A integração dos sindicatos no Estado capitalista

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Após a primeira publicação deste livreto, um fenômeno se generalizou nos países industriais do bloco ocidental europeu: os operários abandonam os sindicatos. Como entender que os operários abandonem as organizações, que supostamente os defendem, no exato momento em que eles sofrem um ataque sem precedentes?

Cada vez mais os operários recusam o tipo de ação sindical que conduziu tantas lutas a impasses: os "dias de ação" e as greves de algumas horas, as petições aos parlamentares, as ações simbólicas etc. encontram um eco cada vez menor entre os operários, cuja desconfiança com relação de seus "representantes oficiais" só faz aumentar.

durante os dez últimos anos, os sindicatos, foram cada vez mais percebidos como instituições estatais. Sua impotência diante dos ataques da crise capitalista é evidente, além da função – que eles desempenham, mais ou menos abertamente – de agências do capital no encaminhamento das políticas "de austeridade" e "reestruturação industrial" que golpeiam direta e brutalmente as condições de vida dos proletários.

A participação na gestão da crise capitalista

Os sindicatos colaboram na gestão do capitalismo em crise, exatamente como o fizeram na reconstrução do pós-guerra e durante as duas guerras mundiais: convocando para a "defesa da Pátria" e sacrificar a sua vida para o capital nacional.

Quando a burguesia, para preservar suas margens de lucro, impõe sacrifícios aos trabalhadores, os sindicatos geralmente respondem: "Nada de sacrifícios!" Mas, logo acrescentam: "A menos que eles sejam igualmente repartidos entre todos". Então, ocorrem espetaculares "negociações entre governo e sindicatos" [1], em que a questão nunca é "sacrifícios ou não", mas "como organizar a imposição dos sacrifícios".

O resultado dessa farsa - representada por atores cada vez mais desacreditados - é sempre o mesmo: novos sacrifícios para os trabalhadores em proveito do capital nacional. E os sindicatos gritam vitória: "poderia ter sido pior, se não estivéssemos lá".

Interlocutores oficiais do governo e representantes oficiais dos trabalhadores, os sindicatos negociam oficialmente as leis antioperárias e assinam os documentos oficiais que impõem, com a força do Estado, a lógica do capital (a lógica de rentabilidade) às condições de vida dos trabalhadores. O sindicato funciona em termos de economia nacional, subordinando-se à lógica do sistema capitalista. E se essa lógica exige mais sacrifícios, cabe aos sindicatos defendê-los perante os trabalhadores, em nome de um "realismo" que consiste apenas em considerar a crise econômica como um "evento natural" – como um terremoto ou uma onda de frio – e o capitalismo como um fenômeno eterno da natureza.

Em nome de tal "realismo" os sindicatos franceses assinaram, inicialmente com um governo de direita, depois com um governo de esquerda, a redução sistemática dos auxílios-desemprego e do número dos que a eles têm direito É como defensores desse "realismo" que eles estão nos países "democráticos", direta ou indiretamente associados à elaboração de todas as medidas políticas e econômicas antiproletárias. Na Alemanha social-democrata, os sindicatos apoiaram o governo que reduziu salário-família; foi com a ajuda dos sindicatos espanhóis que o governo "socialista" concluiu a redução das taxas de aposentadoria. Foi com os "experts" das "Trade Unions" britânicas, que o governo conservador preparou meio milhão de demissões na função pública, é com os sindicatos italianos que reduziu as aposentadorias.. Os sindicatos italianos, atrelados ao governo de "centro-esquerda", liquidaram a escala móvel dos salários. Ajudado pela socialista FGTG, o governo belga cortou 10 % dos auxílios-desemprego.

Mas não foi somente porque apareceram cada vez mais como instituições estatais que os sindicatos foram abandonados pelos operários.

A sabotagem das lutas

Nas lutas abertas, a ação das grandes centrais sindicais aparece cada vez mais claramente aos olhos dos operários como o que ela é: sabotagem do interior.

Nos dez últimos anos, são inumeráveis as manobras dos sindicatos, que, sabotando greves e mediante a demagogia nacionalista, a tudo recorrem para enquadrar toda revolta proletária.

Desviar as lutas para impasses nacionalistas, isolando-as localmente; impossibilitar a unificação das lutas; canalizar a combatividade para ações ineficazes e desmoralizantes; enfraquecer a solidariedade de classe... Os sindicatos, no mundo inteiro, usaram esses estratagemas para molhar a pólvora social e sabotar as lutas. Exemplos não faltam.

Os sindicatos desviaram a combatividade dos metalúrgicos franceses, em 1979, nas ações contra os trens de minério de ferro alemão aos gritos de "Produzamos francês". Na Polônia, o Solidariedade, com Walesa, o ibope da mídia, e a ajuda dos "sindicatos democráticos" do bloco norte-americano, arregimentaram os operários num nacionalismo que os desarmava face à lógica econômica do Estado e os isolava dos trabalhadores de outros países, que eram apresentados privilegiados porque tinham patrões e sindicatos "democráticos".

Isolaram a greve dos mineiros britânicos, apresentando-a como uma luta corporativa oposta à das outras corporações. O sindicato dos mineiros, chamado NUM, radicalizou a linguagem para melhor credibilizar a "natureza operária dos sindicatos"... Assim, justificou a recusa de todos os outros sindicatos oficiais em apoiar ativamente a greve dos mineiros.

Os sindicatos confundiram os metalúrgicos de Lorena (França), em 1984, fazendo-os instalar barreiras nas rodovias da região, o que os separava dos trabalhadores das outras regiões, além de os isolar uns dos companheiros de luta.

Na Alemanha Ocidental, os sindicatos promoveram uma gigantesca campanha pelas 35 horas para desorganizar a combatividade operária. Uma greve, controlada e dirigida pelos sindicatos, de cidade em cidade, de região em região, de hora em hora, de maneira a evitar todo acúmulo de forças.

Na Itália, os sindicatos canalizaram a bronca proletária para ações espetaculares e inúteis: o bloqueio de trens e a "Marcha em Roma", em março de 1984, que reuniu mais de um milhão de trabalhadores numa deprimente procissão.

Eles enfraqueceram os movimentos de solidariedade dos trabalhadores, usando as coletas financeiras e outras "atividades beneficentes" para substituir a solidariedade ativa no combate. Assim fizeram, com grande reforço publicitário, em nível internacional, tanto na Polônia, como na greve dos mineiros britânicos.

Em todos os casos, o resultado é o mesmo: sabotagem do interior das tentativas de unificação das forças do proletariado.

Gestores da crise capitalista, agentes das políticas antioperárias, sabotadores da luta proletária do interior, os sindicatos têm tido sempre maior dificuldade para ocultar sua colaboração com a burguesia e sua natureza de engrenagem do Estado capitalista. É por isso que lenta, mas irreversivelmente, os operários abandonam os sindicatos e ignoram suas "ações" e "mobilizações" de fachada.

1 É uma tática clássica e generalizada dos sindicatos: fazer da negociação em si o objetivo principal da luta, deixando de lado as reivindicações que estão na origem da mobilização.