Submetido por CCI em
"Como conceber uma perspectiva revolucionária em uma sociedade de consumo?"
A sociedade atual não é uma sociedade de consumo para todo mundo. Não é muito difícil dar-se conta disso. O capitalismo estendeu e generalizou, como nunca nenhuma sociedade o tinha feito até hoje, o reino da mercadoria. Tudo neste mundo é objeto de compra, tudo é mercadoria. O capitalismo também é o sistema que foi capaz de desenvolver as forças produtivas como nenhum antes, a ponto de tornar perfeitamente credível a possibilidade da abundância para todos na Terra. O único obstáculo que encontra, é o próprio sistema que produz, não para satisfazer as necessidades do homem mas sim para o ganho e a acumulação. Uma contradição do mundo atual está em que uma proporção crescente da humanidade e da classe que produz as riquezas, a classe operária, tem acesso a uma parte cada vez mais reduzida das mercadorias fabricadas, mesmo considerando as que são vitais. Este enorme contraste entre o que poderia ser a vida na sociedade se a humanidade pudesse aproveitar todas as riquezas acumuladas e o que é em realidade, constitui um fator de tomada de consciência da necessidade da derrubada revolucionária do capitalismo.
"O caráter antidemocrático da revolução não faz correr o risco de que a classe operária a rechace?"
A propaganda burguesa diz que a revolução é a pior coisa que possa acontecer porque é antidemocrática. Mas em realidade do que se trata? É a derrubada de uma classe minoritária, a burguesia, com objetivo o bem-estar da imensa maioria, a classe operária e o conjunto das camadas não exploradoras da sociedade.
Quanto à democracia burguesa, não é mais que a máscara hipócrita da ditadura do capital. E quanto mais se confrontar a classe operária ao capital, melhor aparecerá essa ditadura pelo que é.
"Como fazer a revolução mundial quando o proletariado americano apóia a sua própria burguesia?"
Deixando de lado certa propaganda interessada por essa mentira, o que nos permite dizer que a classe operária americana apóia a sua própria burguesia? A classe operária nos Estados Unidos atualmente não tem meios para opor-se à guerra no Iraque. Esta situação resulta de um nível ainda insuficiente da luta de classes a nível internacional e no próprio país. Mas significa que essa fração do proletariado internacional adere a essa guerra? É evidente que não, como o demonstram as dificuldades do Estado norte-americano para recrutar novos efetivos. Como demonstram também as ações das mães ao proibir o acesso das escolas aos sargentos recrutadores. Não estamos em um período em que frações majoritárias do proletariado nos países mais importantes estejam dispostas a apoiar o esforço de guerra de sua própria burguesia, como ocorreu nos anos 30. Naquele tempo, os proletários norte-americanos, ingleses, alemães, franceses, russos, etc., eram massacrados por milhões, e de igual maneira também massacravam, nos exércitos regulares ou na resistência, por interesses que não eram seus mas sim os das diversas frações nacionais da burguesia mundial.
"Como podem mobilizar-se os desempregados?"
Os desempregados são uma parte da classe operária e sua luta não é diferente da da classe operária no seu conjunto. O fato de estarem privados de trabalho e da proximidade de seus companheiros de luta dificulta a mobilização, em particular pelo fenômeno de atomização crescente da vida social. Por isso é importante que façam o possível para unir às mobilizações dos operários que têm trabalho quando tiverem, e que estes chamem os desempregados a participar de suas manifestações.
Por outra parte, temos quer ser consciente que o Estado burguês não fica inativo com respeito ao potencial explosivo representado pela quantidade sempre maior de desempregados. Por isso tenta enquadrá-los, em particular encarregando-se de suas necessidades mais vitais através a distribuição de comida, utilizando para isso associações, a igreja, os partidos de esquerda, todas as organizações a seu serviço (por exemplo, em Argentina, nos "comedores" que são locais de distribuição de comida). Semelhante assistência não é neutra e tem como objetivo manter na dependência do estado sem questionar os fundamentos da miséria, os operários que beneficiam desta ajuda. Por outro lado, tais instituições servem também para desviar a luta dos operários que ainda têm um trabalho na direção de uma falsa solidariedade, oposta à solidariedade de classe (como foi o caso durante a onda de lutas no verão de 2005 em Argentina).
"Não é diferente hoje a classe operária da que fez a revolução em 1917?"
A classe operária hoje continua sendo a classe que produz o essencial das riquezas da sociedade. Continua sendo a classe explorada e sem ela não poderia existir o capitalismo. Quaisquer que sejam as modificações sociológicas acontecidas no seu seio, estas não modificam em nada seu caráter revolucionário. Se a proporção de operários industriais no conjunto da classe operária era mais importante no momento da onda revolucionária de 1917-23 que o é hoje em dia, não é por isso que não existem em seu seio outros setores diferentes dos operários de indústria capazes de uma grande combatividade e de desenvolver uma consciência de classe. A mobilização no setor do ensino na Itália em 1987 demonstrou que os proletários deste setor constituam a ponta de lança da vontade de organizar-se fora e contra os sindicatos. Os operários na Rússia em 1917 tinham também essa fama de conhecer bem a história de sua classe, apesar de que, em geral, não sabiam ler, e particularmente a história da Comuna de Paris. Existe nesse plano uma verdadeira diferença, visto que hoje as novas gerações se caracterizam por uma ignorância importante da história. Mas temos confiança na capacidade do proletariado revolucionário para apropriar-se de sua própria história à medida que o exijam as condições. Para isso terá que contar com a intervenção das organizações revolucionárias para suscitar e acompanhar esse esforço.
"A revolução não será uma idéia saída de moda?"
A revolução segue hoje mais que nunca sendo uma necessidade e segue sendo possível. A primeira onda revolucionária mundial se desenvolveu em reação ao aprofundamento brutal na barbárie provocado pela Primeira guerra mundial. Hoje, a classe revolucionária encarregada de aplicar a sentença de morte que pronunciou a história contra o capitalismo dispõe de enormes reserva de combatividade para desenvolver sua luta frente a uma crise econômica insolúvel que só pode aprofundar. Desde que retomou o caminho histórico de sua luta em 1968, o proletariado conheceu muitas dificuldades, em particular a de um retrocesso de mais de um decênio de sua consciência e de sua combatividade com as campanhas sobre a "morte do comunismo" que acompanharam o a queda dos regimes estalinistas. Mas de novo volta a ser capaz de desenvolver através da luta, sua consciência e a confiança nas suas capacidades revolucionárias.