A impossibilidade de reformar o capitalismo, em benefício da classe operária

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Os anos 80 situam-se no quadro de um sistema econômico historicamente decadente e bárbaro, há mais de um século. Mas no seio da decadência, esses anos são um momento de intensa aceleração da crise econômica na qual se debate o capitalismo, desde o fim dos anos 60, desde o fim do período de reconstrução posterior à segunda guerra mundial.

Durante aproximadamente meio século, o capitalismo tem conseguiu sobreviver, recorrendo a todo tipo de manipulações monetárias e financeiras, destruindo para isso pilares do sistema tão importantes quanto a estabilidade do sistema monetário internacional ou o equilíbrio das finanças públicas das nações, e se jogando numa protelação por políticas de crédito que só "resolvem" imediatamente os problemas para que eles reapareçam pouco tempo depois, com uma gravidade muito maior.

Assim, em meados dos anos 80, o capitalismo enfrentou a mais profunda e extensa crise econômica de sua história.

O empobrecimento absoluto

A classe operária não enfrenta unicamente a impossibilidade de arrancar reformas duráveis de suas condições de existência. Além disso, o proletariado mundial sofre, da parte do capital, o ataque mais violento, sistemático e generalizado. O mínimo social necessário para sobreviver é colocado em questão. Não é mais somente contra um crescimento da exploração que ele deve lutar, mas contra a perda do pouco que se acreditava ter "adquirido", luta-se contra a ameaça do empobrecimento absoluto.

A máquina capitalista está travada. Não somente não consegue integrar novos proletários, no ritmo de crescimento da população – o que ocorre há decênios, na periferia do sistema. Ela lança no desemprego massas proletárias cujo sobretrabalho (e lucro) não pode mais ser extraído pelo sistema , tanto nos países subdesenvolvidos como nas metrópoles industriais.

Nos países desenvolvidos, o desemprego cresce sem parar e cada vez mais rápido. No maior centro industrial do planeta, na Europa Ocidental, o número de desempregados reconhecido pelas estatísticas oficiais passou entre 1970 e 1980 de 5 para 11 milhões. Nos anos 80, bastaram cinco anos para que dobrasse de novo, atingindo 20 milhões no fim de 1984. Nessa época, nos países industriais do bloco norte-americano, o número de desempregados ultrapassa os 32 milhões... Os governos não cessam de anunciar todos os dias novas demissões.

Durante os anos de reconstrução e parcialmente nos anos 70, a maioria dos desempregados dos países mais industrializados da Europa recebia salário-desemprego. Mas, nos anos 80, os Estados em falência se declaram cada vez menos capazes de prover as necessidades de todos os que o capital refuga ou nunca integrou ao processo de produção. Milhões de proletários são condenados à miséria, ao empobrecimento absoluto. As "sopas populares" reaparecem em cidades como Paris! Mas o desemprego ameaça também os "que ainda têm a sorte de ter um emprego", chantageando-os como um fuzil nas costas. Os salários reais não cessam de baixar, ao mesmo tempo em que um número cada vez maior de famílias operárias tem desempregados sob sua responsabilidade (cônjuges, jovens), acarretando uma diminuição de renda com um maior numero de bocas a alimentar.

O chamado "salário social", que o Estado fornece sob a forma de serviços (saúde, educação, salário-família etc.), também sofre cortes brutais. É o que a mídia chama cinicamente de "o fim do Estado-providência".

A barbárie

Se fosse necessário resumir em dois números a acelerada da decadência histórica do capitalismo, bastaria dizer que em plenos anos 80, morreram de fome no mundo mais de trinta milhões de pessoas por ano (mais do que durante os quatro anos da Primeira Guerra Mundial!). Mas os gastos militares mundiais superavam um milhão de dólares por minuto! Uma soma que permitiria não só atenuar o problema da fome, mas eliminá-lo. Enquanto isso, a produção de bens de subsistência em todos os países diminuiu por causa da... superprodução.
Os últimos dez anos não enfraqueceram a idéia básica deste livreto, segundo a qual não é possível reformar o capitalismo ou dele arrancar benefícios duráveis para os explorados. Ao contrário, torna-se cada vez mais clara o antagonismo total que opõe à lógica das leis econômicas capitalistas (que datam do século XVI!) e os interesses mais elementares da classe operária.

Cada vez mais, a sobrevivência do capitalismo acarreta empobrecimento absoluto dos proletários; a própria sobrevivência dos proletários exige que levem sua luta de classe a níveis cada vez mais globais, unitários, radicais. Só a luta política de massas abre uma perspectiva ao proletariado.