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Ao marcar a entrada do capitalismo em sua fase de decadência, a Primeira Guerra Mundial indica que as condições objetivas para a revolução proletária estavam daí em diante maduras.
A onda revolucionária que, em resposta à guerra e a suas seqüelas, surge na Rússia, estende-se na Europa, impacta nas duas Américas e repercute como um eco na China, constituiu a primeira tentativa do proletariado mundial para cumprir sua tarefa histórica de destruição do capitalismo.
No seu mais forte combate, o proletariado toma o poder na Rússia, leva a cabo insurreições de massas na Alemanha e sacode até em seus alicerces a ordem burguesa na Itália, Hungria e Áustria. Embora com menos potencial ele se expressa também com igual determinação e combatividade no resto do mundo como, por exemplo, na Espanha, na Inglaterra, na América do Norte e do Sul. Finalmente, o fracasso trágico desta onda revolucionária ficou marcado em 1927 pelo esmagamento na China das insurreições operárias de Shangai e de Cantão, o qual veio fechar uma larga série de combates e derrotas da classe operária a nível internacional. É por isso que a Revolução de Outubro de 1917 na Rússia não pode ser definida como um fato isolado nem, como defendem distintas correntes, uma "revolução burguesa", "capitalista de Estado", "dupla" ou "permanente" impondo ao proletariado as tarefas "democráticas" que a burguesia teria sido incapaz de levar a cabo. A Revolução de Outubro só pode ser entendida como uma das manifestações mais importantes desse imenso movimento revolucionário mundial da classe operária.
É igualmente à onda revolucionária que está ligada a constituição da Terceira Internacional (Internacional Comunista), a qual rompe orgânica e politicamente com a Segunda Internacional, cuja participação na Grande Guerra imperialista tinha mostrado claramente sua passagem para o campo da burguesia. O Partido Bolchevique, fração da Esquerda Revolucionária que se destacou da Segunda Internacional, com a clareza de suas posições políticas condensadas em slogans como: "transformação da guerra imperialista em guerra civil", "destruição do Estado burguês", "todo o poder aos Soviets", etc; assim como com sua participação na criação da Terceira Internacional teve uma contribuição fundamental ao processo revolucionário e constituiu naquela época uma autêntica vanguarda do proletariado mundial.
Entretanto, embora a degeneração da revolução russa e a da Terceira Internacional tenham sido essencialmente conseqüências do esmagamento das tentativas revolucionárias do proletariado em outros países e do esgotamento geral da onda revolucionária, é preciso ver o papel jogado pelo Partido Bolchevique nesse processo de degeneração e nos fracassos internacionais do proletariado. Este papel resulta da importância maior que este partido dava à Internacional Comunista por conta da fraqueza dos outros partidos. Ao esmagar em 1921 a sublevação de Kronstadt e ao pôr em marcha políticas do tipo "conquista dos sindicatos", "parlamentarismo revolucionário", "frente única", - claramente contrárias às da ala esquerda da Terceira Internacional - teve uma influência e uma responsabilidade na liquidação da onda revolucionária tão importantes quanto as que tinha assumido no desenvolvimento desta onda.
Na Rússia mesmo, a contra-revolução não veio só "do exterior", mas também "do interior" e particularmente das estruturas do Estado estabelecidas pelo Partido Bolchevique, convertido em partido estatal. O que durante Outubro de 1917 eram somente erros graves atribuíveis à imaturidade do proletariado russo e de todo o movimento operário mundial frente à mudança de período histórico, acabou convertendo-se em biombo e justificação ideológicos da contra-revolução e ademais atuando a favor desta.
Entretanto, tanto o declínio da onda revolucionária na Rússia e no resto do mundo, quanto a degeneração da Terceira Internacional e do próprio partido bolchevique assim como o papel contra-revolucionário desempenhado por este último a partir de um determinado momento, só podem ser entendidos vendo esta onda revolucionária e a Terceira Internacional, inclusive seus componentes na Rússia, como autênticas manifestações do movimento proletário. Qualquer outra interpretação constitui um considerável fator de confusão e impede às correntes políticas que defendem estas expressões revolucionárias, o cumprimento de suas tarefas revolucionárias.
Embora não subsista nenhuma aquisição "material" destas experiências de classe, é unicamente compreendendo sua natureza que podemos e devemos destacar suas aquisições teóricas reais que são de grande importância. Em especial, a revolução russa constitui o único exemplo da tomada de poder político pelo proletariado (à parte da tentativa efêmera e desesperada da Comuna de Paris em 1871 e das experiências abortadas da Hungria e Baviera em 1919). Por isso contribuiu com ensinamentos vitais para a compreensão de dois problemas cruciais da Revolução Proletária: o conteúdo da revolução e a natureza da organização dos revolucionários.