Submetido por CCI em
"Como explicar o papel atual dos sindicatos? Enquanto que sim houve uma época em que eram verdadeiras ferramentas da luta da classe operária, hoje estão claramente a serviço dos interesses da classe burguesa, paralisando as reações operárias diante dos ataques. "
Não existe em efeito nem um só país onde os sindicatos, todos os sindicatos, não sejam defensores da ordem burguesa. Se é assim é porque, por toda parte, converteram-se em órgãos do estado burguês cuja função específica é enquadrar a classe operária para sabotar suas respostas aos ataques e evitar que desemboquem em ações que favoreçam a derrubada do capitalismo em crise.
Para compreender os fatores profundos desta situação, não podemos perder, efetivamente, de vista que no século XIX os operários lutavam por obter o direito a organizar-se em sindicatos. E foi mediante algumas lutas importantes levadas a cabo por seus sindicatos que os operários conseguiram arrancar reformas duradouras que na verdade permitiram melhorar suas condições de vida no capitalismo. De igual modo, inclusive se as idéias reformistas, cuja finalidade era limitar os combates de classe às lutas por reformas unicamente, estavam muito representadas no seio do movimento sindical, isso não pôde impedir que os sindicatos fossem também, naquela época, um lugar privilegiado para a propaganda a favor das idéias revolucionárias, uma "escola de comunismo", como dizia Marx.
"Quando e porque os sindicatos perderam essa natureza operária que lhes era própria?"
No início do século XX se produziu um fato de grande importância, inédito na vida do capitalismo, a eclosão da Primeira guerra mundial. Em um tempo relativamente breve, as contradições do capitalismo engendraram uma destruição considerável de forças produtivas, sem comparação alguma com as conseqüências das guerras e das crises cíclicas que até então tinham prejudicado o crescimento do capitalismo. Essas contradições eram a expressão de que, depois de ter sido fator de progresso da sociedade, o sistema se tornou uma ameaça de morte para ela. Foram o desencadeamento de tal barbárie e a ameaça para a existência mesma da vida da sociedade que constituíram o fermento da primeira onda revolucionária do proletariado mundial.
Diante da irrupção de contradições desconhecidas até então na sociedade burguesa, o Estado adquiriu um papel de uma importância que nunca havia tido até então sob o capitalismo. Ao Estado lhe incumbiu manter submetido o conjunto da sociedade em uma camisa de força para mobilizar e canalizar todos os recursos para a defesa nacional. Nesse processo, os antigos órgãos de luta que eram os sindicatos escapam ao controle dos operários para converter-se em órgãos encarregados de fazer aceitar a militarização do trabalho. Esse processo é irreversível e os sindicatos que, como a CNT espanhola, não se viram submetidos a esse momento da verdade, porque a Espanha não esteve envolta na Iª Guerra mundial, acabaram sendo absorvidos posteriormente pelo Estado. Doravante, os únicos órgãos de massas e unitários de defesa dos interesses da classe operária só poderão surgir e manter-se com a mobilização da classe mediante a luta.
"Acaso não apoiava o próprio Lenin aos sindicatos?"
A vanguarda do proletariado mundial tomou consciência de que com a Iª Guerra mundial e a primeira onda revolucionária tinha nascido a época das "Guerras e as revoluções", como o proclamou a IIIª Internacional, colocando como resultado da luta do proletariado a alternativa seguinte para a sociedade: "Socialismo ou barbárie". A realidade dos fatos impôs essa compreensão. Era, no entanto, necessário poder dispor de uma maior distancia temporal para captar tudo o que essa mudança histórica implicava considerando a vida da sociedade (o desenvolvimento do capitalismo de Estado) e as condições da luta de classes: impossibilidade para a classe operária de seguir utilizando para suas lutas, o Parlamento (cuja única função acabou sendo a da mistificação democrática) e os sindicatos. Entretanto, todas as frações do proletariado mundial não estavam nas mesmas condições quanto a sua própria experiência de enfrentamento com os sindicatos. E nisto, a situação do proletariado russo era específica devido a que nesse país o estado tzarista, totalmente anacrônico era incapaz de levar a cabo uma integração no estado de sindicatos que, por outro lado, eram pouco potentes e tardiamente aparecidos. Desde aí vem a maior dificuldade de Lenin e de seus camaradas para entender plenamente a função desses órgãos na nova fase do capitalismo.