As armas da burguesia

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Para estar em condições de dar rédeas soltas a uma repressão em escala, a burguesia começará como no passado, por tentar desmoralizar os operários desviando suas lutas e as conduzindo a um beco sem saída. Para isso proporá três temas essenciais de mistificação com os quais acorrentar a classe ao seu capital nacional e seu estado: o anti-facismo, a autogestão e a independência nacional.

O Anti-facismo, diante de circunstâncias históricas diferentes das dos anos trinta, ao não ter em frente um "fascismo" bem "concreto" como o de Hitler ou Mussolini e por não ser a preparação da guerra imperialista sua tarefa imediata, terá um sentido mais amplo que no passado. A leste como a oeste, será em nome da defesa das "conquistas democráticas" e das "liberdades" contra as "ameaças reacionárias", "autoritárias", "repressivas", "fascistas" e até "estalinistas" que as frações "de esquerda", "progressistas", "democráticas" ou "liberais" do Capital vão combater as lutas proletárias. Cada vez mais constante, os operários acabam desconcertados ao constatar que são os piores agentes da "reação" e da "contra-revolução"  quando passam a lutar para defender seus interesses [1].

A Autogestão, mito que será favorecido pelas quebras em série provocadas pelas crises, como também por uma reação compreensível contra o império burocrático do estado sobre toda a sociedade, será também uma arma valiosa que a esquerda do capital proporá contra os trabalhadores; esses terão que fazer ouvidos surdos aos cantos da sereia de todas as forças capitalistas que em nome da "democratização da economia",  da "expropriação" dos patrões ou do estabelecimento de "relações comunistas" ou "mais humanas"  desejam de fato que participem da sua própria exploração, opondo-se à sua unificação, mantendo-os divididos por empresas e bairros.

A Independência nacional, por fim, versão moderna da "Defesa Nacional", de triste memória; a burguesia empregará todos os recursos, e em particular nos países mais débeis, onde precisamente é ainda mais absurda a união interclassista contra tal ou qual imperialismo, colocando a culpa das crises e do aumento da exploração às "pretensões hegemônicas" deste ou daquele país, às multinacionais ou a qualquer outro capitalismo apátrida.

Em nome de uma ou outra dessas mistificações ou de todas a mesma vez, o capital exortará por todas as partes aos trabalhadores que renunciem suas reivindicações e que se sacrifiquem na espera da superação da crise. Como no passado os partidos de esquerda e "operários" se destacarão nesta tarefa repugnante, e poderão contar com o apoio "crítico" das correntes esquerdistas de todas as plumagens que propagam os mesmos objetivos, porém com métodos radicais.  Faz 57 anos, o Manifesto da Internacional Comunista, colocava em guarda a classe operária contra esses perigos.

"Os oportunistas, que antes da Guerra, incitavam aos operários moderar suas reivindicações em nome da passagem progressiva ao socialismo, que exigiram durante a guerra a humilhação da classe operária e a sua submissão em nome da união sagrada e a defesa da pátria, pedem agora novos sacrifícios e abnegações ao proletariado para superar as terríveis conseqüências da guerra. Se semelhantes sermões tivessem eco na classe operária, o desenvolvimento capitalista seguiria restabelecendo-se sobre os cadáveres de várias gerações, com formas novas, todavia de maior cencentração e maior monstruosidade. E a perspectiva de uma nova e inevitável guerra mundial".

A história tem demonstrado, através de uma tragédia inominada, como clarividente era a denuncia das mentiras burguesas feitas pelos revolucionários de 1919. Hoje, quando a burguesia volta a por de pé o formidável arsenal político que lhe permitiu no passado conter e vencer o proletariado, a CCI reivindica as palavras da Internacional Comunista, dirigindo-se de novo à classe operária.

"Proletários, lembrem-se da guerra imperialista!", clamava a I.C. - Proletários de hoje, lembrem-se da barbárie de meio século transcorrido e imaginem o que espera a humanidade se também desta vez nao rechaçarem  com suficiente vigor os discursos entontecedores da burguesia e seus lacaios!

[1] Embora em alguns países centrais - França, Áustria, Holanda - temos assistido a ascensão de frações de extrema direta, este fenômeno não é de maneira alguma comparável com o caráter que tomou nos anos 1920 e 1930 que permitiu a chegada ao poder do nazismo e do fascismo. A renovação dos partidos de extrema direta é essencialmente uma manifestação da decomposição do capitalismo, do "cada um na sua" que gangrena o aparato político do capitalismo. Porém não é a conseqüência de uma derrota histórica do proletariado como foi o caso nos anos que se seguiram a derrota da primeira onda revolucionária mundial de 1917-1923. Por outro lado, as campanhas antifascistas atuais não são comparáveis às campanhas de mobilização massivas do proletariado sob as bandeiras da democracia que permitiram o alistamento da classe para a 2ª. Guerra Mundial.

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