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O propósito desta série é responder a uma pergunta que é feita por muitos companheiros (leitores e simpatizantes), sobretudo entre os jovens: O que são os conselhos operários? No artigo anterior desta Série [1] vimos como nasceram pela primeira vez na história ao calor da Revolução de 1905 na Rússia e como a derrota desta levou ao seu desaparecimento. Neste segundo artigo, veremos como reapareceram com a Revolução de fevereiro de 1917, e de que maneira, cederam o poder à burguesia graças à traição de antigos partidos revolucionários -mencheviques e socialistas revolucionários (SR) - que os estavam sabotando a partir de dentro, como se foram distanciando da vontade e da consciência crescente das massas operárias até o extremo de converter-se em julho de 1917 em ponto de apoio da contrarevolução [2].
Por que os sovietes desapareceram entre 1905 e 1917?
Oskar Anweiler na sua obra Os sovietes na Rússia [3] destaca como entre dezembro de 1905, momento da derrota da revolução, até 1907, houve numerosas tentativas de fazer reviver os sovietes. Em Petrogrado, na primavera de 1906, se constituiu um Conselho de desempregados que enviou delegados às fábricas agitando pela reconstituição do Soviete de tal maneira que, no verão de 1906, houve uma reunião que aglutinou 300 delegados, mas que não chegou a nenhuma conclusão dada a dificuldade para retomar a luta. O Conselho foi se descompondo ao enfraquecer cada vez mais a mobilização até seu desaparecimento total no verão (2º trimestre) de 1907. Em Moscou, Jarkov, Kiev, Poltava, Ekaterinoslav, Baku, Batum, Rostov e Kronstadt surgiram igualmente conselhos de desempregados que tiveram uma existência mais ou menos efêmera ao longo de 1906.
Em 1906-07 apareceram esporadicamente sovietes em cidades industriais do Ural. Mas foi em Moscou onde, no verão de 1906, se realizou uma tentativa mais séria de constituir sovietes. Uma greve iniciada em julho se estendeu rapidamente a numerosos centros de trabalho e imediatamente os operários elegeram delegados que em número de 150 lograram reunir-se constituindo um Comitê executivo que fez chamamento a extensão da greve e à formação de sovietes de bairros. No entanto, as condições não eram as de 1905, o governo, ao constatar que a mobilização em Moscou não encontrava eco, desatou uma forte repressão que acabou com a greve e com o recém reconstituído soviete.
Os sovietes desapareceram do cenário social até 1917. Este desaparecimento surpreende muitos companheiros que se perguntam: como é possível que os mesmos operários, que em 1905 haviam participado de forma tão entusiasta dos sovietes, os abandonaram no esquecimento? Como entender que a "forma" Conselho que havia demonstrado tanta eficácia e força em 1905 desaparecesse como um passo de mágica durante 12 anos?
Para responder a essa pergunta temos de evitar fazê-la a partir do ponto de vista da democracia burguesa que considera a sociedade como uma soma de indivíduos "livres e soberanos", tão "livres" para formar conselhos como para participar das eleições. Então. Como é possível que milhões de cidadãos que em 1905 "escolheram" constituir-se em sovietes, "escolham" renunciar a eles durante longos anos?
Semelhante ponto de vista, não pode entender que a classe operária não é uma soma de indivíduos "livres e autodeterminados", mas uma classe que somente consegue se expressar, atuar e se organizar quando, mediante a luta, impõe sua ação coletiva. Esta não é o resultado de uma soma de "decisões individuais", mas da concatenação de fatores objetivos (a degradação das condições de vida e a evolução geral da sociedade, a preocupação diante do futuro que esta depara) e subjetivos (a indignação provocada pela inquietude pelo futuro, as experiências de luta e o desenvolvimento da consciência de classe animada pela intervenção dos revolucionários). A ação e a organização da classe operária constituem um processo social, coletivo e histórico que traduz uma evolução das relações de força entre as classes.
Além do mais, esta dinâmica da luta de classes deve, por sua vez, situar-se no contexto histórico que permitiu o surgimento dos sovietes. Enquanto que no período histórico de apogeu do sistema -especialmente, durante essa "idade do ouro" que se estende entre 1873 e 1914- o proletariado pode constituir grandes organizações de massas (os sindicatos, em particular) que tinham uma existência permanente e que constituíam o requisito para levar lutas à vitória, no período histórico que se abre com a Primeira Guerra Mundial, a decadência do capitalismo, a organização geral da classe operária se constitui na luta e para a luta e desaparece com ela se não for capaz de ir até o final: até o combate revolucionário pela destruição do Estado burguês.
Em tais condições, o "ganho" que podem obter as lutas não pode refletir-se como em um livro de contabilidade, através de resultados ativos e passivos que se pode consolidar ano após ano, nem pode se refletir em uma organização de massas permanente. Pelo contrário, os "ganhos" se plasmam em fatores abstratos (consciência adquirida, enriquecimento do programa histórico proletário com as lições da luta, perspectiva para o futuro...), que se conquistam em grandes momentos de agitação para acabar desaparecendo do conhecimento imediato das amplas massas até se recuar no pequeno universo de minúsculas minorias, de maneira que pode se criara ilusão de ótica de que nunca tenha existido.
Fevereiro 1917: nascem os sovietes ao calor da luta
Assim ocorreu com os sovietes: entre 1905 e 1917 terminaram reduzidos a uma "idéia" que orientava a reflexão e os combates políticos de um punhado de militantes. Mas, ao contrário do que pensam os pragmáticos que só valorizam aquilo que se pode tocar e ver, essa "idéia" tinha uma poderosa força material. Em 1907, Trotsky escrevia: "Está fora de dúvida que a nova próxima investida da revolução trará consigo em todos os lados a criação de conselhos operários" [4]. De fato, os grandes protagonistas da Revolução de fevereiro foram os sovietes.
As minorias revolucionárias, especialmente os bolcheviques depois de 1905, defenderam e propagaram a ideia de constituir sovietes. Estas minorias mantiveram a chama da memória coletiva da classe operária. Por esta razão, quando eclodiram as greves de fevereiro que rapidamente tomaram uma grande amplitude, houve numerosas iniciativas e chamamentos para constituir sovietes. Anweiler sublinha que: "este pensamento nasceu tanto nas fábricas em greve como também nos círculos intelectuais revolucionários. Testemunhos presenciais informam que em algumas fábricas desde 24 de fevereiro eram eleitos homens de confiança para um soviete que estava se organizando" [5].
Quer dizer, a ideia que durante longo tempo esteve reduzida a pequenas minorias foi amplamente assumida na prática pelas massas em luta.
Por outro lado, o Partido bolchevique contribuiu significativamente para o surgimento dos sovietes. Esta contribuição não se baseou em um esquema organizativo prévio ou em impor uma cadeia de organizações intermediárias que ao fim desembocaria na formação de sovietes, mas em algo muito diferente, como veremos, vinculado a um ferrenho embate político.
No inverno de 1915, quando começaram a surgir algumas greves, sobretudo em Petrogrado, a burguesia liberal havia concebido um meio de atrelar os operários à produção de guerra mediante a proposta de eleições nas empresas para formar um "Grupo Operário" dentro dos Comitês industriais de guerra. Os mencheviques propuseram a participação e obtiveram uma ampla maioria, trataram de utilizar o "Grupo Operário" como um canal para apresentar reivindicações. Ou seja: reivindicavam uma "organização operária" totalmente vendida ao esforço de guerra, como já estavam os sindicatos em outros países europeus.
Os bolcheviques se opuseram a essas propostas. Lênin, em outubro de 1915, disse: "estamos contra a participação nos comitês industriais de guerra que ajudam a levar a guerra imperialista reacionária" [6]. Os bolcheviques chamavam à eleição de comitês de greve e o comitê do partido de Petrogrado propôs que: "os representantes das fábricas, eleitos baseados no sistema representativo proporcional em todas cidades, devem formar o Soviete de Deputados de toda Rússia" [7].
Em um primeiro momento, os mencheviques com sua política de eleições ao Grupo Operário controlaram ferrenhamente a situação. As greves que aconteceram no inverno de 1915 e as muito mais numerosas que eclodiram na segunda metade de 1916 permaneceram sob a égide do Grupo Operário menchevique, embora aqui ou acolá se formassem efêmeros comitês de greve. Todavia, a semente acabou frutificando em fevereiro de 1917.
A primeira tentativa de constituir um Soviete se realizou em Petrogrado em uma reunião improvisada celebrada no palácio Táuride em 27 de fevereiro. Os participantes não eram representativos; havia membros do partido menchevique e do Grupo Operário junto com alguns representantes bolcheviques e elementos independentes. Ali surgiu um debate muito significativo que colocava em jogo duas opções totalmente opostas: os mencheviques pretendiam que a reunião se autoproclamasse "Comitê provisório do Soviete", o bolchevique Chliapnikov... "(...) se opôs fazendo notar que isso não podia ser feito na ausência de representantes eleitos pelos operários. Pediu que os convocassem urgentemente e a assembléia lhe deu razão. Decidiu-se acabar a sessão e lançar convocatórias aos principais centros operários e os regimentos que se levantaram" [8].
A proposta teve efeitos fulminantes. Na mesma noite de 27, começou a circular por numerosos bairros, fábricas e quartéis. Operários e soldados estavam em alerta acompanhando muito de perto o desenrolar dos acontecimentos. No dia seguinte ocorreram numerosas assembléias nas fábricas e nos quartéis, uma após outra a decisão era a mesma: constituir um soviete e eleger um delegado. Pela tarde, o palácio Táuride estava lotado de delegados de operários e soldados. Sukhanov, nas suas Memórias [9], descreve a reunião que ia tomar a decisão histórica de constituir o Soviete: "no momento de iniciar a sessão havia uns 250 deputados, porém novos grupos entravam sem cessar no salão" [10], fala da eleição da presidência da reunião e de como ao eleger a ordem do dia, a sessão foi interrompida por diferentes delegados dos soldados que queriam transmitir as mensagens das suas respectivas assembléias de regimento. Resume uma delas: "Os oficiais desapareceram. Não queremos servir mais contra o povo, nos associaremos a nossos irmãos os operários, todos unidos para defender a causa do povo. Daremos nossas vidas por isso. Nossa assembléia geral pediu-nos que os saudemos". Ao que acrescenta Sukhanov: "e com uma voz sufocada pela emoção, entre as ovações da assembléia estremecida, o delegado acrescentou: Viva a Revolução!" [11]. A reunião constantemente interrompida pela chegada de novos delegados que queriam transmitir a posição dos seus representados, foi abordando sucessivamente as questões: a constituição de milícias nas fábricas, a proteção contra saques e contra ações das forças czaristas. Um delegado propôs a criação de uma "Comissão literária" que redigisse um chamamento dirigido a todo o país, a qual foi aprovada por unanimidade [12]. A chegada de um delegado do regimento de Semionofsky - famoso por sua fidelidade ao Czar e seu papel repressivo em 1905 - provocou uma nova interrupção. O delegado proclamou: "Camaradas e irmãos, vos trago a saudação de todos os homens do regimento Semionofsky. Todos até o último decidimos unirmos ao povo". Isso criou.. "... uma corrente de entusiasmo romântico que envolveu toda a assembléia" [13]. A assembléia organizou um "estado maior da insurreição" ocupando todos os pontos estratégicos de Petrogrado.
A assembléia do soviete não aconteceu no vazio. As massas estavam mobilizadas. Sukhanov assinala o ambiente que rodeava a sessão: "A multidão era muito compacta, dezenas de milhares de homens vieram saudar a revolução. Os salões do palácio não tinha sido capaz de conter mais pessoas e, nas portas, os cordões da Comissão Militar conseguiam conter a uma multidão mais numerosa ainda" [14].
Março 1917: toda Rússia ocupada por uma enorme rede de sovietes
Em 24 horas o Soviete era dono da situação. O triunfo da insurreição em Petrogrado provocou a extensão da revolução a todo país. "A rede de Conselhos operários e de soldados em toda Rússia formava a coluna vertebral da revolução. Com sua ajuda a revolução havia se estendido como uma trepadeira por todo o país" [15].
Como ganhou forma essa enorme "trepadeira" que imediatamente ocupou todo o território russo? Existem diferenças entre a formação dos Sovietes em 1905 e em 1917. Em 1905, a greve eclodiu em janeiro e as sucessivas ondas de greve não deram lugar a nenhuma organização massiva salvo algumas exceções. Os sovietes começaram a constituir-se tardiamente, em outubro. Em contrapartida, em 1917, a luta mesma criou os sovietes desde o próprio início. Os chamamentos de 28 de fevereiro do Soviete de Petrogrado caíram em solo fértil. A espantosa rapidez com que se formou em menos de 24 horas já revela de per si que a vontade de amplas camadas de operários e soldados era a constituição do Soviete.
As assembléias eram cotidianas. E não se limitavam a eleger o delegado para o Soviete. Frequentemente o acompanhavam ao local da reunião geral em comitiva massiva. Por outro lado, formavam-se paralelamente sovietes de bairro. O próprio soviete havia lançado um chamamento a constituí-los, porém nesse mesmo dia os operários do combativo bairro de Vyborg, uma concentração proletária nos arredores de Petersburgo, haviam se adiantado formando um soviete de distrito e lançando um combativo chamamento a constituí-los por todo o país. Seu exemplo foi imitado nos dias seguintes por outros bairros populares.
Do mesmo modo, as assembléias nas fábricas formaram imediatamente conselhos de fábrica. Estes, embora surgidos para necessidades reivindicativas e de organização interna do trabalho, não se restringiam a isso e estavam fortemente politizados. Anweiler reconhece que: "Os conselhos de fábrica adquiriram no transcurso do tempo uma sólida organização em São Petersburgo o que em certa medida representava uma concorrência a respeito ao Conselho de deputados operários. Associaram-se aos conselhos de rayon (bairros), cujos representantes elegiam um Conselho central com um comitê executivo à frente. Dado que abarcavam aos trabalhadores diretamente no seu local de trabalho, cresceu seu papel revolucionário na mesma medida em que o Soviete [de São Petersburgo] se convertia em uma instituição duradoura e começava a perder seu estreito contato com as massas"[16].
A formação de Sovietes se extendeu como um rastro de pólvora por toda Rússia. Em Moscou, "em 10 de março tiveram lugar as votações para a eleição de delegados nas fábricas e o Soviete celebrou sua primeira sessão elegendo um Comitê Executivo de 30 membros. No dia seguinte, formou-se o Conselho definitivamente; foram fixadas normas de representatividade, votaram-se em delegados para o Soviete de Petrogrado e se aprovou a formação do novo governo provisório (...) A marcha triunfal da revolução que se propagou de São Petersburgo a toda Rússia estava acompanhada de uma onda revolucionária de atividade organizativa em todas as camadas sociais que encontrou sua mais forte expressão na formação de Sovietes em todas as cidades do Império, desde a Finlândia até o oceano Pacífico" [17].
Embora se ocupassem de assuntos locais, sua principal preocupação eram problemas gerais: a guerra mundial, o caos econômico, a extensão da revolução a outros países e tomaram medidas para concretizá-la. Há de se destacar que o esforço de centralizar os sovietes veio fundamentalmente "de baixo" e não a partir de cima. Citamos anteriormente como o Soviete de Moscou decidiu enviar delegados ao Soviete de São Petersburgo, considerado de maneira natural como o centro de todo o movimento. Anweiler assinala que: "os conselhos de operários e soldados de outras cidades mandavam os seus delegados a São Petersburgo ou mantinham observadores constantes no soviete"[18]. Desde meados de março surgiram iniciativas de congressos regionais de sovietes. Em Moscou aconteceu uma conferência dessa índole entre 25-27 de março com participação de 70 conselhos operários e 38 de soldados. Na bacia do Donets em uma conferência similar se juntaram 48 sovietes. Tudo isso culminou com a celebração de uma primeira tentativa de Congresso de sovietes de toda Rússia que ocorreu de 29 de março a 3 de abril e que reuniu delegados de 480 sovietes.
O "vírus organizativo" contagiou os soldados que, fartos da guerra, desertavam dos campos de batalha, se amotinavam, expulsavam os oficiais e decidiam voltar para casa. Diferente de 1905 onde apenas houve sovietes de soldados, agora esses proliferavam em regimentos, encouraçados, bases navais, arsenais... Os soldados constituíam um conglomerado de classes sociais sendo principalmente camponeses e em menor medida operários. No entanto, apesar da heterogeneidade reinante, uniram-se majoritariamente ao proletariado. Como assinala um historiador e economista burguês Tugan-Baranovski: "Não foi o exército quem desencadeou a insurreição, foram os operários. Não foram os generais, mas soldados que se dirigiram à Duma [19] do Império. E os soldados apoiaram os operários não por obtemperar docilmente às ordens dos seus oficiais, mas... porque eles sentiam-se aparentados pelo sangue aos operários, como classe trabalhadora, como eles próprios." [20] .
A organização soviética ganhou lentamente o campo até se fazer mais ampla a partir de maio de 1917, onde a formação de Sovietes Camponeses começou a agitar as massas habituadas a serem tratadas como bestas durante séculos. Era também uma diferença fundamental a respeito de 1905 onde se havia dado alguns levantes camponeses totalmente desorganizados;
Que toda Rússia se visse coberta por uma gigantesca rede de Conselhos é um fato histórico de enorme transcendência. Como assinala Trotsky: "Se olharmos para os séculos passados, a passagem do poder para as mãos da burguesia parece seguir uma regra definida: em todas as revoluções precedentes, nas barricadas lutavam operários, pequenos camponeses, pequenos artesãos, certo número de estudantes; os soldados tomavam partido; a seguir, a burguesia bem abastecida, que tinha prudentemente observado os combates de barricadas pela janela, recolhia o poder." [21] ,porém desta vez não foi assim, as massas deixaram de "trabalhar para os outros" e se dispuseram trabalhar para si mesma através dos conselhos. Seu trabalho ocupava todos os assuntos da vida econômica, política, social e cultural.
As massas operárias estavam mobilizadas. A expressão dessa mobilização era os sovietes e, ao redor deles, uma imensa rede de organizações do tipo soviético (conselhos de bairros e conselhos de fábrica), rede que se nutria, ao mesmo tempo que impulsionava, de uma impressionante multiplicação de assembléias, reuniões, debates, atividades culturais... Operários, soldados, mulheres, jovens, se entregavam a uma atividade fervorosa. Viviam em uma espécie de assembléia permanente. Interrompia-se o trabalho para assistir a assembléia da fábrica, ao soviete da cidade ou de bairro, a concentrações, comícios, manifestações. É significativo que após a greve de fevereiro apenas houve greves em momentos muito determinados ou em situações pontuais ou locais. Contrariamente a uma visão restritiva, a ausência de greves não significava desmobilização. Os operários estavam em luta permanente, mas a luta de classes, como dizia Engels, constitui a unidade que forma a luta econômica, a luta política e a luta ideológica. E as massas operárias estavam entregues simultaneamente a essas três dimensões do seu combate. Ações massivas, manifestações, concentrações, debates, circulação de livros e jornais, as massas operárias russas, haviam tomado em suas mãos seu próprio destino e encontravam no seu interior reservas inesgotáveis de pensamento, iniciativas, investigação, tudo era abordado sem descanso em amplos fóruns profundamente coletivos.
Abril 1917: o combate por "Todo o poder aos Sovietes"
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"O Soviete se apoderou de todas as agências de correios e telégrafos, da rádio, de todas as estações de trem, de todas as gráficas, de modo que sem a sua autorização era impossível expedir um telegrama, sair de São Petersburgo ou escrever um manifesto", reconheceu em suas memórias um deputado pertencente ao partido Cadete [22]. No entanto, como assinala Trotsky, desde fevereiro aconteceu um tremendo paradoxo: o poder dos sovietes tinha sido generosamente entregue à burguesia pela maioria que o dominava composta de mencheviques e social-revolucionários, que haviam quase obrigado à burguesia a formar um Governo provisório [23], presidido por um príncipe czarista e composto por ricos industriais, políticos cadetes e como adorno, o "socialista" Kerenski [24].
O Governo provisório, camuflado por trás dos sovietes, continuava sua política de guerra e não se preocupava em resolver os graves problemas que afligiam os operários e camponeses. Isto conduzia os sovietes à inoperância e ao desaparecimento, como pode se constatar através das declarações de dirigentes social-revolucionários: "Os sovietes não representam nenhum governo frente à Assembléia constituinte nem muito menos estão ao mesmo nível que o Governo provisório. São conselheiros do povo na sua luta e são conscientes que representam somente uma parte do país e só gozam da confiança daquelas massas populares por cujos interesses lutam. Por isso os sovietes têm evitado sempre tomar o poder nas suas próprias mãos e constituir um governo" [25].
Um setor da classe operária começou a tomar consciência desta armadilha já desde os primeiros dias de março. Houve acalorados debates em alguns sovietes, conselhos de bairro e comitês de fábrica sobre a "questão do poder". Porém nesse momento a vanguarda bolchevique recuava, pois seu Comitê Central [26] havia adotado uma resolução de apoio crítico ao Governo provisório apesar da forte oposição que provocou em diferentes secções do partido [27].
O debate se intensificou em março. "O comité de Vyborg juntou numa reunião política milhares de operários e de soldados que, quase unanimemente, adoptaram uma resolução sobre a necessidade da tomada do poder pelo Soviete. O comité de Vyborg celebrava comícios com milhares de operários e soldados, nos quais se votava, quase por unanimidade, resoluções que faziam ressaltar a necessidade de que o Soviete tomasse o poder. [...] A resolução de Vyborg, por causa do seu sucesso, foi imprimida e colada em cartazes. Mas o comitê de Petrogrado proibiu essa resolução " [28].
A chegada de Lênin em abril transformou radicalmente a situação. Lênin, que desde seu exílio suíço via com inquietude as notícias que chegavam fragmentadas da vergonhosa conduta do Comitê Central do Partido bolchevique, havia chegado às mesmas conclusões que o Comitê de Vyborg. Nas suas Teses de Abril formulou claramente que: "A peculiaridade do momento atual na Rússia consiste na transição da primeira etapa da revolução, que deu o poder à burguesia por faltar ao proletariado o grau necessário de consciência e organização, para a sua segunda etapa, que deve colocar o poder nas mãos do proletariado e das camadas pobres do campesinato." [29] . [Fonte: https://www.marxists.org/portugues/lenin/1917/04/04_teses.htm]
Muitos autores não enxergam esta intervenção decisiva de Lênin como uma manifestação clara do papel de vanguarda do partido revolucionário e de seus militantes mais destacados, mas que, pelo contrário, a consideram um ato de oportunismo político. Segundo eles, Lênin aproveitou a ocasião de utilizar os sovietes como plataforma para conquistar "o poder absoluto" e trocou a jaqueta de "ferrenho jacobino" pela roupagem anarquista do "poder direto das massas". De fato, um antigo membro do partido lhe alfinetou: "Durante muitos anos, o lugar de Bakunine na revolução russa ficou livre: agora, ele foi tomado por Lênin." [30].
Esta lenda é radicalmente falsa. A confiança de Lênin no papel dos Sovietes vinha de longe, extraía das lições que havia tirado da Revolução de 1905, em um projeto de resolução que propôs ao IVº Congresso do Partido (abril 1906) escreveu que: "À medida que os conselhos operários representam núcleos do poder revolucionário, sua força e significado dependem totalmente da força e da vitória do levante", para acrescentar em seguida que: "este tipo de organizações está condenada ao fracasso, se não se apóiam no exército revolucionário e derrotem os poderes estatais (quer dizer, se convertem em um governo provisório revolucionário)" [31].
Em 1915 voltava a insistir na mesma idéia: "Conselhos de delegados operários e instituições parecidas devem ser considerados como órgãos de insurreição, como órgãos de poder revolucionário. Estas instituições somente podem ser de interesse seguro em relação ao surgimento da greve massiva política" [32].
Junho-julho 1917: a crise dos Sovietes
Lênin, no entanto, era consciente de que o combate não tinha feito mais do que começar: "Somente lutando contra esta inconsciência confiante (e pode-se e deve-se lutar contra ela apenas ideologicamente, pela persuasão fraternal, apontando para a experiência da vida) podemos libertar-nos do desencadeamento de frases revolucionárias reinantes e impulsionar verdadeiramente tanto a consciência do proletariado como a consciência das massas, como a sua iniciativa audaz e resoluta à escala local" [33]. Isso se comprovou amargamente no primeiro Congresso dos sovietes de toda Rússia. Convocado para unificar e centralizar a rede dos diferentes tipos de sovietes espalhados por todo o território, adotou resoluções que não só iam contra a revolução, mas presumia-se um golpe moral nos próprios sovietes. Nos meses de junho e julho salta à plena luz um grave problema político: a crise dos sovietes, seu afastamento da revolução e das massas.
A situação geral era de completo desajuste: fechamento de indústrias e aumento considerável do desemprego, paralisia dos transportes, perda de colheitas no campo, racionamento geral. E no exército se multiplicavam as deserções e as tentativas de confraternização com os soldados da frente inimiga. O bando imperialista da Entente (França, Inglaterra e agora Estados Unidos) pressionava o Governo provisório para que empreendesse uma ofensiva geral contra as frentes alemãs. Complacentes com essas pressões, os delegados mencheviques e social-revolucionários fizeram o Congresso dos sovietes adotar uma resolução em apoio à ofensiva militar embora uma importante minoria -não só bolcheviques- estivesse contra. O Congresso rechaçou uma proposta de aprovação da jornada de trabalho de 8 horas e jogou abaixo propostas favoráveis aos camponeses. Em lugar de ser expressão da luta revolucionária se convertia em porta voz do combate da burguesia contra o ascenso da revolução.
O conhecimento das sucessivas resoluções do Congresso -especialmente a que aprovava a ofensiva guerreira- provocou uma profunda decepção nas massas. Percebiam que seu órgão escapava-lhes das mãos, porém começaram a reagir. Sovietes de bairro de São Peterburgo, o Soviet da vizinha cidade marítima de Kronstadt e diversos conselhos de fábrica e comitês de vários regimentos propuseram uma grande manifestação em 10 de junho cujo objetivo era pressionar o Congresso para que mudasse sua política e se orientasse para a tomada completa do poder expulsando os ministros capitalistas.
A resposta do Congresso foi proibir temporariamente as manifestações argüindo o "perigo" de um "complô monárquico". Os delegados do Congresso foram mobilizados para se dirigirem às fábricas e regimentos para "convencer" os operários e soldados. O depoimento de um delegado menchevique publicado em Izvestia, órgão do Soviete de Moscou, é eloqüente: "Durante toda a noite, a maioria do Congresso, mais de quinhentos dos seus membros, sem pregar olho, por equipas de dez, percorreram as fábricas, as oficinas e os quartéis de Petrogrado, exortando os homens a absterem-se de manifestar. O Congresso, num bom número de fábricas e de oficinas e também numa certa parte da guarnição, não gozou de qualquer autoridade ... Os membros do Congresso foram acolhidos muitas vezes de maneira pouco amistosa, por vezes mesmo com hostilidade, e frequentemente foram repelidos colericamente." [34].
A frente burguesa compreendeu a necessidade de salvar seu trunfo principal -o sequestro dos sovietes- contra a primeira tentativa séria das massas por recuperá-los. Mas o fez - com seu maquiavelismo congênito - utilizando como bode expiatório os bolcheviques, contra os quais lançou uma furiosa campanha. No congresso de cossacos que se celebrava ao mesmo tempo que o Congresso dos sovietes, Miliukov designava: "os bolcheviques como os piores inimigos da revolução russa." (...) "É tempo de acabar com esses senhores.". [35] O Congresso cossaco decidiu: "apoiar os sovietes ameaçados. Nós cossacos jamais nos separaremos dos sovietes". A principal força repressiva do czarismo cerrava fileiras com os sovietes! Como disse Trotsky: "Contra os bolcheviques, os reaccionários estavam prontos a marchar mesmo com o Soviete para melhor o abafar a seguir" [36]. O menchevique Liber traçou claramente o objetivo quando disse no Congresso: "se queres que a massa que está com os bolcheviques os siga, rompam com o bolchevismo".
A violenta contraofensiva burguesa aconteceu numa situação em que as massas, no seu conjunto, eram ainda politicamente débeis. Os bolcheviques compreenderam e propuseram o cancelamento da manifestação de 10 de junho, o qual foi aceito com relutância em alguns regimentos e nas fábricas mais combativas.
Ao chegar a notícia ao Congresso dos sovietes, um delegado propôs que se realizasse a manifestação "verdadeiramente soviética" para o 18 de junho. Miliukov analisa assim essa convocatória: "Depois de pronunciar no Congresso dos sovietes discursos de tom liberal, depois de ter impedido a manifestação armada de 10 de junho, os ministros socialistas tiveram a sensação de que tinham, ido demasiado longe na sua aproximação ao nosso campo. Se assustaram e deram uma viragem para os bolcheviques". Trotsky o corrige justamente: "Não era precisamente uma viragem para os bolcheviques, mas algo muito distinto: uma tentativa de viragem para as massas contra o bolchevismo" [37].
Porém o tiro saiu pela culatra. Os operários participaram massivamente na manifestação de 18 de junho, com cartazes que exigiam todo poder aos sovietes, reclamando a saída de todos os ministros capitalistas, o fim da guerra, chamamento à solidariedade internacional... Os manifestantes seguiam massivamente as orientações bolcheviques e reivindicavam tudo ao contrário do que foi pedido pelo Congresso
A situação continuou se agravando. A burguesia russa, assessorado por seus aliados da Entente, encontrava-se metida em um beco sem saída. A famosa ofensiva militar estava se tornando um fiasco. Os operários e os soldados queriam uma mudança radical da política dos sovietes. Mas nas províncias a situação não estava tão clara e no campo, apesar da progressiva radicalização, a grande maioria estava com os socialistas revolucionários e com o Governo provisório.
Era o momento para a burguesia de perpetrar uma emboscada para as massas de São Petersburgo para levá-las a um enfrentamento prematuro que permitisse assentar um duro golpe na vanguarda do movimento e desta forma abrir as portas a contrarrevolução.
As forças burguesas estavam se reorganizando. Tinha se formado um "soviete de oficiais" cuja missão era organizar forças de elite para abater militarmente a revolução. Alentada pelas democracias ocidentais, as centúrias negras czaristas voltavam a levantar a cabeça. A velha Duma funcionava - segundo palavras de Lênin - como uma fábrica contrarrevolucionária sem que os líderes social-traidores dos sovietes lhe pusessem nenhum obstáculo.
Uma série de hábeis provocações foi tecida para jogar os operários de São Petersburgo na armadilha de uma insurreição prematura. Por um lado, o partido cadete retirou seus ministros do Governo provisório de tal forma que este ficou unicamente composto por "socialistas". Era uma forma de convidar aos operários que reivindicassem a tomada imediata do poder e se lançassem, portanto, à insurreição. A Entente colocou um claro ultimato ao Governo provisório no sentido de "eleger": os sovietes ou um governo constitucional. No entanto, a mais violenta provocação foi a ameaça de deslocar os regimentos mais combativos da capital para as regiões fronteiriças.
Quantidades numerosas de trabalhadores e soldados de Petersburgo morderam o anzol. A partir de vários sovietes de bairro, de fábrica e de regimento convocaram uma manifestação armada para o dia 4 de julho. O eixo da manifestação era a tomada do poder pelos sovietes. Isso mostrava como os operários compreendiam que não havia mais saída a não ser a revolução. Porém, ao mesmo tempo, pretendiam que os encarregados de exercer o poder fossem os sovietes tal e como estavam constituídos na ocasião: com a maioria de mencheviques e socialistas revolucionários cuja única preocupação era mantê-los submetido à burguesia. Produziu-se um cenário muito conhecido: um velho operário desafiando a um membro menchevique do Soviete: "por que não tomais o poder de uma vez?", uma cena significativa das ilusões persistentes no seio da classe operária. Era como pedir à raposa que cuidasse do galinheiro, tudo isso mostrava a insuficiência na consciência das massas e as ilusões que ainda as debilitava. Os bolcheviques não morderam a isca e alertaram da armadilha em curso. Entretanto, não o fizeram desde uma posição de suficiência, colocados em um pedestal a partir do qual dizer às massas o quanto estavam equivocadas. O que fizeram foi colocarem-se à frente da manifestação, estar com os operários e soldados, contribuir com todas suas forças para que a resposta massiva fosse firme, mas não se dirigisse para um confronto decisivo onde a derrota estava mais que garantida [38].
A manifestação se recolheu ordenadamente e não se lançou ao assalto revolucionário. O massacre foi evitado resultando em um triunfo das massas frente ao futuro. Porém a nível imediato, a burguesia não podia retroceder, tinha que apostar fortemente na via da contraofensiva. O Governo provisório, inteiramente constituído por ministros "operários", desencadeou uma brutal repressão ocupando-se especialmente dos bolcheviques. O partido foi declarado fora da lei, numerosos militantes aprisionados, toda sua imprensa fechada, Lênin teve de passar para a clandestinidade.
Graças a um esforço difícil e heróico, o Partido bolchevique contribuiu decisivamente para evitar a derrota das massas, da sua dispersão e da ameaça de debandada por causa da sua desorganização. O Soviete de São Petersburgo, em contrapartida, apoiado pelo Comitê executivo eleito no recente congresso soviético, se colocou claramente ao lado do Governo provisório. Avalizou a repressão e a perseguição de operários combativos. Adotou, uma após outra, resoluções repressivas. O Soviete havia chegado ao máximo da sua ignomínia.
Como a burguesia pôde desviar os sovietes?
A organização das massas em conselhos operários desde fevereiro de 1917 significou, para elas, a possibilidade de desenvolver sua força, sua organização e sua consciência para o assalto final contra o poder da burguesia. O período seguinte, chamado o período de dualidade de poder entre o proletariado e burguesia, foi uma fase crítica para as duas classes antagônicas que podia ter desembocado, tanto para uma como para outra, em uma vitória política e militar sobre a classe inimiga.
Durante todo esse período, o nível de consciência das massas, débil ainda em comparação com as necessidades de uma revolução proletária, era uma brecha que a burguesia tentaria utilizar para fazer abortar o processo revolucionário em gestação. Para isso dispunha de uma arma tão perigosa quanto prejudicial. A da sabotagem a partir de dentro, realizado por forças burguesas com cara "operária" e "radical". Esse cavalo de Tróia da contrarrevolução era formado naquele tempo, na Rússia, pelos partidos "socialistas" Menchevique e o SR.
No início, muitos operários alimentavam ilusões com relação ao Governo provisório, vendo-o como uma emanação dos sovietes, quando era, na realidade, seu pior inimigo. Quanto aos mencheviques e socialistas revolucionários, dispuseram de uma grande confiança entre as grandes massas, as quais conseguiram enganar com seus discursos radicais, sua fraseologia revolucionária. Isso lhes permitiu dominar politicamente a grande maioria dos sovietes. Graças a essa posição de força se dedicaram a esvaziá-los da sua substância revolucionária para colocá-los a serviço da burguesia. E se não lograram êxito foi porque as massas mobilizadas permanentemente, faziam sua própria experiência, o que as levou, com o apoio do Partido bolchevique, a derrubarem a máscara dos mencheviques e socialistas revolucionários na medida em que esses iam assumindo cada dia mais as orientações do Governo provisório sobre questões tão fundamentais como a guerra e as condições de vida.
No próximo artigo veremos como desde o fim de agosto de 1917, os sovietes conseguiram renovar-se e converter-se realmente em plataforma para a tomada do poder, o que culminou no triunfo da Revolução de outubro.
C.Mir 08-03-10
[1] Ver: https://pt.internationalism.org/ICConline/2010/O_que_sao_os-Conselhos_Operários
[2] Tanto para conhecer em detalhes de como se desenvolveu a revolução russa como para ver o papel decisivo desempenhado pelo partido bolchevique existe muito material. Destacamos: A História da Revolução Russa de Trotsky (2 volumes), Dez dias que abalaram o mundo de John Reed, nosso folheto sobre a Revolução Russa (Outubro de 1917) e diferentes artigos da nossa Revista Internacional, nºs 71, 72, 89, 90 e 91
[3] Este autor é altamente anti-bolchevique, mas narra de maneira fidedigna os fatos e reconhece com equanimidade os aportes bolcheviques, o que contrasta com os juízos sectários e dogmáticos que, de vez em quando, ele aplica.
[4] Citado por Oskar Anweiler, Los sovietes en Rusia, p. 96. Tradução nossa.
[5] Ibidem, p. 110.
[6] Ibid., p. 105.
[7] Ibid., p. 106.
[8] Gerald Walter, Vision d'ensemble de la Révolution russe (Visão do conjunto da Revolução Russa), p. 83, edição francesa, tradução nossa.
[9] Publicadas em 1922 em 7 volumes, dão o ponto de vista de um socialista independente, colaborador de Gorki e dos mencheviques internacionalistas de Martov. Embora esteve em discordância com os bolcheviques apoiou a Revolução de Outubro. Esta citação e as seguintes correspondem ao compêndio das Memórias publicadas em espanhol. Tradução nossa.
[10] Segundo Anweiler, op. cit., havia uns mil delegados no final de sessão e, nas sessões seguintes, chegou a ter 3000.
[11] Ibid., p. 54.
[12] Esta comissão proporia a edição permanente de um periódico do Soviete, Izvestia (Notícias) que apareceria regularmente a partir de então.
[13] Citado por Anweiler, op. cit.
[14] Ibid., p. 56.
[15] Ibid., p. 124
[16] Ibid., p. 133.
[17] Ibid., p. 121.
[18] Ibid., p. 129
[19] Duma: Câmara de Deputados na Rússia.
[20] Citado por Trotsky na História da Revolução Russa. Fonte:: https://www.marxists.org/portugues/trotsky/1930/historia/cap08.htm
[21] Trotsky, op. cit..Fonte: https://www.marxists.org/portugues/trotsky/1930/historia/cap09.htm.
[22] Partido Constitucional Democrata (KD), ou Cadete, era o partido da grande burguesia constituído apressadamente em 1905. Seu chefe foi Miliukov, eminência parda da burguesia russa à época.
[23] Trotsky relata como a burguesia estava atada à paralisia e como os chefes mencheviques utilizaram seu controle sobre os sovietes para lhe entregar o poder incondicionalmente de tal maneira que Miliukov "não se preocupava em dissimular sua satisfação e sua agradável surpresa"(Memórias de Sukhanov),).
[24] Este advogado, muito popular nos círculos operários de antes da Revolução, terminou sendo nomeado chefe do Governo Provisório, dirigindo as diferentes tentativas para acabar com os operários. Suas intenções são reveladas pelas memórias do embaixador inglês da época: "Kerenski me pediu paciência assegurando-me que os sovietes acabariam morrendo de morte natural. Pouco a pouco iriam cedendo suas funções aos órgãos democráticos de administração autônoma".
[25] Citado por Anweiler, op. cit., p. 151.
[26] Era constituído por Stálin, Kamenev e Molotov. Lênin continuava exilado na Suíça e só tinha meios de contatar com o partido.
[27] Em uma reunião do Comitê do Partido de São Petersburgo, celebrada em 5 de março, o seguinte projeto de Resolução apresentado por Chliapnikov foi derrotado: "A tarefa do momento é formar um Governo provisório revolucionário que nasça da união dos conselhos de operários, soldados e camponeses. Como preparação para a completa conquista do poder central é imprescindível consolidar o poder dos conselhos de operários e soldados;" (Citado por Anweiler, op Cit., P. 156)
[28] Trotsky, op. cit., Fonte: https://www.marxists.org/portugues/trotsky/1930/historia/cap15.htm
[29] Nesse artigo não podemos abordar o conteúdo dessas Teses que são muito interessantes. Para tanto veja: "As teses de abril, farol da revolução proletária" (Fonte: https://pt.internationalism.org/ICCOline/2007/revolucao_mundial_teses_ab...)
[30] Trotsky, op. cit. Fonte: https://www.marxists.org/portugues/trotsky/1930/historia/cap15.htm
[31] Citado por Anweiler, op. cit., p. 88.
[32] Ibid., p. 92.
[33] Lênin, As Tarefas do Proletariado na Nossa Revolução (Projecto de Plataforma do Partido Proletário. Fonte: https://www.marxists.org/portugues/lenin/1917/04/23.htm
[34] Citado por Trotsky em História da Revolução Russa.Fonte: https://www.marxists.org/portugues/trotsky/1930/historia/cap22.htm
[35] É prova do cinismo típico da burguesia que seu chefe de então na Rússia fale em nome da "Revolução Russa"!
[36] Trotsky, op. cit. Fonte: https://www.marxists.org/portugues/trotsky/1930/historia/cap22.htm
[37] Ambas citações estão na página 412 do volumem I da História da Revolução Russa.
[38] Para uma análise mais detalhada deste episódio, remetemos ao leitor ao capítulo "As jornadas de Julho - O partido faz abortar uma provocação da burguesia" da nossa brochura Outubro de 1917: https://pt.internationalism.org/ICCOline/2007/revolucao_russe_partitdo.htm .