Da oposição operária ao CONAT

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A Oposição Operária — OPOP — está, neste momento, rompendo com a CONLUTAS. Mas, não se trata de um ato de desligamento repentino, tomado abruptamente. Ao contrário, trata-se de uma atitude pensada, refletida e amadurecida nas fileiras da Oposição, uma atitude, portanto, que foi sendo mediada por sucessivas discussões à medida que o processo de consolidação da CONLUTAS foi acontecendo.

Como todas as forças e todos os companheiros que participam do CONLUTAS sabem, a OPOP, por acreditar na luta anti-capitalista direta e, portanto, não crer nas “táticas” que propugnam ocupar espaços no Estado e no Parlamento e nem, ademais, na  direção ou outros cargos da forma sindicato e central sindical, não pode mais continuar debatendo numa perspectiva que se consolida simplesmente  sindicalista e eleitoral. 
A força que hegemoniza a CONLUTAS impõe, com uma prática reconhecidamente aparelhista, uma orientação política de cunho reformista que nada mais tem como resultado senão o efeito de dissimular, negar, deseducar e fetichizar a autonomia da perspectiva e do projeto dos interesses imediatos e históricos do proletariado, trocando-os por uma modalidade de intervenção que fortalece, ao contrário, as instituições do Estado burguês, que se coloca a serviço da administração da crise atual do capital e de seu Estado e que não aponta para a potencialização da crise numa perspectiva de libertação do proletariado; uma linha, numa palavra, que repõe as premissas de reprodução da ordem do capital e de suas instituições.

Os dois eixos básicos que se encontram como fundantes do CONAT e da forma que dele deverá resultar são, obviamente, os eixos que têm presidido toda a vida pretérita da CONLUTAS: a perspectiva sindical e eleitoral. A orientação hegemônica na CONLUTAS de hoje coloca para este ou o próximo encontro a perspectiva de criar uma nova Central Sindical, aguardando apenas o desenrolar da “frente classista” com o P-SOL, o Congresso Nacional da CUT em junho, além do desdobramento da Reforma Sindical. Impõe um calendário burguês e uma organização atrasada no sentido da luta ao conjunto das forças políticas que participam desse processo de construção da Conlutas.

Demais, repete o caminho do PT quando da fundação da CUT nos anos 80, mantém-se ao lado do sindicalismo estatizado e tutelado pelo capital, negando pôr em prática germes de formas autênticas e autônomas de poder proletário ao estilo dos conselhos operários ou de formas intermediárias que apontem nesse sentido. Não quer compreender que a atuação no parlamento já não oferece as possibilidades, mesmo secundárias, que ofereciam no início do século XX; não quer compreender que a burguesia bloqueou todas as possibilidades de uma ação de propaganda revolucionária por dentro do Parlamento e que procura concluir seu propósito de colocar a forma sindicato como mero apêndice do Estado.  

E nem é por acaso que de longa data o sindicato e as centrais tornaram-se, no Brasil e no mundo, na maioria das vezes, sementeiras de quadros e militantes que, depois de um estágio à frente do sindicalismo, vão tornar-se, como regra, sem retorno, parlamentares e administradores do Estado; não quer compreender que qualquer força política que se lança na busca de cargos no Estado não pode chegar a resultados, com pequenas variações de grau — para mais ou para menos —, diferentes dos que presenciamos no PT e na CUT. Com palavras claras: na medida em que esses partidos, tornando-se oficiais, cheguem à estrutura do Estado, com seus membros como parlamentares, executivos de estatais, prefeitos, governadores, ministros, presidentes, serão o PT de amanhã.

É esta a política que se consolidou na construção da CONLUTAS, que perpassa todos os seus encontros, todo o seu material de imprensa, a convocatória do CONAT e, logicamente, o CONAT e a política que nele será necessariamente aprovada. E é esta política que nós, da OPOP, negamos e com a qual rompemos. Para se ter uma idéia do grau de mistificação e manipulação político-ideológica praticado pelos que dirigem a CONLUTAS, basta dar uma pequena amostra colhida da convocatória do próprio CONAT. Está escrito lá:  

Esta será a campanha central da CONLUTAS no próximo período e a idéia é fazê-la de forma integrada às lutas dos diversos setores sociais representados na nossa Coordenação. Ou seja, queremos fazer uma campanha muito concreta, que seja entendida claramente por todos os trabalhadores, mostrando, por exemplo, que os recursos que faltam para o investimento na geração de empregos, para um salário mínimo digno, para a moradia, para a reforma agrária, a saúde, a educação, etc. etc, estão sendo canalizados para o pagamento destas dívidas. E que a solução destes problemas que afligem a vida de todos depende, portanto, da suspensão do pagamento das dívidas para que estes recursos sejam canalizados ao atendimento das necessidades do povo. Esta campanha estará integrada também a luta contra a ALCA, a OMC, os planos do FMI e a Militarização da América Latina pelo império do norte.”

De onde se depreende que “a suspensão do pagamento da dívida” traria a solução dos problemas “que afligem a vida de todos os trabalhadores”. Ou seja, se a dívida não for paga, no próprio sistema capitalista, que continuaria de pé, será possível solucionar os problemas dos trabalhadores e de tal maneira que a luta pelo socialismo simplesmente deixaria de ser colocada como necessidade. Existe aberração mais perniciosa do que esta do ponto de vista da educação política dos trabalhadores?

Durante todo o tempo em que permanecemos nas fileiras da CONLUTAS esperávamos vê-la conduzida para uma forma de organização autônoma, de base e de luta direta do trabalho contra o capital. Todavia, essa nossa expectativa foi esmagada pela força que hoje hegemoniza o CONLUTAS e o que se viu foi o caminho inverso: alianças eleitoreiras, manipulação político-ideológica e um viés puramente sindicalista constituem o saldo de toda essa caminhada. As poucas forças que, como nós, se contrapõem à linha política hegemônica foram tragadas por um aparelhismo e um reformismo sem limites, de tal maneira que não lhes sobrou qualquer espaço para uma prática compatível com a luta direta e com fisionomia de classe por dentro da CONLUTAS.

Por tudo o que foi exposto neste manifesto, estamos conclamando às demais forças que, como a nossa, permaneceram na CONLUTAS até o momento presente, que rompam com a CONLUTAS e venham tentar, conosco, uma outra via e perspectiva que se funde na autonomia diante do Capital e do Estado, na luta anti-capitalista direta e que afirme a fisionomia de classe do proletariado.

Maio de 2006. 

A OPOSIÇÃO OPERÁRIA (OPOP)

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