Mais que nunca, o barbarismo militar é a única “perspectiva” que o capitalismo nos pode oferecer

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A guerra do golfo entre o Iraque e a "coalizão" dirigida pelos Estados Unidos nos tem mostrado mais uma vez o que valem os bons discursos democráticos. Mais uma vez nós podemos ver os grandes países "civilizados" atuarem: centenas de milhares de mortos no Iraque, a utilização das armas as mais mortíferas e bárbaras como as bombas "fitei air combustible" que asfixiam suas vítimas, ainda mais "eficazmente" que os gases empregados por Saddam Hussein. Nós pudemos ver como esses países "democráticos" e "avançados" provocaram em grande escala, a fome e as epidemias para os sobreviventes, destruindo sistematicamente todas as espécies de objetos civis tal como os silos para os grãos, as usinas de alimentos, as estações de tratamento de água ou os hospitais. Nós pudemos aprender, fora de tempo como as famosas imagens da "guerra limpa" mostradas até se fartar durante semanas pela mídia, às ordens da burguesia, mascaram na realidade uma guerra tão "suja" quanto às outras: os soldados que foram enterrados vivos às dezenas de milhares, os "tapetes de bombas", que a três por quatro erraram seus alvos, mas provocando um verdadeiro massacre na população da vizinhança, o assassinato de 800 pessoas num abrigo civil de Bagdad, o massacre em grande escala dos soldados em fuga ou mesmo dos civis, como sobre a rota Kwait-Bassorah, no último dia da guerra. Nós pudemos constatar também a que nível de cinismo pode chegar a burguesia "democrática" quando ela deixou o sanguinário Saddam exterminar as populações Curdas que ela tinha antes levado a se revoltar através das cliques nacionalistas; e que grau de hipocrisia ele soube demonstrar organizando em seguida, quando o massacre estava terminado, uma pretendida "ajuda humanitária".

 

As mentiras da burguesia

A Guerra do Golfo nos permitiu também verificar até que ponto são mentirosos os discursos cujos governos democráticos nos deleitam sobre a "liberdade de imprensa", sobre o "direito a informação". Durante toda a guerra, houve só uma verdade: aquela dos Estados, só um tipo de imagens: aquelas expostas pelos estados-maiores militares. A pretendida "liberdade de imprensa" apareceu pelo que ela é realmente: um simples ornamento hipócrita. Assim que as primeiras bombas foram largadas, ela abertamente cedeu lugar em todas as mídias, como em qualquer regime totalitário, a execução escrupulosa e baixa das instruções governamentais. Mais uma vez, a Democracia mostrou sua verdadeira natureza, aquela de um instrumento da ditadura sem partilha da classe dominante sobre os explorados. E, entre todas as mentiras devassas as quais temos sido impregnados, os louros pertencem àqueles que apresentam esse massacre como uma "guerra pela paz" destinada a instaurar enfim uma "nova ordem mundial próspera e pacífica".

Esta é uma mentira burguesa entre as mais odiadas e canalhas. Toda vez que o capitalismo decadente se lançou em um novo massacre imperialista, a burguesia nos cantou a mesma canção. A primeira guerra mundial, com seus vinte milhões de mortos devia ser a "derradeira": vinte anos mais tarde, a guerra esteve ainda mais abominável: cinqüenta milhões de mortos. Os vencedores dessa guerra a apresentaram como uma "vitória definitiva da civilização": as diferentes guerras que se seguiram depois fizeram tantos mortos no total, sem contar todas as calamidades que elas têm provocado, como a fome e as epidemias.

A classe operária deve se recusar a cair nesta armadilha: A guerra não pode ter um fim no capitalismo. Isso não é uma questão de "boa" ou "má" política dos governantes, não depende da "sabedoria" ou da "loucura" daqueles que dirigem o Estado. A guerra tomou-se inseparável do sistema capitalista, de um sistema baseado na concorrência entre setores diferentes do capital. Um sistema cuja falência econômica definitiva conduz a rivalidades crescentes entre estes diferentes setores, e dentre o qual a guerra comercial que se livram todas as nações só pode resultar na guerra das armas. Não podemos nos enganar: as causas econômicas que provocaram as duas guerras mundiais não têm desaparecido. Ao contrário, jamais a economia capitalista se encontrou em um impasse como esse. Tal impasse significa que o sistema capitalista já teve seu tempo, que deve ser "derrubado" como foram as sociedades que o têm precedido: a sociedade feudal e a sociedade esclavagista. A sobrevivência desse sistema é um total absurdo para a sociedade humana, um absurdo a exemplo da guerra imperialista, ela mesma que mobiliza todas as riquezas da ciência e do trabalho humano, não para levar o bem-estar à humanidade, mas ao contrário, para destruir suas riquezas, para acumular as ruínas e os cadáveres. E que não venham nos dizer que o desmoronamento do império russo, o fim da divisão do mundo em dois blocos inimigos significam o desaparecimento das guerras. Uma nova guerra mundial em que se opõem duas grandes potências e seus aliados respectivos não é, no momento, a ordem do dia. Mas o fim dos blocos, não tem posto fim às contradições do capitalismo. A crise é ainda presente. O que desapareceu é a disciplina que essas potências tinham imposto aos seus vassalos. E como os antagonismos entre nações não podem fazer nada senão exacerbar-se com o agravamento irremediável da crise, a única perspectiva não é certamente esta "nova ordem mundial" mas muito mais "desordem mundial" a cada dia mais catastrófica.

O destino do Capitalismo:cada dia mais barbárie militarista

O que se anuncia pela sociedade, é o desencadeamento dos apetites imperialistas de todos os países, pequenos e grandes, o "cada um por si" de todas as burguesias tentando por todos os meios militares, de salvaguardar seus interesses em detrimento dos outros, de disputar com eles o menor mercado mas também o menos importante pedaço de território, a menor zona de influência. Na realidade, o destino que o capitalismo propõe à humanidade é mesmo o maior caos da história. E quando a primeira potência mundial se propõe a fazer o "policiar" a fim de "preservar a ordem", a única coisa que pode fazer é desencadear uma nova desordem e uma barbárie sanguinária, como vimos no Oriente Médio no começo do ano de 1991. A cruzada dos Estados Unidos contra o Iraque se apresentava como a do "Direito", da "Lei internacional" e de "Ordem Mundial". Ela se revelou como uma expedição punitiva permitindo ao gangster mais poderoso, os Estados Unidos, fixar seu direito de destruir em detrimento de outros gangsters como Saddam Hussein, a fim de impor sua própria lei, a lei do mais forte, a lei da "máfia". A única diferença é que os gangsters clássicos se matam entre si e em pequena quantidade, enquanto esses que dirigem os Estados matam com prioridade as populações governadas por seus adversários atuais e fazem isso em grande escala. Quanto à "ordem mundial", podemos ver, desde a Guerra do Golfo, como foi "salvaguarda". No Oriente Médio mesmo, a guerra causou novas desordens como a revolta dos xiitas e dos Curdos que ameaçava a estabilidade de toda a região, do Irã, da Turquia, da Síria e do sul da URSS e cuja ameaça só pôde ser descartada pelo preço do massacre dessas populações. No resto do mundo, o caos não cessou de aumentar, como sobre o continente africano que afunda nos confrontos étnicos e nos massacres, sem contar a fome e as epidemias que essas perturbações só podem atiçar. Um caos que não perdoa mais a Europa onde a Iugoslávia se atola no fogo e no sangue, onde o brutamontes que era a URSS está conhecendo as convulsões da agonia, um golpe como nas repúblicas da banana, a sucessão da maior parte das suas repúblicas, a explosão dos nacionalismos, e se encaminha para confrontos do tipo da Iugoslávia em escala de um continente, com também dezenas de milhares de pesos atômicos que correm o risco de chegar às mãos dos setores mais irresponsáveis da burguesia, senão das máfias locais.

Enfim, as diferentes potências do velho bloco começam elas mesmas a se despedaçar. É assim que podemos ver a burguesia alemã, com a cumplicidade de sua consorciada austríaca, lançar óleo sobre o fogo na Iugoslávia em apoio aos movimentos independentes eslovenos e croatas, enquanto as outras burguesias tentaram defender a manutenção da unidade desse país. Entre os aliados de ontem, entre aqueles que, com o desmoronamento da URSS e sua potência militar, doravante não mais necessitam de cerrar fileiras, as rivalidades imperialistas, a busca ávida da menos importante zona de influência econômica, política e militar só pode conduzir a uma briga de foice cada vez mais obstinada. É bem por isso, no fim das contas, que os Estados Unidos têm infligido tais destruições ao Iraque. Este país estava longe de ser o único visado. A ostentação da potência militar americana incomparável com aquela dos países vencidos, a exibição obscena das armas as mais sofisticadas e mortais foram destinados muito para além do Iraque e de outros países de importância secundária que poderiam ter a tentação de imitar o Iraque. É no final das contas a seus próprios "aliados", esses que têm arrastado para a guerra (como a França, a Itália e a Espanha, por exemplo) ou esses que têm forçado a suportar os gastos dela (como o Japão e a Alemanha), que os Estados Unidos endereçaram fundamentalmente sua "mensagem": Cuidado, todos os que teriam a audácia de turvar a "ordem mundial", que sonhariam em recusar a relação atual das forças, isto é, no final das contas, contestar a supremacia da primeira potência mundial.

Assim, o mundo se apresenta como uma imensa briga geral onde atrás dos grandes discursos sobre a "ordem mundial", a "paz" e a "cooperação" entre as nações, a "solidariedade" e a "justiça" com os povos mais desfavorecidos, desenvolvem o "cada um por si", a exacerbação das rivalidades imperialistas, a guerra de todos contra todos, a guerra econômica e também cada vez mais a guerra das armas. E em face a esse caos sanguinário, que já está presente no mundo, mas que só vai se agravar, a manutenção da "ordem mundial" não tem outra significação que a utilização mais frequente e brutal da força militar, o desencadeamento dos massacres pelas grandes potências imperialistas, e em primeiro lugar pelo país guia da "democracia", o policial do mundo, os Estados Unidos. No fim das contas, todo esse caos que vemos se desenvolvendo atualmente, o desencadeamento dos conflitos guerreiros, o mergulho de países inteiros nos confrontos cruéis entre nacionalidades, os massacres tão bárbaros quanto absurdos, tudo isso nos revela que o mundo de hoje entrou num novo período histórico dominado por convulsões de amplidão desconhecida até agora. Em particular, a burguesia "democrática" quer nos fazer crer que o desmoronamento brutal dos regimes stalinistas, que ela nos apresenta como "comunistas", resulta unicamente do impasse em que se encontram esses regimes, da falência definitiva de sua economia.

Mais uma vez, a burguesia mente!

É certo que a forma stalinista do capitalismo de Estado era particularmente absurda, frágil e mal preparada para fazer frente à crise econômica mundial. Mas, um acontecimento histórico de uma amplitude tão grande, a explosão de todo um bloco imperialista em algumas semanas durante o outono 1989, e agora o desmembramento assim repentino de seu chefe de fileira, a URSS que era ainda, há menos de dois anos, a segunda potência mundial, revela o grau de apodrecimento atingido, não somente pelos regimes stalinistas mas mais ainda e sobretudo pelo sistema capitalista também.