Movimento dos estudantes na França da primavera 2006

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Uma experiência rica para a luta de classes internacional

Para quem não estava na França quando aconteceu o movimento, foi muito difícil se dar conta de sua realidade devido ao trabalho de desinformação das mídias do mundo inteiro. As únicas informações apresentadas pela televisão dos países estrangeiros foram ações violentas, confrontação com os CRS (Companhia Republicana de Segurança, forças de repressão) e os incêndios de carros.

Tudo foi feito para esconder as características e a força de um movimento realmente proletário:

  • Manifestações massivas mobilizando até 3 milhões de pessoas no mesmo dia na França.
  • Assembléias gerais soberanas, o pulmão da luta, acontecendo regulamente na maioria das universidades em greve.
  • A solidariedade no coração da mobilização.
  • Uma enorme corrente de simpatia na população, e dentro da classe operária em particular, que se expressou a favor desta luta.
  • E, finalmente, o recuo do governo.

É óbvio que o movimento contra o Contrato Primeiro Emprego (CPE) constitui-se num episódio maior da confrontação entre exploradores e explorados na França nos últimos 15 anos. Ele alcançou uma vitória por ter feito o governo e os patrões recuarem. 

Esta vitória até "ultrapassou a fronteira da França" porque. Na Alemanha, o governo desistiu de adotar uma medida similar ao CPE. No mesmo sentido, o movimento já inspirou os estudantes alemães que recentemente se juntaram às centenas em manifestações de trabalhadores da limpeza pública  em Hamburgo. Mais recentemente ainda, a luta dos metalúrgicos de Vigo na Espanha constituiu uma réplica ampliada da luta contra o CPE. Voltaremos a falar disso na apresentação.

Mas não devemos nos iludir. O governo, este ou um outro, assim como a classe dos exploradores, voltará a atacar assim que puder. É por conta disso que a maior vitória do movimento consiste na experiência preciosa que representou para o conjunto da classe operária. Esta permitirá às lutas futuras serem ainda mais fortes.

Para isso, é preciso tirar plenamente as lições desta experiência. É o objetivo desta apresentação e da discussão desta reunião pública. 

Uma primeira questão a ser colocada é a seguinte: por que o governo recuou finalmente? Será que a paralisação das universidades e de uma parte dos liceus constituiu uma ameaça para a ordem capitalista? Não foi o caso. No plano econômico, ou mesmo no político, estes que se mobilizaram não constituem, em si mesmos, uma ameaça direta contra a classe dominante.

Na realidade, a causa principal do recuo do governo se encontra na evolução da situação durante as duas semanas que precederam este recuo:

  • os trabalhadores eram cada vez mais numerosos nas manifestações, em solidariedade com os filhos da classe operária;
  • em várias empresas, um questionamento estava nascendo considerando a atitude dos sindicatos. Estava claro que não faziam nada para favorecer a expressão da solidariedade dos trabalhadores com os estudantes, muito pelo contrário!;
  • neste contexto, estava aumentando a possibilidade de greves espontâneas estourarem em fábricas importantes do setor privado. Greves espontâneas que podiam se espalhar como um rastilho, por conta da cólera enorme dos trabalhadores contra este regime sinônimo de desemprego, precariedade e todos os ataques que têm acontecido contra as condições de vida.

 Uma segunda questão vem depois da primeira: como é possível que um movimento que se iniciou nas universidades, e que mobilizou essencialmente a juventude universitária ou dos liceus, pudesse constituir um exemplo e até um fator de mobilização dos assalariados? De forma mais geral: em quê tal movimento, essencialmente levado por estudantes pode transmitir ensinamentos para as lutas futuras da classe operária?

Porque na realidade tratou-se de um movimento real da classe operária

É verdade que os que estiveram mobilizados não são essencialmente assalariados. Mas,  de uma maneira ou da outra, aqueles que foram à luta já fazem parte da classe operária :

  • uma proporção muito alta de estudantes tem que trabalhar para sobreviver;
  • uma proporção muito alta de estudantes das universidades vai integrar, no fim de seus estudos, as fileiras da classe operária;
  • os estudantes lutaram para a revogação dum ataque econômico que considera o conjunto da classe operária.

Além disso, foi com plena consciência que a grande maioria do movimento se comprometeu com a procura da solidariedade do conjunto da classe operária. Ela se comprometeu também em mobilizá-la para a luta.

Também se pôde perceber no movimento a marca do altruísmo dos movimentos realmente proletários. Assim, muitos estudantes tinham consciência de não ser ameaçados pela precariedade tanto quanto os jovens sem diploma. Isso não os levou a adotar uma atitude corporativista, tendo por único objetivo  seus próprios interesses. Muito pelo contrário, isso os levou a se solidarizar com a causa dos jovens dos bairros desfavorecidos, notadamente os que moram nos bairros que "queimaram" no último outono.

Outra questão importante a ser colocada

O que deu sua força ao movimento?

Resposta: Sua organização e sua abertura ao conjunto da classe operária,
sua solidariedade com o conjunto de seus setores

Isso pode ser explicado pelo meio de outras questões

Como as assembléias gerais cumpriram seu papel?

As assembléias de que se dotou o movimento constituíram um lugar de vida real.

Nada a ver com as "assembléias gerais" convocadas habitualmente pelos sindicatos nas empresas!

As assembléias soberanas constituíram o verdadeiro lugar de organização do movimento, de decisão e especialmente de discussão das questões que estavam colocadas.

No começo do movimento, algumas AG (Assembléias Gerias) pareciam ainda muito com as assembléias sindicais. Mas durante as duas primeiras semanas do movimento, a tendência dominante nas assembléias gerais foi uma presença cada vez mais numerosa dos estudantes, uma participação cada vez mais ampla destes últimos. Graças a esta implicação de todos nas assembléias, os estudantes puderam controlar seu movimento. Dificultaram assim as tentativas de sabotagem e de infiltração pelos sindicatos e organizações políticas de esquerda e extrema-esquerda.

Este controle direto da luta pelos estudantes já constituiu um elemento fundamental da força do movimento. Especialmente porque impediu o trabalho clássico de sabotagem por parte dos sindicatos.

Devemos atribuir uma importância muito grande a esta questão das assembléias gerais. Com efeito, sem assembléias gerais, a luta da classe operária não pode se desenvolver. A grande dificuldade dos operários é justamente conseguir impor suas assembléias gerais soberanas diante da ação dos sindicatos que fazem tudo para impedi-las e controlá-las.

Para quem se abriram as assembléias gerais ?

Para outros estudantes. A participação de delegações de estudantes de algumas universidades nas assembléias de outras universidades constituiu um elemento importante desta capacidade crescente de controle do movimento pelos estudantes. É claro que isso permitiu o fortalecimento do sentimento de força e de solidariedade entre as diferentes AG. Sobretudo, foi um meio para as mais "atrasadas" inspirar-se no bom exemplo das mais adiantadas. 

Para o pessoal das universidades. As AG também chamaram o pessoal das universidades (professores, técnicos ou funcionários administrativos) para participar dos debates e também para se juntar na luta.

Para outros trabalhadores. Elas acolheram muito calorosa e atentamente as intervenções de trabalhadores ou aposentados.Isso permitiu que a ligação entre as gerações de combatentes se estabelecesse  espontaneamente nas assembléias estudantis. Trabalhadores mais antigos foram incitados a  fazer uso da palavra nas AG. Suas intervenções, relatando sua experiência da luta, foram acolhidas com muita atenção e entusiasmo pela nova geração. Às vezes, esses trabalhadores eram pais ou avós de estudantes ou de alunos dos liceus em luta, que vinham apoiar o fortalecimento e a extensão do movimento, notadamente em direção dos assalariados.

Porque esta questão da abertura das assembléias sempre foi uma questão política importante na história da luta de classes ?

Foi uma questão crucial para a luta da classe operária. Fora dos períodos de luta intensa, os elementos que têm a maior influência nas fileiras operárias pertencem às organizações da classe capitalista (sindicatos ou partidos políticos de "esquerda").

É por isso que, o fechamento das assembléias constitui, para estas organizações, um meio excelente para manter seu controle sobre os trabalhadores, em detrimento da dinâmica de luta. Este tipo de atitude sempre esteve a serviço, evidentemente, dos interesses da classe exploradora.

Ao contrário disso, a abertura das assembléias permite que os elementos mais avançados da classe operária, e especialmente as organizações revolucionárias, contribuam para a tomada de consciência dos trabalhadores em luta. Neste sentido, a abertura das assembléias constituiu uma linha de clivagem, na história dos combates da classe operária, entre as correntes que defendem uma orientação proletária e as que defendem a ordem capitalista.

Assim, é significativo que as maiores resistências para a abertura das assembléias tenham vindo do sindicato dos estudantes, a UNEF (União Nacional dos Estudantes de França, dirigida pelo Partido Socialista).

Em que consiste  a importância desta experiência  de controle da luta para o futuro?

Esta capacidade de controle da luta constitui a melhor garantia da classe operária poder desenvolver seu combate. As expressões desta experiência prefiguram as assembléias das lutas massivas de amanhã (de um nível como as da Polônia em 1980), e o surgimento dos conselhos operários quando entrarmos num período revolucionário.

As reportagens na televisão foram cheias de cenas de violência. Daí vem uma outra questão.

Como o movimento assumiu a questão da violência?

A questão da violência constitui um dos elementos essenciais que permite sublinhar a diferença fundamental entre os tumultos nos subúrbios no outono de 2005 e o movimento dos estudantes na primavera 2006.

Na origem dos dois movimentos, há obviamente uma causa comum:

  • a crise insuperável do modo de produção capitalista,
  • o futuro de desemprego e precariedade que este sistema reserva para os filhos da classe operária.

Entretanto, os tumultos dos subúrbios, porque expressaram fundamentalmente um desespero total diante desta situação, não podem ser considerados como uma forma, mesmo aproximativa, da luta de classe. Em particular, os componentes essenciais dos movimentos do proletariado –  a solidariedade, a organização, o controle coletivo e consciente da luta em suas próprias mãos –  não somente estiveram totalmente ausentes destes tumultos, mas também foram negados.

Uma primeira resposta à esta questão da violência foi dada pela juventude própria dos subúrbios. Virando as costas ao método do outono de 2005, ela participou em grande número do movimento contra o CPE, através de sua presença nos cortejos de alunos nas manifestações. Foi somente uma pequena minoria destes jovens que se juntou com bandos de bairros que vimos agir nas manifestações, tanto contra as forças de repressão quanto contra os próprios manifestantes. 

Uma segunda resposta do movimento considerando a questão da violência foi dada diante das provocações policiais da burguesia. Globalmente, o movimento soube evitar com muita maturidade a armadilha da violência armada pela burguesia com intento de arrastar o movimento na escalada da violência cega.

Uma terceira resposta, ainda sobre a questão da violência, foi dada diante da violência dos bandos dos subúrbios contra os manifestantes. Os estudantes não optaram por organizar ações violentas contra estes jovens "arruaceiros", como fizeram os serviços de ordem sindicais com o pretexto de proteger os estudantes.

Em lugar confrontar com os jovens das periferias, os estudantes decidiram, em  várias ocasiões, constituir delegações com intenção de discutir com os jovens dos bairros desfavorecidos. Tratou-se notadamente de explicar a eles que a luta dos estudantes e dos liceus estava também a favor destes jovens mergulhados no desespero do desemprego massivo e da exclusão. 

Assim, foi intuitivamente, sem conhecer as experiências da história do movimento operário, que a maioria dos estudantes colocou em prática um dos ensinamentos essenciais que se destacam destas experiências: não violência no seio da classe operária.

Será que este movimento constituiu
numa espécie de "relâmpago em pleno céu azul"?
De jeito nenhum! Ele assume o melhor e o futuro da luta de classe!

Durante o movimento, várias vezes foram feitas referências ao Maio de 68. É importante referir-se aos acontecimentos de Maio de 68 na França, pois aqueles constituíram um evento maior da situação internacional depois da Segunda Guerra Mundial.

Como o Maio de 68, este movimento constitui uma expressão da retomada das lutas e do desenvolvimento da consciência da classe operária.  Assim, a luta contra o CPE na França não é um fenômeno isolado e nem "francês".

Entretanto, estamos ainda muito longe de uma situação feita de lutas massivas em todos os lugares. Mas já dá para perceber expressões significativas de uma modificação no estado de espírito da classe operária, em favor de uma reflexão mais profunda.

Esta luta na França acontece no seio de uma simultaneidade crescente de lutas em escala internacional:

  • lutas muito massivas. Assim por exemplo, o 28 de março na Grã-Bretanha, quando 1,5 milhão de funcionários públicos entraram em greve contra uma reforma das pensões que planeja alterar a idade em que se pode receber uma pensão completa em caso de aposentadoria: 65 anos em lugar de 60. Os sindicatos foram obrigados a antecipar o desenvolvimento da cólera crescente e chamaram a greve;
  • outras lutas continuaram a exprimir uma tendência explícita para a solidariedade entre operários. Desde as greves de 2004 na Mercedes na Alemanha, outras expressaram esta mesma característica, notadamente a do metrô de Nova York em dezembro de 2005. Vale a pena assinalar um último exemplo mais recente. Na Irlanda do Norte, após décadas de guerra civil entre católicos e protestantes, 800 empregados dos correios entraram espontaneamente em greve em fevereiro, durante duas semanas e meia, em Belfast. Durante uma manifestação comum, ultrapassaram a "fronteira" entre os bairros católicos e protestantes, e desfilaram juntos nas ruas da cidade;
  • depois da mobilização contra o CPE, aconteceu a luta de 23 mil metalúrgicos de Vigo (província de Galícia) na Espanha contra a precariedade: luta massiva, organizada através de assembléias gerais quotidianas na rua, abertas a todos os trabalhadores apoiando a luta. Mais de 10 mil operários se reuniram cotidianamente e delegações massivas foram mandadas para chamar a solidariedade dos operários de outros setores, notadamente os das fábricas Citroën e dos estaleiros, que entraram imediatamente em greve. 

Assim, como é possível perceber, o movimento estudante tem características da retomada geral atual da luta de classe. Ele assumiu de maneira magnífica uma questão chave: a solidariedade, notadamente entre gerações, mas também entre diferentes setores da classe operária.

Por que e como este movimento participará na tomada de consciência da necessidade da revolução?

 Na origem do Maio de 68, como da mobilização contra o CPE, há a crise econômica. Mas o Maio de 68 situou-se no começo da crise aberta mundial da economia capitalista. Hoje esta crise já tem quase quatro décadas, com agravantes muito fortes particularmente considerando o desemprego.

 E por conta disso que não prevalecem mais fantasias grotescas como "Abaixo a sociedade de consumo!", "Nunca trabalhem!" como em 68. Também não são mais considerados como revolucionários dignos representantes da classe burguesa como Ho Chi Min, Mao e outros.

 As preocupações e perspectivas deste movimento consideram a questão do futuro que o capitalismo reserva à sociedade. Preocupação que é igualmente partilhada com vários trabalhadores mais  velhos que se perguntam: "qual sociedade vamos deixar para nossos filhos?"

Apesar das preocupações "revolucionárias" não estarem presentes ainda de maneira significativa no movimento, este é muito mais profundo e maduro do que  o Maio de 68.

Sua natureza de classe é incontestável. Além disso, a recusa de um futuro de submissão às exigências da exploração capitalista (o desemprego, a precariedade, a arbitrariedade dos patrões, etc.) levam a uma dinâmica que, necessariamente, provocará, dentro de uma margem de participantes dos combates atuais, uma tomada de consciência  da necessidade  de derrubar do capitalismo. 

Esta tomada de consciência se desenvolverá a partir da compreensão das condições fundamentais, das quais resultam a possibilidade e a necessidade da revolução proletária:

  • crise econômica mundial insuperável,
  • o impasse histórico deste sistema,
  • a necessidade de conceber as lutas proletárias de resistência contra os ataques crescentes da burguesia como preparativos para a derrubada final do capitalismo.

Em particular, é esta tomada de consciência que lhe permitirá ultrapassar as dificuldades reais que enfrentou. Dificuldades que expressam a marca inevitável de uma primeira experiência das jovens gerações da classe operária.

Não falamos ainda muito destas dificuldades, mas elas realmente existem.

Havia muitas ilusões entre os estudantes acerca do verdadeiro papel dos sindicatos. Estas ilusões foram alimentadas e reforçadas por grupos que se pretendem revolucionários, tais como a "Liga Comunista Revolucionária" ou "Luta Operária" (trotskistas). A vontade expressa pela maioria das AG, em chamar diretamente os assalariados a entrar na luta, foi desvirtuada por estes grupos. Preconizavam chamar os sindicatos para que, por sua vez, estes últimos chamassem os operários à luta.
Foi somente uma minoria que percebeu que os sindicatos fingiram fazer chamamentos à "greve geral". Nas empresas, os panfletos sindicais chamando à greve e às manifestações chegaram, na maioria dos casos, no próprio dia ou até no dia seguinte da manifestação. Os sindicatos não chamaram para assembléias gerais, salvo nas empresas bem controladas por eles como as do gás ou da energia.

Existiram outras ilusões segundo as quais a luta de classes poderia se desenvolver no respeito das instituições burguesas, utilizando-as  a serviço da luta. Também uma grande maioria dos estudantes acha, ainda hoje, que a economia mundial pode ser mais bem gerida, se for levado a efeito um combate pacifico e democrático ao "ultraliberalismo".

 Para poder ultrapassar estas ilusões, os que participaram ao movimento têm a responsabilidade de animar lugares de discussão e reflexão, círculos, sobre estas questões essenciais.  Na realidade isso é uma responsabilidade de todo elemento avançado da classe operária.

 Anexo Maio 68 e a contra-revolução

A formidável mobilização de 9 milhões de operários em greve, paralisando o país durante várias semanas, traduziu a retomada histórica do proletariado mundial após mais de quatro décadas de contra-revolução. Para entender realmente o que significou  o Maio de 68, é necessário dar alguns elementos sobre a contra-revolução a que esta mobilização pôs fim.

 A partir do fim da Primeira Guerra Mundial, o mundo capitalista foi abalado pelo movimento revolucionário da classe operária. Este movimento havia resultado na tomada do poder pelos operários na Rússia, mas havia também afetado outros países como Alemanha, Hungria, Itália, Canadá e até a China em 1927. Infelizmente, a classe operária foi derrotada nestes demais países. Por conta de ter ficado isolada, a revolução foi derrotada na própria Rússia. O regime de Stálin havia assumido o papel de carrasco da revolução, na Rússia e nos outros países nos quais os partidos "comunistas" haviam se convertido em inimigos da classe operária e em defensores da ordem capitalista.

 Nestas condições a classe operária mundial não pôde evitar sofrer uma Segunda Guerra Mundial, ainda pior de que a primeira. E, ao contrário do que havia acontecido a partir de 1917, ela não teve a força de levantar-se contra a guerra para lhe pôr fim. A vitória da democracia não foi uma vitória da classe operária. Foi uma vitória de seu inimigo mais perigoso e hipócrita, a burguesia democrática que domina os países capitalistas mais avançados.

 Toda a importância do Maio de 68 vem justamente da ruptura que ele constituiu com esta situação: doravante a classe operária voltou a ser um ator da arena social. O Maio de 68 abriu uma dinâmica de luta de classes que se manifestou até nos ano 80, através de numerosas e importantes lutas em vários países, especialmente a greve de massa dos operários poloneses em 1980.

 Ora, esta dinâmica de luta aberta pelo Maio de 68 foi quebrada pela onda de choque constituída pelo desmoronamento do bloco do Leste, assimilado pelas campanhas da burguesia com "o fim do comunismo", "o desaparecimento da luta de classe". O movimento recente dos estudantes na França constitui uma expressão de primeiro plano da nova vitalidade do proletariado mundial que se manifesta há 3 anos e de uma capacidade aumentada da tomada de consciência.

Além disso, a retomada da luta de classe é assumida pelas gerações jovens dessa vez de novo,. Não é por acaso, pois estas não sofreram os fatores que haviam determinado os refluxos profundos da luta de classe.

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