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Os revolucionários têm sempre denunciado a mentira da "Democracia" na sociedade capitalista. Esta forma de governo onde oficialmente, o poder pertence ao "povo", e a todos os cidadãos, nunca foi outra coisa senão o instrumento do poder sem partilha da burguesia sobre as classes que ela explora.
Desde seu início, a Democracia burguesa adquiriu seus títulos de nobreza com seu sujo trabalho. Assim, a grande Democracia americana, aquela dos Washington, Jefferson e companhia, apresentada como um modelo para todas as outras, manteve a escravidão até 1864. E quando ela decidiu aboli-la, porque a exploração dos operários era mais rentável que a dos escravos, foi uma outra democracia exemplar, aquela da Inglaterra, que sustentou os Estados do Sul dos Estados Unidos que queriam perpetuar a escravidão. Durante esse mesmo período, o outro grande representante da democracia burguesa, a República francesa herdeira da revolução de 1789 e da "Declaração dos direitos do homem" se distingue pelo esmagamento da "Comuna de Paris" que, no fim de maio 1871, se concretiza com o massacre, em uma semana, de dezenas de milhares de operários.
Mas esses crimes dos regimes democráticos não são quase nada se comparados aos que eles cometeram ao longo de todo século xx.
Os crimes da democracia burguesa ao longo do século xx
Esses são de fato os governantes perfeitamente "democráticos" que constituem os principais protagonistas, com o apoio zeloso da maior parte dos partidos "socialistas", da primeira guerra mundial com que foram ceifados quase vinte milhões de seres humanos. São estes mesmos governantes, com a cumplicidade ou mesmo sob a direção dos "socialistas", que esmagaram de maneira sanguinária a onda revolucionária que tinha colocado fim à matança da guerra. Em Berlim, em janeiro 1919, pretextando uma tentativa de evasão, a soldadesca às ordens do socialista Noske se entregou a execução sumária dos dois principais dirigentes da revolução: Karl Liebknecht é assassinado com uma bala na nuca; Rosa Luxembourg com um golpe de coronha. Ao mesmo tempo, o governo social-democrata fez massacrar milhares de operários graças a 16000 metralhadoras restituídas com toda pressa pela França vitoriosa à Alemanha vencida. São essas mesmas "democracias", notadamente os Estados Unidos, a Grã-Bretanha e a França que levaram, desde 1918, um apoio sem falta às tropas tzaristas, isto é, ligadas a um dos regimes mais brutais e retrógrados da época, a fim de combater o proletariado revolucionário da Rússia.
No intervalo entre as duas guerras não iam faltar os crimes cometidos pela virtuosa "Democracia". Os massacres coloniais, entre outros, proliferaram, e foi a muito democrática Inglaterra a primeira que inaugurou em 1925, uma das atrocidades que depois ia estar jogada na cara do "sanguinário de Bagdad", Saddam Husseim: a utilização dos gases asfixiantes contra as populações Curdas. Mas, onde os democratas deram toda sua dimensão foi no decurso da segunda guerra mundial, que eles pretenderam apresentar como uma cruzada contra a ditadura e os horrores nazistas.
A propaganda dos "aliados", ao dia seguinte após guerra, era inesgotável sobre os "crimes de guerra" cometidos pelas autoridades alemãs. Ela tinha evidentemente a partida fácil: com uma ditadura policial e campos de extermínio dignos do stalinismo, o nazismo representou, como esse último, um dos pontos culminantes na barbárie engendrada pelo capitalismo decadente. Estabelecido de maneira "democrática" e parlamentar pela mesma burguesia alemã que tinha levado ao poder a social-democracia a fim de que ela esmagasse a revolução operária, criança, da contra-revolução desencadeada por esta social-democracia contra o proletariado dez anos atrás, o nazismo constituiu, notadamente com o holocausto de seis milhões de judeus, o símbolo do horror na qual a classe dominante pode se sujar quando se sentiu ameaçada. Os autores dos crimes nazistas foram passados à frente do tribunal de Nuremberg e alguns deles foram executados. Em revanche, não houve tribunal algum para julgar Churchill, Roosevelt ou Truman e do mesmo modo os militares "aliados", que foram responsáveis, entre outros, dos bombardeios sistemáticos das cidades alemãs, e particularmente dos bairros operários, fazendo de cada vez dezenas de milhares de vítimas civis. Por pertencerem ao acampamento dos vencedores, nada de tribunal por esses que têm ordenado fazer de Dresde uma imensa fogueira, matando em algumas horas 200 000 pessoas entre os dias 13 e 14 de fevereiro de 1945, enquanto a guerra já estava ganha e que esta cidade não abrigava nenhuma instalação militar, circunstância que tinha feito dela um lugar acolhedor de centenas de milhares de refugiados e feridos. É igualmente a grande democracia americana que pela primeira vez, e única vez até agora, na história, utilizou em agosto de 1945, a bomba atômica contra as cidades japonesas de Hiroshima e Nagazaki, fazendo em um segundo 75 000 e 40 000 mortos, e muito mais ainda posteriormente, depois de sofrimentos atrozes.
São esses mesmos democratas, os Churchill e os Roosevelt, que sabendo perfeitamente da exterminação de milhões de judeus pelo regime nazista, nada fizeram para salvá-los, indo mesmo até recusar categoricamente todas as proposições que foram feitas pelo governo alemão e seus aliados de libertar centenas de milhares deles.
E é com o maior cinismo que esses "humanistas" justificaram seu ato: transportar e acolher todos esses judeus, teria moderado o esforço de guerra.
Após a Segunda Guerra Mundial a "democracia"perpetua seus crimes
Após a guerra, enquanto os vencedores ostentavam em todos os lugares o estandarte da moral, da liberdade, do direito dos povos e dos direitos do homem, que eles opõem à barbaridade dos nazistas, eles não repeliram em nenhum momento a utilização dos mesmos métodos que são jogados na cara destes. Por exemplo, as represálias em massa contra a população civil, não são o monopólio dos acusados de Nuremberg, elas são o cotidiano das guerras coloniais ou neocoloniais conduzidas por diferentes países "democratas", como os Estados Unidos, "farol" do "mundo livre", ou a França, "pátria dos direitos humanos". Assim, o dia em que capitulou a Alemanha hitleriana, o 8 de maio de 1945, o governo francês, em que tomavam parte os democratas cristãos, os "socialistas" e os "comunistas", fez matar sob as bombas mais de 20000 pessoas nas cidades argelianas de Setif e Constantine cuja parte da população tinha tomado ao pé da letra os discursos desse governo sobre a "libertação nacional". Dois anos mais tarde, o mesmo governo renovou sua proeza em Madagáscar, fazendo dessa vez mais de 80 000 mortos.
Quanto à tortura utilizada pela Gestapo, quanto às "desaparições" que estão exprobadas agora aos "gorilas" da Argentina e do Chile, as mesmas autoridades francesas a praticaram durante anos na Indochina e Argélia a um ponto tal que numerosos policiais e militares ficaram desgostosos e tornaram-se demissionários. Igualmente os massacres repugnantes desencadeados pela armada americana no Vietnã estão ainda na memória: as aldeias queimadas pelo "napalm", os camponeses metralhados pêlos helicópteros, a exterminação de todos os habitantes de My Lai, mulheres, crianças e velhos incluídos, eis os altos feitos das armas dos campeões da "democracia". No fim das contas, a democracia não se distingue no fundo das outras formas de governo da burguesia. Ela não tem motivo para invejá-las quando se trata de oprimir os explorados, de massacrar as populações, de torturar os opositores, de mentir àqueles que governa. E é justamente aí onde ela se mostra superior aos regimes de ditadura aberta. Se esses últimos, se o fascismo e o stalinismo utilizam sistematicamente a mentira para governar, a democracia vai ainda mais longe: ela comete os mesmos crimes desses regimes, ela mente como eles em grande escala, tudo pretendendo fazer o contrário, enfeitando-se com os hábitos da virtude, do Direito e da Verdade, tudo organizando o espetáculo de sua própria "crítica" por pessoas "responsáveis", isto é por seus próprios defensores. Ele não é outra coisa que a folha de videira que mascara aos olhos dos explorados a ditadura implacável e sanguinária da burguesia.
E é por isso que ela representa um grande perigo para a classe operária. É por isso que hoje os operários devem recusar de se deixarem enganar pelas campanhas sobre a pretendida "vitória da democracia sobre o comunismo" como devem recusar de cair nas emboscadas das mentiras sobre a "nova ordem mundial" que seria anunciada nessa vitória.