nas Astúrias para esmagar sem piedade os operários, abrindo assim um período de repressão violenta no país inteiro.
A "Frente Popular" entrega os operários para o massacre
A 15 de janeiro 1935, a aliança eleitoral da Frente Popular é assinada pelo conjunto das organizações de esquerda, assim como pelos esquerdistas de tendência trotskista do P.O.U.M. Os dirigentes anarquistas da CNT e da FAI derrogou seus "princípios anti-eleitorais" para camuflar este acordo sob um silêncio cúmplice que equivale um apoio Em fevereiro de 1936, o primeiro governo de Frente Popular é eleito. Enquanto uma nova onda de greves se desenvolve, o governo lança apelos à tranqüilidade, pede aos operários para parar com as greves, dizendo que estas fazem o jogo do fascismo; O PCE (Partido Comunista Espanhol) irá até dizer que "patrões provocam e estimulam as greves por razões políticas de sabotagem". Em Madri, onde uma greve geral estoura a primeiro de Junho, a CNT impede toda confrontação direita com o estado, lançando suas célebres palavras de ordem de autogestão. Esta autogestão vai servir para encerrar os operários nas "suas" fábricas, seu "campo" ou sua aldeia, notadamente na Catalunha e Aragão.
Sentindo-se bastante fortes, as forças militares se lançam em Julho numa sublevação ("pronunciamento") iniciado no Marrocos e dirigido por Franco que tinha assumido sua primeira função de general sob as ordens da república dominada pelos socialistas.
A resposta operária é imediata: A 19 de Julho 1936, os operários declaram greve contra a sublevação de Franco e vão massivamente para as casernas para desarmar esta tentativa, sem tomar conta das consignas contrárias da Frente Popular e do governo republicano. Unindo a luta reivindicativa à luta política, os operários bloqueiam por meio desta ação a mão assassina de Franco. Mas, simultaneamente, os chamamentos à tranquilidade da Frente popular são respeitados em outros lugares. Em Sevilha, por exemplo, onde os operários obedeceram às consignas da Frente Popular para esperar, eles são massacrados num horrível banho de sangue pelos militares.
As forças de esquerda do capital então desenvolvem plenamente suas manobras de arregimentação
Em 24 horas, o governo que negociava com as tropas franquistas e organizava conjuntamente com elas o massacre dos operários, deixa lugar ao governo Giral, mais "a esquerda" e mais "antifascista", que encabeça a sublevação operária para orientá-la para o confronto exclusivo com Franco e sobre um terreno exclusivamente militar! Os operários só são armados para o envio ao front contra as tropas de Franco, fora de seu terreno de classe. Pior ainda. A burguesia faz acreditar na mentira do"desaparecimento do Estado capitalista republicano", enquanto este último se esconde atrás um pseudo "governo operário" que desvia os operários numa união sagrada contra Franco através de organismos como o Comité Central das Milícias Antifascistas e o Conselho Central da Economia. A ilusão de um "duplo poder" é criada, uma verdadeira armadilha contra a classe operária, que entrega definitivamente os operários nas mãos de seus verdugos. Os massacres sangrentos que tiveram lugar depois em Aragão, Oviedo, Madri são o resultado criminoso da manobra da burguesia republicana e de esquerda que fez abortar as reações operárias do 19 de Julho 1936. A partir daí, centenas de milhares de operários são diretamente alistados nas milícias antifascistas dos anarquistas e do POUM e são enviados a morte no front imperialista "anti-franquista" pelo governo da Frente Popular.
Depois de ter abandonado seu terreno de classe, o proletariado sofreu a matança da guerra e uma selvagem exploração, promovida pela Frente Popular, em nome da economia de guerra "antifascista": redução dos salários, inflação, racionamento, militarização do trabalho, aumento da jornada de trabalho, ....