Folheto internacional: Capitalismo é guerra, guerra ao capitalismo!

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Estamos publicando o folheto que a CCI começou a distribuir a partir de 28 de fevereiro deste ano. Temos nos esforçado para torná-lo disponível também em idiomas falados em países onde a CCI não tem militantes, e uma série de contatos nos ajudou neste trabalho. É, portanto, graças ao trabalho de tradução realizado pelos contatos, que nosso folheto pode agora ser lido nos países onde são falados os seguintes idiomas: inglês, francês, alemão, italiano, sueco, espanhol, turco, holandês, português, grego, russo, hindi, farsi, coreano, japonês, tagalo, chinês, húngaro, finlandês, árabe. Para vários desses idiomas, o folheto pode ser baixado através do nosso site, para que aqueles que desejarem possam imprimi-lo e distribuí-lo em reuniões, agrupamentos, passeatas, assembleias  etc.


A Europa entrou na guerra. Não é a primeira vez desde a segunda carnificina mundial de 1939-45. No início dos anos 90, a guerra devastou a antiga Iugoslávia, causando 140 000 mortes com massacres massivos de civis, em nome da "limpeza étnica" como em Srebrenica, em julho de 1995, onde 8 000 pessoas entre adultos e adolescentes foram assassinados a sangue frio. A guerra que acaba de ser deflagrada com a ofensiva dos exércitos russos contra a Ucrânia momentaneamente não é tão mortal, mas ninguém sabe ainda quantas vítimas ela acabará de produzir. No entanto, a partir de agora, tem uma abrangência muito mais ampla do que o da antiga Iugoslávia. Hoje, não são as milícias, os pequenos estados, que estão lutando uns contra os outros. A guerra atual coloca os dois maiores estados da Europa, com populações de 150 e 45 milhões respectivamente, um contra o outro com enormes exércitos: A Rússia com 700 mil soldados e a Ucrânia 250mil.

Além disso, se as grandes potências estiveram envolvidas nos confrontos na ex-Jugoslávia, foi de forma indireta ou participando de "forças de interposição" sob a égide das Nações Unidas. Hoje, não é apenas a Ucrânia que a Rússia está enfrentando, mas todos os países ocidentais agrupados na OTAN que, embora não estejam diretamente envolvidos na luta, tomaram sanções econômicas significativas contra este país ao mesmo tempo em que começaram a enviar armas para a Ucrânia.

Assim, a guerra que acaba de iniciar é um evento dramático da maior importância, primeiro e principalmente para a Europa, mas também para todo o mundo i. Ela já ceifou milhares de vidas entre soldados de ambos os lados, entre civis. Atirou centenas de milhares de refugiados para as estradas. Isso provocará novos aumentos no preço da energia e dos cereais, sinônimo de frio e fome, enquanto na maioria dos países do mundo, os explorados, os mais pobres, já viram suas condições de vida desmoronarem diante da inflação. Como sempre, é a classe que produz a maior parte da riqueza social, a classe trabalhadora, que pagará o preço mais alto pelas ações bélicas dos donos do mundo.

Essa trágica guerra não pode ser apartada de toda a situação mundial que temos vivido nos últimos dois anos: a pandemia, a crise econômica, a multiplicação de repetidos desastres ecológicos é uma clara manifestação do mergulho do mundo em direção a uma barbárie cada vez mais ameaçadora.

As mentiras da propaganda de guerra

Toda guerra é acompanhada de campanhas maciças de mentiras. Para que a população, e particularmente os explorados, aceitem os terríveis sacrifícios que lhes são pedidos, o sacrifício de suas vidas por aqueles que são enviados para o front, o luto de suas mães, seus companheiros, seus filhos, o terror da população civil, as privações e o agravamento da exploração, é necessário ocupar suas mentes.

As mentiras de Putin são grosseiras, e espelham as do regime soviético no qual ele começou sua carreira como oficial no KGB, a organização da polícia política e dos serviços de espionagem. Ele afirma estar conduzindo uma "operação militar especial" para ajudar o povo de Donbass que é vítima de "genocídio" e proíbe a mídia, sob pena de sanções, de usar a palavra "guerra". De acordo com ele, ele quer libertar a Ucrânia do "regime nazista" que a governa. É verdade que a população de língua russa no leste está sendo perseguida pelas milícias nacionalistas ucranianas, nostálgicas do regime nazista, mas não há genocídio.

As mentiras dos governos e da mídia ocidentais são geralmente mais sutis. Nem sempre: os Estados Unidos e seus aliados, incluindo o próprio Reino Unido "democrático", Espanha, Itália e... Ucrânia (!) nos venderam a intervenção de 2003 no Iraque com a falsa existência de uma ameaça de "armas de destruição em massa" nas mãos de Saddam Hussein. Uma intervenção que resultou em várias centenas de milhares de mortos, dois milhões de refugiados entre a população iraquiana, e várias dezenas de milhares de mortos entre os soldados da coalizão.

Hoje, os líderes "democráticos" e a mídia ocidental estão nos alimentando a fábula da luta entre o "ogro malvado" Putin e o "pequeno polegar Zelensky". Há muito tempo sabemos que Putin é um criminoso cínico. Além disso, ele tem aparência condizente com o perfil que exibe. Zelensky se beneficia de não ter um histórico criminal tão pesado como Putin e de ter sido, antes de entrar na política, um popular ator de programas humorísticos (com uma grande fortuna em paraísos fiscais resultante disso). Mas seus talentos cômicos lhe permitiram agora entrar em seu novo papel de senhor da guerra com brio, daquele que proíbe homens entre 18 e 60 anos de acompanhar suas famílias que desejam refugiar no exterior, daquele que chama os ucranianos para serem mortos pela "pátria", ou seja, pelos interesses da burguesia e dos oligarcas ucranianos. Porque qualquer que seja a cor dos partidos no governo, qualquer que seja o tom de seus discursos, todos os estados nacionais são, acima de tudo, defensores dos interesses da classe exploradora, da burguesia nacional, diante dos explorados e diante da concorrência de outras burguesias nacionais.

Em toda a propaganda de guerra, cada um dos estados se apresenta como o "atacado" que deve se defender contra o "agressor". Mas como na realidade todos os estados são bandidos, é inútil perguntar qual bandido disparou primeiro em tal acerto de contas. Hoje, Putin e a Rússia dispararam primeiro, mas no passado, a OTAN, sob a tutela dos EUA, integrou em suas fileiras muitos países que, antes do colapso do bloco oriental e da União Soviética, eram dominados pela Rússia. Ao iniciar a guerra, o bandido Putin pretende recuperar parte do poder passado de seu país, notadamente impedindo a Ucrânia de aderir à OTAN.

Na realidade, desde o início do século XX, a guerra permanente, com todo o terrível sofrimento que ela gera, tornou-se inseparável do sistema capitalista, um sistema baseado na competição entre empresas e entre estados, onde a guerra comercial leva à guerra de armas, onde o agravamento de suas contradições econômicas, de sua crise, agita cada vez mais os conflitos bélicos. Um sistema baseado no lucro e na exploração feroz dos produtores, onde estes últimos são forçados a pagar com sangue depois de terem pago o preço de seu suor.

Desde 2015, os gastos militares globais têm aumentado acentuadamente. Esta guerra acaba de acelerar brutalmente este processo. Como um símbolo desta espiral de morte, a Alemanha começou a entregar armas à Ucrânia, uma novidade histórica desde a Segunda Guerra Mundial. Pela primeira vez, a União Europeia também está financiando a compra e entrega de armas para a Ucrânia, enquanto o presidente russo Vladimir Putin ameaça abertamente usar armas nucleares para provar sua determinação e capacidade destrutiva

Como pôr fim à guerra?

Ninguém pode prever exatamente como a guerra atual se desenvolverá, mesmo que a Rússia tenha um exército muito mais forte do que a Ucrânia. Hoje, há muitas manifestações em todo o mundo, inclusive na Rússia, contra esta intervenção. Mas não são estas manifestações que porão fim às hostilidades. A história tem mostrado que a única força que pode pôr um fim à guerra capitalista é a classe explorada, o proletariado, o inimigo direto da classe burguesa. Este foi o caso quando os trabalhadores da Rússia derrubaram o estado burguês em outubro de 1917 e os trabalhadores e soldados da Alemanha se revoltaram em novembro de 1918 forçando seu governo a assinar o armistício. Se Putin foi capaz de enviar centenas de milhares de soldados para serem mortos na Ucrânia, se muitos ucranianos hoje estão prontos para dar suas vidas pela "defesa da pátria", é em grande parte porque nesta parte do mundo a classe trabalhadora é particularmente fraca. O colapso em 1989 dos regimes que se diziam "socialistas" ou "operários" havia dado um golpe muito brutal na classe trabalhadora mundial. Este golpe afetou os trabalhadores que haviam travado grandes lutas a partir de 1968 e durante os anos 70 em países como França, Itália e Reino Unido, mas muito mais os dos chamados países "socialistas", como os da Polônia, que haviam lutado massivamente e com grande determinação em agosto de 1980, forçando o governo a renunciar à repressão e atender suas demandas.

Não é através da manifestações "pela paz", não é escolhendo apoiar um país contra outro que se pode trazer verdadeira solidariedade às vítimas da guerra, às populações civis e aos soldados de ambos os lados, proletários de uniforme transformados em bucha de canhão. A única solidariedade consiste em denunciar TODOS os Estados capitalistas, TODOS os partidos que apelam à mobilização por trás desta ou daquela bandeira nacional, TODOS aqueles que buscam nos atrair com a ilusão de paz e "boas relações" entre os povos. Mas a única solidariedade que pode ter um impacto real é o desenvolvimento de lutas maciças e conscientes dos trabalhadores em todas as partes do mundo. E, em particular, conscientes de que elas constituem uma preparação para a derrubada do sistema responsável pelas guerras e por toda a barbárie que ameaça cada vez mais a humanidade, o sistema capitalista.

Hoje, os antigos slogans do movimento operário que figuravam no Manifesto do Partido comunista de 1848 estão mais do que nunca na agenda: "Os proletários não têm pátria! Proletários de todos os países, uni-vos!"

Para o desenvolvimento da luta de classes do proletariado internacional!

Corrente Comunista Internacional (28 de fevereiro)

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Conflito imperialista na Ucrânia