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"A burguesia conseguia superar as crises cíclicas do capitalismo. Com que mecanismos consegue agora controlar o aprofundamento da sua crise insuperável?"
O capitalismo de Estado é a resposta do capitalismo à irrupção de contradições insuperáveis que o assaltam com a entrada em sua fase de decadência, em três aspectos: o da guerra, o da luta de classes e o da crise. A crise de 1929 impõe à burguesia voltar a implementar as medidas de capitalismo de Estado que tinham sido bastante abandonadas, assim que acabou a Primeira guerra mundial. Essas medidas só fizeram se intensificar ao longo dos anos 30, em particular com as medidas keynesianas de injeção maciça de capital por parte dos Estados nas economias nacionais, medidas que se concretizaram em particular com as grandes obras públicas e com o desenvolvimento da indústria de armamentos em preparação da Segunda guerra mundial. Prosseguiram e se intensificaram ainda mais ao terminar da guerra.
Inclusive antes de que se esgotasse o período de prosperidade que seguiu a Segunda guerra mundial, a burguesia recorreu às políticas de endividamento sempre mais maciço. Assim conseguiu adiar para o futuro a explosão das contradições de sua economia, mas ao preço de agravá-las.
Se entrou o sistema em sua fase de decadência, como explicar o crescimento depois da Segunda guerra mundial? Não terá que datar o início da decadência a partir do esgotamento deste?"
O período de decadência não se manifesta como pensava Trotski no Programa de transição por um bloqueio total de seu crescimento no plano econômico mas sim por uma travagem do desenvolvimento das forças produtivas. Para verificar que a evolução econômica durante a decadência expressa essa tendência à contração do desenvolvimento das forças produtivas, é necessário considerar o conjunto desse período e não unicamente uma de suas fases específicas, como por exemplo a fase particularmente próspera que seguiu à Segunda guerra mundial. Ora, o desenvolvimento das forças produtivas durante o período que cobre as sete primeiras décadas do século XX se realiza a um ritmo inferior ao da segunda metade do século anterior. A diferença é até mais importante se considerarmos o conjunto do século XX.
O período próspero após a Segunda guerra mundial é um fenômeno certamente excepcional durante a decadência e já não se reproduzirá nunca mais na medida em que os fatores que o permitiram já se esgotaram:
- a utilização de um "fundo de guerra" resultante de ciclos passados de acumulação, as reservas de ouro do Estado norte-americano, injetadas em boa parte nas economias da Europa ocidental e do Japão com fins de reconstruir e desenvolver seu aparelho produtivo, não por filantropia mas sim para travar as tentativas do imperialismo russo de atrair estes países para a sua esfera de influência;
- a exploração metódica e sistemática dos últimos mercados extra-capitalistas, tanto nos países industrializados que conservavam ainda um amplo mercado agrícola pré-capitalista, como nas ex-colônias em via de descolonização;
- um começo do desenvolvimento sem fim do endividamento por parte dos principais países industrializados (num contexto de endividamento geral ainda bastante baixo), que constitui uma tentativa de fugir às contradições.
Não existe a menor perspectiva de verdadeira solução à crise aberta no final dos anos 60; muito pelo contrário, só pode agravar indefinidamente. Entretanto, fazer corresponder a fase de decadência unicamente com esse período é ignorar um fenômeno maior da decadência, a guerra mundial, de uma amplitude e com destruições cujas proporções eram totalmente desconhecidas durante as guerras dos períodos anteriores e que é um fator essencial do risco de destruição da sociedade.
"Como atua a queda da taxa de lucro?"
A tendência decrescente à queda da taxa de lucro é efetivamente uma contradição do modo de produção capitalista, assim como Marx pôs em evidencia no livro 3 do Capital. Entretanto, não é a única nem tampouco necessariamente a mais determinante. Como temos dito, a vanguarda revolucionária era unânime, quando se fundou a IC em 1919, em reconhecer a entrada do sistema em sua fase de decadência. Era muito mais heterogênea, também o vimos, no que considera as implicações dessa modificação na vida do capitalismo. Era ainda mais heterogênea considerando a análise das causas econômicas da mudança de período. Rosa Luxemburgo e Lênin produziram duas análises diferentes do imperialismo. A de Luxemburgo toma mas amplamente em conta a dinâmica do desenvolvimento do capitalismo dentro de um mundo não capitalista e que precisa mercados extra-capitalistas para poder se desenvolver. Quando estes já começam a ser insuficientes diante das necessidades enormes da acumulação, então a máquina começa a ficar enferrujada. É dentro deste quadro de referência que, de nosso ponto de vista, se deve tomar em conta a tendência decrescente da queda da taxa de lucros cujos efeitos negativos para a economia capitalista se conjugam com os da saturação de mercados.