Nuevo curso e uma "Esquerda comunista espanhola": Qual é a origem da Esquerda comunista?

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A revolução comunista só pode ser vitoriosa se o proletariado se dotar de um partido político de vanguarda proporcional às suas responsabilidades, como fez o partido bolchevique na primeira tentativa revolucionária de 1917. A história tem dado mostras de como é difícil construir tal partido, uma tarefa que requer muitos e variados esforços. Acima de tudo, requer a maior clareza sobre questões programáticas e sobre os princípios de funcionamento da organização, uma clareza que é necessariamente baseada em toda a experiência passada do movimento operário e de suas organizações políticas.

Em cada etapa da história do movimento, algumas correntes se distinguiram como as melhores representantes dessa clareza, como aquelas que deram uma contribuição decisiva para o futuro da luta. Este foi o caso da corrente marxista já em 1848, quando grande parte do proletariado ainda era influenciado por teorias da pequena-burguesia que foram vigorosamente combatidas no capítulo 3 do Manifesto Comunista, "Literatura Socialista e Comunista". Este foi ainda mais o caso no seio da Associação Internacional dos Trabalhadores fundada em 1864: "esta Associação, que tinha sido criada com um propósito específico - fundir as forças militantes do no Manifesto. O programa da Internacional tinha de ser suficientemente amplo para ser aceito tanto pelos sindicatos ingleses como pelos apoiadores de Proudhon na França, Bélgica, Itália e Espanha, e pelos lassalistas na Alemanha. Marx, que elaborou este programa de forma a satisfazer todas estas partes, confiou inteiramente no desenvolvimento intelectual da classe trabalhadora, que era obrigatoriamente o resultado da ação conjunta e da discussão. (...) E Marx tinha razão. Quando, em 1876, a Internacional deixou de e proletariado da Europa e América em um único todo - não podia imediatamente proclamar os princípios estabelecidos existir, os trabalhadores já não eram mais os mesmos de quando foi fundada em 1864. (...) Para ser honesto, os princípios do Manifesto foram amplamente desenvolvidos entre os trabalhadores de todos os países. (Engels, Prefácio à edição inglesa de 1888 do Manifesto Comunista.

Finalmente, foi dentro da Segunda Internacional, fundada em 1889, que a corrente marxista se tornou hegemônica, graças em particular à sua influência no Partido Social Democrata da Alemanha. E foi em nome do marxismo que Rosa Luxemburg, em particular, se empenhou na luta contra o oportunismo que, a partir do final do século XIX, foi ganhando terreno neste partido e em toda a Internacional. Foi também em seu nome que os internacionalistas conduziram a luta durante a Primeira Guerra Mundial contra a traição da maioria dos partidos socialistas e que fundaram em 1919, sob o impulso dos bolcheviques, da Terceira Internacional, a Internacional Comunista. E, depois do fracasso da revolução mundial e do isolamento da revolução na Rússia, foi a corrente marxista da Esquerda comunista - representada em particular pela esquerda italiana e germano-holandesa - que iniciou a luta contra esta degeneração. Como a maioria dos partidos da Segunda Internacional, os da Terceira Internacional finalmente, com o triunfo do stalinismo, caíram no campo do inimigo capitalista. Esta traição,  e esta submissão dos partidos comunistas à diplomacia imperialista da URSS, provocou muitas reações por parte  das da esquerda comunista. Algumas delas conduziram a um ingresso "crítico" ao seio da socialdemocracia. Outros tentaram permanecer no campo do proletariado e da revolução comunista, como foi o caso, depois de 1926, com a oposição de esquerda liderada por Trotsky, um dos grandes nomes da revolução de Outubro de 1917 e fundador da Internacional Comunista.

O Partido Comunista Mundial, que estará na vanguarda da revolução proletária de amanhã, terá de contar com a experiência e reflexão das correntes de esquerda que emergiram da Internacional Comunista durante a sua degeneração. Cada uma destas correntes aprendeu as suas próprias lições com esta experiência histórica. E nem todos estes ensinamentos são equivalentes. Assim, há profundas diferenças entre as análises e políticas das correntes da Esquerda comunista que surgiram no início dos anos 20 e a corrente "trotskista" que surgiu muito mais tarde e que, embora situada em terreno proletário, foi, desde as suas origens, fortemente marcada pelo oportunismo. Obviamente, não é por acaso que a maioria da corrente trotskista se juntou ao campo burguês durante o teste da verdade da Segunda Guerra Mundial, enquanto as correntes da Esquerda comunista permaneceram fiéis ao internacionalismo.

Portanto, o futuro partido mundial, para que possa realmente contribuir para a revolução comunista, não pode assumir o legado da Oposição de Esquerda. Terá necessariamente de basear o seu programa e os seus métodos de ação na experiência da Esquerda comunista.

Existem diferenças entre os atuais grupos que emergiram desta tradição, e é sua responsabilidade continuar a enfrentar estas diferenças políticas, especialmente para que as gerações mais jovens que se aproximam possam compreender melhor a sua origem e seu alcance atual. Este é o sentido das controvérsias que já publicamos e continuaremos a publicar com a Tendência Comunista Internacionalista e os grupos Bordiguistas. No entanto, para além destas diferenças, existe uma herança comum da Esquerda comunista que a distingue das outras correntes de esquerda que emergiram da Internacional Comunista. Portanto, quem afirma pertencer à Esquerda comunista tem a responsabilidade de tentar conhecer e dar a conhecer a história deste componente do movimento operário, as suas origens em reação à degeneração dos partidos da Internacional Comunista, os diferentes grupos que estão ligados a esta tradição por terem participado na sua luta, os diferentes ramos políticos que a compõem (a esquerda italiana, a esquerda holandesa-alemã, etc.). Em particular, é importante esclarecer os contornos históricos da Esquerda comunista e as diferenças que a distinguem de outras correntes de esquerda, em particular a trotskista. Este é o objetivo deste artigo.

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No blog de Nuevo Curso lemos um artigo que tenta explicar qual é a origem da Esquerda comunista: "Chamamos a Esquerda comunista o movimento internacionalista que iniciou lutando contra a degeneração da Terceira Internacional, procurando corrigir os erros herdados do passado refletidos em seu programa, a partir de 1928 para enfrentar o triunfo do Thermidor[1] na Rússia e o papel contrarrevolucionário da Internacional e dos partidos estalinistas".[2]

O que significa exatamente? Que a Esquerda comunista começou a sua luta em 1928? Se isso é o que Nuevo Curso pensa, é errado, uma vez que a Esquerda comunista se levantou contra a degeneração da Internacional Comunista já em 1920-21, no Segundo e Terceiro Congressos da Internacional. Naquele período agitado em que se jogavam as últimas possibilidades da revolução proletária mundial, grupos, núcleos da Esquerda comunista na Itália, Holanda, Alemanha, Bulgária, Rússia e depois na França e em outros países, realizaram uma luta contra o oportunismo que corroía até a raiz o corpo revolucionário da Terceira Internacional[3]. Duas das expressões desta Esquerda comunista estão claramente manifestadas no Terceiro Congresso da IC (1921), realizando uma crítica severa, mas fraterna às posições adotadas pela Internacional:

  •  "Assim é como, no 3º Congresso da IC, os chamados "esquerdistas" de Lênin, reagrupados no seio do KAPD, se levantam contra o retorno ao parlamentarismo, ao sindicalismo, e mostram como essas posições vão contra as adotadas no primeiro congresso que tentou extrair as implicações para a luta do proletariado do novo período aberto pela Primeira Guerra Mundial.

É também neste congresso que a esquerda italiana, que lidera o Partido Comunista da Itália, reage vivamente - embora em profundo desacordo com o KAPD - contra a política sem princípios de aliança com os "centristas" e a desnaturalização dos PCs pela entrada em massa de frações que saem da socialdemocracia[4].

No próprio Partido Bolchevique "desde 1918, o "Komunista" de Bukharin e Ossinsky, adverte o partido contra o perigo de assumir uma política de capitalismo de Estado. Três anos depois, depois de ter sido excluído do partido bolchevique, o "Grupo operário" de Miasnikov levou a luta à clandestinidade em estreita relação com o KAPD e o PC búlgaro até 1924, quando desapareceu sob os golpes repetidos da repressão a que foi submetido. Este grupo critica o partido bolchevique por sacrificar os interesses da revolução mundial em nome da defesa do Estado russo, reafirmando que só a revolução mundial pode permitir que a revolução permaneça na Rússia.

Assim, sobre profundas bases programáticas - bem ainda em processo de elaboração - se desenha uma clara alternativa diante da degeneração da Internacional Comunista em 1919-21. No entanto, para Nuevo Curso "pode-se dizer que o tempo histórico da Esquerda comunista termina na década entre 1943 e 1953 quando as principais correntes que mantiveram uma praxis internacionalista dentro da Quarta Internacional denunciam a sua traição do internacionalismo e configuram uma nova plataforma que parte da denúncia da Rússia stalinista como capitalismo de Estado imperialista".

Esta passagem nos diz, por um lado, que a Quarta Internacional teria sido o abrigo de grupos com "uma práxis internacionalista", e, por outro lado, que depois de 1953 "o tempo histórico da Esquerda comunista teria se esgotado". Vamos examinar estas afirmações.

O que foi a quarta internacional e o que aportou de a sua matriz, a oposição de esquerda?

A Quarta Internacional foi constituída em 1938 pela oposição de esquerda, cuja primeira origem reside na Rússia, com o Manifesto dos 46 em outubro de 1923, ao qual Trotsky se juntaria e, em nível internacional, com o aparecimento de grupos, indivíduos e tendências que desde 1925-26 tentam se opor ao triunfo cada vez maior do stalinismo nos partidos comunistas.

Estas oposições expressam uma reação proletária indubitável. No entanto, esta reação é confusa, fraca e muito contraditória. Exprime em vez uma rejeição epidérmica superficial da ascensão do stalinismo. A oposição na URSS, apesar das suas batalhas heroicas, "mostra-se incapaz de compreender a verdadeira natureza do fenômeno "estalinista" e "burocrático", prisioneiro das suas ilusões sobre a natureza do Estado russo. Ela também se torna a campeã do capitalismo de Estado, que quer promover mais tarde através da industrialização acelerada. Quando luta contra a teoria do socialismo num único país, não consegue romper com as ambiguidades do partido bolchevique sobre a defesa da "Pátria Soviética". E seus membros, Trotsky à frente, se apresentam como os melhores apoiadores da defesa "revolucionária" da "pátria socialista". Ela se concebe não como uma fração revolucionária buscando salvaguardar teórica e organizacionalmente as grandes lições da Revolução de Outubro, mas apenas uma oposição leal ao Partido Comunista Russo, o que a leva a "alianças sem princípios (assim Trotsky buscará o apoio de Zinoviev e Kamenev que não cessaram de caluniá-lo desde 1923[5])". (idem.).

Quanto à Oposição Internacional de Esquerda "é reivindicada dos primeiros quatro congressos da IC. Por outro lado, perpetua as manobras que já caracterizaram a oposição de esquerda na Rússia. Em grande medida, esta oposição é um reagrupamento sem princípios que se limita a fazer uma crítica "de esquerda" ao stalinismo. Todo verdadeiro esclarecimento político é proibido em seu seio e deixa para Trotsky, que vê no próprio símbolo da Revolução de Outubro, a tarefa de se tornar porta-voz e "teórico" (idem.).

Com estas frágeis fundações, a Oposição de Esquerda fundou em 1938 uma "Quarta Internacional" que nasceu morta para a classe trabalhadora. Já na década de 1930, a Oposição tinha sido incapaz de "resistir aos efeitos da contrarrevolução que se desenvolve à escala mundial com base na derrota do proletariado internacional" (idem.) porque ao longo das diferentes guerras localizadas que estavam preparando o holocausto da Segunda Guerra Mundial, a Oposição desenvolveu uma "perspectiva táctica" de "apoio a um campo imperialista contra outro (sem admiti-lo abertamente) apoio à "resistência colonial" na Etiópia, China e México, apoio à Espanha republicana, etc. O apoio do trotskismo aos preparativos de guerra do imperialismo russo foi igualmente claro durante todo esse período (Polônia, Finlândia 1939), camuflado por detrás do slogan "defesa da pátria soviética[6]". Isto, juntamente com o entrismo nos partidos socialistas (decidido em 1934), fará com que "o programa político adotado no congresso de fundação da IV Internacional, escrito pelo próprio Trotski, retome e agrave as orientações que precederam aquele congresso (defesa da URSS, frente única operária, análise equivocada do período ...) mas também tem como eixo a reedição do programa mínimo do tipo socialdemocrata (demandas "transitórias"), um programa que tinha se tornado obsoleto pela impossibilidade de reformas desde a entrada do capitalismo em sua fase de decadência, de declínio histórico" (op. cit. nota 4). A Quarta Internacional defende a "participação nos sindicatos, o apoio crítico aos chamados partidos "operários", as "frentes únicas" e as "frentes antifascistas", os governos "operários e camponeses", as medidas estatais capitalistas (prisioneiras da experiência da URSS) através da "expropriação de bancos privados", "a nacionalização do sistema de crédito", "a expropriação de certos ramos da indústria" (...) a defesa do Estado degenerado operário russo. E no plano político, prevê que a revolução democrática e burguesa nas nações oprimidas tenham que passar pelas "lutas de libertação nacional", este programa escandalosamente oportunista preparou a traição dos partidos trotskistas que, em 1939-40, apressaram em defender seus respectivos estados nacionais[7]. Apenas alguns indivíduos e pequenos círculos, de forma alguma "correntes com uma práxis internacionalista", como diz Nuevo Curso! tentaram resistir a este vendaval reacionário. Entre eles, Natália Redova, viúva de Trotsky, que rompeu em 1951, e especialmente Munis, sobre o qual falaremos abaixo[8]

A continuidade da Esquerda comunista, uma continuidade programática e organizacional

É necessário, portanto, entender que a luta para dar-se um marco programático que sirva ao desenvolvimento da consciência proletária e prepare as premissas para a formação de um partido mundial, não é uma tarefa de personalidades e círculos desconexos, mas fruto de uma luta coletiva organizada que se inscreve na continuidade histórica crítica das organizações comunistas, continuidade que acontece, como afirmamos em nossas posições básicas, pelas "sucessivas contribuições da Liga dos Comunistas de Marx e Engels (1847-52), das três Internacionais (a Associação Internacional dos Trabalhadores, 1864-72, a Internacional Socialista, 1884-1914, a Internacional Comunista, 1919-28), das Fracções de Esquerda que se separaram nos anos 1920-30 da Terceira Internacional (a Internacional Comunista) em seu processo de degeneração, e mais particularmente da esquerda alemã, holandesa e italiana". [9]

Já vimos que tanto a oposição de esquerda como a Quarta Internacional se afastaram claramente desta continuidade[10]. Só a Esquerda comunista o poderia fazer. Mas de acordo com Nuevo Curso, o "tempo histórico da Esquerda comunista termina em 1943-53". Ele não dá nenhuma explicação, porém, em seu artigo acrescenta outra frase: "Os esquerdistas comunistas que ficaram de fora do reagrupamento internacional - os italianos e seus derivados franceses - chegarão, embora nem todos, nem completamente e nem sempre em posições coerentes, a um quadro semelhante no mesmo período".

Esta passagem contém numerosos "enigmas". Para começar, quais são as esquerdas comunistas que ficaram de fora do "reagrupamento internacional"? Que reagrupamento internacional é este? É claro que Bilan e as outras correntes de Esquerda comunista rejeitaram a ideia de "ir em direção a uma Quarta Internacional"[11]. No entanto, desde 1929, fizeram tudo o que era possível para discutir com a oposição de esquerda, reconhecendo que era uma corrente proletária, ainda que gangrenada pelo oportunismo. No entanto, Trotsky obstinadamente rejeitou qualquer debate[12], apenas algumas correntes como a Liga dos Comunistas Internacionalistas da Bélgica ou o Grupo Marxista do México aceitaram o debate levando a uma evolução que os levou a romper com o trotskismo[13].

Além disso, Nuevo Curso nos diz que aqueles grupos que ficaram "à margem do reagrupamento internacional(...) chegarão, ainda que nem todos, nem completamente e nem sempre em posições coerentes, a um quadro semelhante no mesmo período". O que é que "faltavam"? O que é que tinham "incoerentes"? Nuevo Curso não esclarece nada. Vamos demonstrar, recuperando uma imagem que fizemos num artigo intitulado "Quais são as diferenças entre a Esquerda comunista e a Quarta Internacional?" [14] que estes grupos tinham posições coerentes com a fidelidade ao programa do proletariado e não eram de modo algum "semelhantes" à lama oportunista da Oposição e aos grupos da Quarta Internacional com uma chamada "práxis internacionalista":

Esquerda comunista

Oposição de Esquerda

Baseia-se no primeiro congresso da IC e considera criticamente as contribuições do 2º. Rejeita globalmente a maioria dos acordos do terceiro e quarto congressos

Baseia-se nos 4 primeiros congressos sem análise crítica

Analisa criticamente o que está acontecendo na Rússia e chegará à conclusão de que a URSS não deve ser apoiada porque caiu nas mãos do capitalismo mundial.

Considera a Rússia como um Estado de operário degenerado que, apesar de tudo, deve ser apoiado.

A Esquerda comunista germano-holandesa rejeita o trabalho nos sindicatos, e a Esquerda comunista italiana chegará à mesma conclusão com o internacionalismo (Gauche communiste de France) de que os sindicatos se tornaram órgãos do Estado, mas em bases teóricas e históricas mais fortes.

Promove o trabalho em sindicatos que considera serem órgãos da classe trabalhadora.

A Esquerda comunista germano-holandesa, Bilan e Internationalisme denunciam claramente a "libertação nacional".

Apoia a libertação nacional.

Denuncia o parlamentarismo e a participação nas eleições

Apoia a participação em eleições e

o "parlamentarismo revolucionário".

Empreende um trabalho de Fração para tirar lições da derrota e lançar as bases para uma futura reconstituição do Partido Mundial do proletariado

Empreende um trabalho de "oposição" que pode até levar ao entrismo em partidos socialdemocratas.

Já na década de 1930, e especialmente através de BILAN, ele considerava que o mundo estava a caminho da Segunda Guerra Mundial e que o partido não podia ser formado em tais condições, mas que era preciso aprender lições e preparar o futuro. É por isso que BILAN dirá: "A palavra de ordem do momento não é trair."

No meio da contrarrevolução, Trotsky acreditava que as condições para a formação do partido estavam criadas e, em 1938, fundou a Quarta Internacional.

Denuncia a Segunda Guerra Mundial; condena ambas as partes em conflito e defende a revolução proletária mundial.

Convida os trabalhadores a escolher lados entre os candidatos à Segunda Guerra Mundial, abandonando assim o internacionalismo.

 

Para além da comparação acima referida, há de acrescentar à comparação um ponto que nos parece muito importante para realmente contribuir para a luta proletária e avançar para o partido mundial da revolução: Enquanto a Esquerda comunista realizava um trabalho organizado, coletivo e centralizado, baseado na fidelidade aos princípios organizacionais do proletariado e na continuidade histórica de suas posições de classe, a Oposição de esquerda era vista como uma aglomeração de personalidades, círculos e grupos heterogêneos, unidos apenas pelo carisma de Trotsky em cujas mãos ficou a "elaboração política".

Acima de tudo, Nuevo Curso coloca a Esquerda comunista e os comunizadores (um movimento modernista radicalmente estranho ao marxismo) no mesmo saco: "O chamado "comunismo de esquerda" é um conceito que engloba a Esquerda comunista -especialmente as correntes italianas e germano-holandesas-, os grupos e tendências que lhe dão continuidade (do "conselhismo" ao "bordiguismo") e os pensadores da "comunização". Para que essa amálgama? Um amálgama que termina se colocando uma foto de Amadeo Bordiga[15] no meio da denúncia que ele faz dos "comunizadores", o que implicaria que a Esquerda comunista estaria ligada a eles ou compartilharia posições com eles.

Munis e uma chamada "Esquerda comunista espanhola"

Assim, segundo Nuevo Curso os atuais revolucionários não teriam que procurar as bases de sua atividade nos grupos de Esquerda comunista (a TCI, a CCI, etc.), mas no que poderia ter saído do programa de capitulação ao capitalismo elaborado pela IV Internacional e concretamente, como veremos mais adiante, do trabalho de Munis revolucionário. No entanto, de forma confusa e complicada, Nuevo Curso implica, sem o afirmar claramente, que Munis seria o elo mais importante de uma suposta "Esquerda comunista espanhola", uma corrente que, segundo Nuevo Curso, "funda o Partido Comunista Espanhol em 1920 e cria o grupo espanhol da esquerda Oposição ao stalinismo em 1930, depois a Esquerda comunista espanhola, participando na fundação da oposição internacional e servindo também como semente e referência às esquerdas comunistas na Argentina (1933-43) e no Uruguai (1937-43). Ela toma a posição revolucionária sobre a insurreição dos trabalhadores de 19 de julho de 1936 e é a única tendência marxista a participar da insurreição revolucionária de 1937 em Barcelona. Tornou-se a seção espanhola da Quarta Internacional em 1938 e, desde 1943, batalha contra o centrismo na mesma; denunciou sua traição ao internacionalismo e sua consequente saída do terreno de classe em seu segundo congresso (1948), levando à ruptura dos últimos elementos internacionalistas e à formação com os dispersos da "União Internacional de Trabalhadores".

Antes de analisar a contribuição de Munis, analisemos essa "continuidade" entre 1920 e 1948.

Não podemos agora entrar numa análise das origens do Partido Comunista em Espanha. Em 1918 havia alguns pequenos núcleos interessados nas posições de Gorter e Pannehoek, que discutiram com o Birô de Amsterdã da Terceira Internacional, que aglutinava grupos de esquerda dentro da Terceira Internacional. Destes núcleos nasceu o primeiro Partido Comunista de Espanha, mas foram forçados pela IC a fundir-se com a ala centrista do PSOE, que era a favor da adesão à Terceira Internacional. Logo que possível, faremos um estudo das origens do PCE, mas o que está claro é que, além de algumas ideias e combatividade inquestionável, esses núcleos não constituíram um verdadeiro órgão da Esquerda comunista e não tiveram nenhuma continuidade. Em meados da década de 1920, surgiram os grupos da Oposição de Esquerda que efetivamente tomaram o nome de "Esquerda comunista da Espanha", liderada por Nin. Este grupo estava dividido entre os partidários da fusão com o Bloco Obrero Camperol (grupo nacionalista estalinista catalão) e os que defendiam o entrismo no PSOE, seduzidos pela radicalização de Largo Caballero (ex-conselheiro de Estado do ditador Primo de Rivera) fazendo-se passar pelo "Lênin espanhol". Munis foi um deles, enquanto a maioria, liderada por Nin, fundiu-se com o Bloco para formar o POUM. Assim, da "Esquerda comunista" nada mais tinham do que o nome que deram a si próprios para serem "originais", mas o conteúdo das suas posições e das suas ações é indistinguível da tendência oportunista prevalecente na oposição de esquerda.

Quanto à existência de uma Esquerda comunista no Uruguai e na Argentina, estudamos os artigos publicados por Nuevo Curso para justificar sua existência. No que diz respeito ao Uruguai, é a Liga Leninista Bolchevique que é um dos raros grupos dentro do trotskismo que assume uma posição internacionalista contra a Segunda Guerra Mundial. Isto tem muito mérito e nós o saudamos calorosamente como expressão de um esforço proletário, mas a leitura do artigo de Nuevo Curso mostra que este grupo mal podia realizar uma atividade organizada e movido em um ambiente político dominado pela APRA peruana, um partido burguês da cabeça aos pés que flertava com a já degenerada Internacional Comunista: "Sabemos que a Liga se reunirá com os "antidefensistas" em Lima em 1942 na casa do fundador da APRA, Víctor Raúl Haya de la Torre, apenas para verificar as profundas diferenças que os separavam. (...) Depois do fracasso de seu contato "anti-defesa", eles sofrem totalmente a caça às bruxas organizada contra os "trotskistas" pelo governo e pelo Partido Comunista. Sem referências internacionais - a IV deixando-lhes apenas a opção de abjurar a sua crítica à "defesa incondicional da URSS", o grupo se dissolve".[16]

O que Nuevo Curso chama de Esquerda comunista argentina são dois grupos que se fundirão para formar a Liga Comunista Internacionalista e permanecerão ativos até 1937 para serem finalmente laminados pela ação dos apoiadores de Trotsky na Argentina. É verdade que a Liga rejeita o socialismo em um único país e reivindica a revolução socialista diante da "libertação nacional", mas seus argumentos, embora reconhecendo o mérito de sua luta, são muito fracos. Em Nuevo Curso encontramos citações de um dos membros mais característicos do grupo, Gallo afirmando:

  • "O que significa a luta pela libertação nacional? O proletariado enquanto tal não representa os interesses históricos da Nação no sentido de que tende a libertar todas as classes sociais pela sua ação e a superá-las pelo seu desaparecimento? Mas para fazer isso, precisa necessariamente não os confundir com os­ interesses nacionais (que são os da burguesia, porque esta é a classe dominante), que no plano tanto interna como externamente são altamente contraditórios. Assim, essa consigna é categoricamente falsa (...) para afirmar nosso critério de que somente a revolução socialista pode ser o estágio que corresponde aos países coloniais e semicoloniais. Prisioneiro dos dogmas da Oposição de Esquerda sobre libertação nacional e incapaz de sair deles, o grupo afirma "A IV Internacional não admite nenhum slogan de "libertação nacional" que tenda a subordinar o proletariado­ às classes dirigentes e, ao contrário, assegura que o primeiro passo da libertação nacional proletária é a luta contra elas""[17]. A confusão é terrível, o proletariado deve fazer uma "libertação nacional" proletária, ou seja, o proletariado deve realizar uma tarefa própria da burguesia.

Revisão crítica da contribuição de munis

Tardiamente, em 1948, do tronco podre da Quarta Internacional, surgiram duas tendências promissoras (as últimas do movimento trotskista)[18]: a de Munis e aquela de Castoriadis. No artigo Castoriadis, Munis e o problema da ruptura com o trotskismo[19] deixamos bem clara a diferença entre Castoriadis, que acabou por ser um firme propagandista do capitalismo ocidental, e Munis, que sempre foi fiel ao proletariado[20].

Esta fidelidade é admirável e faz parte dos muitos esforços que surgiram para avançar para uma consciência comunista. No entanto, esta é uma coisa e outra é que o trabalho de Munis constituiu na realidade mais um exemplo de atividade individual mais que ligada a uma corrente proletária autêntica e organizada, que poderia desenvolver a base teórica, programática e organizacional para continuar até hoje a tarefa histórica de uma organização comunistas. Como já mostramos em muitos artigos, Munis, devido às suas origens trotskistas, não foi capaz de realizar esta tarefa.[21].

Ambiguidades sobre o trotskismo

Em artigo escrito em 1958, Munis faz uma análise muito clara denunciando os líderes americanos e ingleses da Quarta Internacional que vergonhosamente renegaram o internacionalismo, concluindo corretamente que "a Quarta Internacional não tem nenhuma razão histórica para existir; é supérflua, sua própria fundação deve ser considerada um erro, e sua única tarefa é ir atrás do stalinismo, mais ou menos criticamente. A isso se limita, de fato, durante anos, o bordão e a escarradeira do stalinismo, segundo a conveniência deste"[22]. No entanto, ele acredita que ele pode ser de alguma utilidade ao proletariado, como pareceria que "ele tem um papel possível deixado para jogar em países dominados pelo stalinismo, principalmente na Rússia. Ali, o prestígio do trotskismo ainda é enorme. Os julgamentos de Moscou, a gigantesca propaganda levada a cabo durante quase quinze anos em nome da luta contra ele, a calúnia incessante a que foi sujeito sob o regime de Stáltico e que os seus sucessores mantêm, contribuem para fazer do trotskismo uma tendência latente de milhões de homens. Se amanhã - um acontecimento muito possível - a contrarrevolução cedesse a um ataque frontal do proletariado, a Quarta Internacional poderia rapidamente emergir na Rússia como uma organização muito poderosa."

Munis repete em relação ao trotskismo, o mesmo argumento que usa contra o Stalinismo e a socialdemocracia: que TUDO PODE SERVIR O PROLETARIADO. Por quê? Porque o Stalinismo o designou "inimigo público número um", assim como os partidos de direita apresentam os "socialdemocratas e comunistas" como "socialistas perigosos". Ele acrescenta outro argumento, igualmente típico do trotskismo em relação aos socialdemocratas e stalinistas: "Haveria muitos trabalhadores que seriam seguidores desses partidos".

Que os partidos de esquerda sejam rivais da direita e sejam vilipendiados por ela não os torna "favoráveis ao proletariado", da mesma forma que sua influência entre os trabalhadores não justifica sustentá-los. Pelo contrário, devem ser denunciados pelo papel que desempenham ao serviço do capitalismo. Dizer que o trotskismo abandonou o internacionalismo e acrescentar imediatamente que "ainda teria um possível papel a desempenhar em favor do proletariado" é uma incoerência muito perigosa que impede o trabalho necessário de distinguir entre os verdadeiros revolucionários e os lobos capitalistas que usam a pele de cordeiro "comunista" ou "socialista". No Manifesto comunista, o terceiro capítulo intitulado "Literatura Socialista e Comunista" estabelece claramente a fronteira entre por um lado o "socialismo reacionário" e o "socialismo burguês" que coloca como inimigos e, por outro lado as correntes de "socialismo crítico utópico" que aprecia no campo proletário.

As "reivindicações transitórias"

A marca trotskista também se encontra em Munís quando propõe "reivindicações transitórias" à imagem do famoso Programa de Transição que Trotski apresentou em 1938. Como nós criticamos no nosso artigo "Para onde vai o FOR?"

"Em seu 'Por um Segundo Manifesto Comunista', o FOR considerou correto levantar todos os tipos de demandas de transição, na ausência de movimentos revolucionários do proletariado. Estes variam desde a semana de 30 horas, a supressão do trabalho à peça e o timing da fábrica até à "demanda de trabalho para todos, desempregados e jovens" no campo econômico. No nível político, o FOR exige "direitos" e "liberdades" democráticos: "liberdade de expressão, de imprensa, de reunião e o direito dos trabalhadores de eleger delegados permanentes de estabelecimentos, fábrica ou comércio", "sem qualquer formalidade judicial ou sindical" (Pro Segundo Manifesto p. 65-71). Tudo isso está dentro da "lógica" trotskista, segundo a qual basta selecionar bem as demandas para chegar gradualmente à revolução. Para os trotskistas, todo o truque é saber ser um pedagogo para os trabalhadores, que não saberiam o que reclamar; colocar diante deles as cenouras mais apetitosas para empurrar os trabalhadores para seu 'partido'."

Vemos aqui uma visão gradualista onde "o partido líder" administraria suas poções milagrosas para levar as massas à "vitória final", o que se faz ao preço de semear perigosas ilusões reformistas nos trabalhadores e embelezar o Estado capitalista, escondendo que suas "liberdades democráticas" são meios de dividir, enganar e desviar as lutas operárias. Os comunistas não são uma força externa ao proletariado que, através de suas "artes de liderança revolucionária", o conduza "no caminho certo". Já em 1843, Marx rejeitou esta visão dos "profetas redentores": "Não confrontamos o mundo em atitude doutrinária com um novo princípio: esta é a verdade, ajoelharmo-nos diante dela! Desenvolvemos novos princípios para o mundo baseados nos próprios princípios do mundo. Não dizemos ao mundo: "Ponha um fim as suas lutas, pois elas são estúpidas; nós lhe daremos a verdadeira consigna da luta". Nós nos limitamos a mostrar ao mundo porque ele está realmente lutando, e a consciência é algo que ele tem que adquirir, mesmo que não queira."[23]

O voluntarismo

O trabalho como uma fração, que a oposição de esquerda foi incapaz de conceber, permite aos revolucionários entender a evolução da relação de força entre a burguesia e o proletariado, para saber se estamos em uma dinâmica que nos permite avançar para a formação do partido de classe mundial ou, pelo contrário, estamos em uma situação em que a burguesia pode impor sua dinâmica à sociedade, levando-a à guerra e à barbárie.

Órfão dessa bússola, Trotski acreditava que tudo estava reduzido à capacidade de reunir uma grande massa de afiliados que poderiam servir como "liderança revolucionária" . Assim, quando a sociedade mundial se encaminhava para os massacres da Segunda Guerra Mundial marcados pelos massacres da Abissínia, a guerra espanhola, a guerra Sino-Japonesa etc., Trotski acreditava ter visto nas greves de julho de 1936 na França e na corajosa resposta inicial dos trabalhadores espanhóis ao golpe de Estado de Franco, "o início da revolução".

Incapaz de romper com este voluntarismo, Munis repete o mesmo erro. Como escrevemos na segunda parte do nosso artigo sobre Munis e Castoriadis: "Por trás desta recusa [de Munis] em analisar a dimensão econômica da decadência do capitalismo, está um voluntarismo insuperável, cujos fundamentos teóricos remontam à carta em que anunciou sua ruptura com a organização trotskista na França, o Partido Comunista Internacionalista, onde teimosamente sustentou a concepção de Trotsky de que a crise da humanidade é a crise da direção revolucionária."

Assim, Munis proclama que "Todas as explicações que tentam colocar a responsabilidade pelo fracasso da revolução em condições objetivas, no atraso ideológico ou nas ilusões das massas no poder do stalinismo, ou no apelo ilusório do "Estado operário degenerado", são erradas e servem apenas para desculpar os responsáveis, em desviar a atenção do problema real e dificultar a sua solução. Uma autêntica direção revolucionária, dado o atual nível de condições objetivas para a tomada do poder, deve superar todos os obstáculos, superar todas as dificuldades, triunfar sobre todos os seus adversários".[24]

Assim, uma "verdadeira liderança revolucionária" seria suficiente para eliminar todos os obstáculos, todos os adversários. O proletariado não teria que confiar em sua unidade, solidariedade e consciência de classe, mas confiar na bondade de uma "direção revolucionária". Este messianismo leva Munis a uma conclusão delirante: "A última guerra ofereceu mais oportunidades revolucionárias do que a de 1914-18. Durante meses, todos os Estados europeus, incluindo a Rússia, pareceram agredidos e desacreditados, passíveis de serem derrotados por uma ofensiva proletária. Milhões de homens armados aspiravam confusamente uma solução revolucionária (...) o proletariado, organizado revolucionariamente, poderia ter posto em prática uma insurreição comum a vários países susceptível de extensão continental (...). Os bolcheviques em 1917 não gozaram, de longe, de tão vastas possibilidades."[25]

Ao contrário da Primeira Guerra Mundial, a burguesia tinha se preparado conscientemente para a derrota do proletariado antes da Segunda Guerra Mundial: massacrado na Alemanha e na Rússia, alistado sob a bandeira do "antifascismo" nas potências democráticas, o proletariado ofereceu fraca resistência ao massacre. Houve o grande choque proletário no norte da Itália em 1943 que os aliados democráticos deixaram os nazistas esmagá-lo sangrentamente[26], algumas greves e deserções na Alemanha (1943-44) que os aliados se afogaram até a raiz com os terríveis bombardeios de Hamburgo, Dresden etc., sem qualquer objetivo militar, mas apenas para aterrorizar a população civil. Também a Comuna de Varsóvia (1944) que o exército russo deixou que os nazistas a esmagassem.

É abandonar-se ao ilusionismo mais suicida pensar que no final da Segunda Guerra Mundial "o proletariado, organizado revolucionariamente, poderia ter posto em prática uma insurreição comum a vários países." Com tais fantasias pouco se pode contribuir para a formação de uma organização proletária.

O sectarismo

Um pilar fundamental da organização revolucionária é a abertura e a vontade de discutir com as outras correntes proletárias. Já vimos como o Manifesto comunista considera com respeito e espírito de debate as contribuições de Babeuf, Blanqui e do socialismo utópico. Portanto, na Resolução sobre os grupos políticos proletários adotada pelo nosso 2º Congresso Internacional, destacamos que "A caracterização das diversas organizações que afirmam defender o socialismo e a classe trabalhadora é de suma importância para a CCI. Isto não é de modo algum algo abstrato ou puramente teórico; é, ao contrário, um guia na atitude que a Corrente mantém para com estas organizações e, consequentemente, na sua atividade para com elas: ou denunciando-as como órgãos ou produtos do capital; ou polemizando e discutindo com elas para ajudá-las a alcançar maior compreensão e rigor programático; ou encorajando o surgimento de tendências em seu meio que buscam tal compreensão"[27].

Ao contrário desta posição, Trotsky, como vimos antes, rejeitou o debate com Bilan e, em vez disso, abriu as portas para uma chamada "esquerda da socialdemocracia". Munis também foi afetado pelo sectarismo. Nosso artigo em homenagem a Munis reconhece com apreço que "Em 1967, em companhia de companheiros do grupo venezuelano internacionalismo, ele participou dos esforços para restabelecer contatos com o meio revolucionário na Itália. Assim, no final dos anos 60, com o ressurgimento da classe operária no palco da história, ele estará na brecha com as fracas forças revolucionárias existentes na época, incluindo aquelas que formariam a Revolução Internacional na França. Mas no início da década de 1970, infelizmente, permaneceu fora das discussões e tentativas de reagrupamento que resultaram em particular na constituição do CCI em 1975.

Este esforço não teve continuidade e, como dizemos no referido artigo (Castoriadis, Munis e o problema da ruptura com o trotskismo, segunda parte) "o grupo [referindo-se à FOR] sofreu uma tendência ao sectarismo que enfraqueceu ainda mais sua capacidade de sobrevivência. O exemplo desta atitude que mencionamos na homenagem foi o retumbante abandono de Munis e do seu grupo da segunda Conferência da Esquerda Comunista, alegando o seu desacordo com os outros grupos sobre o problema da crise económica."

Por mais importante que seja, um desacordo sobre a análise da crise econômica não pode levar ao abandono do debate entre os revolucionários. Isto deve ser feito com a máxima tenacidade, com a atitude de “"convencer ou ser convencido”, ", mas nunca batendo a porta nas primeiras mudanças sem ter esgotado todas as possibilidades de discussão. Nosso artigo aponta, com razão, que tal atitude afeta algo vital: a construção de uma organização sólida e capaz de manter a continuidade. O FOR não resistiu à morte de Munis e desapareceu definitivamente em 1993, como indicado no artigo (Munis e Castoriadis): "Hoje o FOR não existe mais. Ele sempre foi altamente dependente do carisma pessoal de Munis, que não foi capaz de transmitir uma sólida tradição de organização para a nova geração de militantes que se reuniram ao seu redor, e que poderia ter servido como base para continuar o funcionamento do grupo após a morte de Munis."

Da mesma forma que o peso negativo da herança trotskista impediu Munis de contribuir para a construção da organização, a atividade dos revolucionários não é a de uma soma de indivíduos, muito menos a de líderes carismáticos, é baseada em um esforço coletivo organizado. Como dizemos em nosso "Relatório sobre o funcionamento da organização revolucionaria" de 1982, "O período dos chefes ilustres e dos grandes teóricos terminou. A elaboração teórica tornou-se uma tarefa verdadeiramente coletiva. À imagem de milhões de combatentes proletários "anônimos", a consciência da organização se desenvolve com a integração e superação das consciências individuais na mesma consciência coletiva."[28] Mais profundamente, por mais importantes que sejam, "a classe operária não dá origem a militantes revolucionários, mas a organizações revolucionárias: não há relações diretas entre os militantes e a classe. Os militantes participam do combate de classes à medida que se tornam membros e se encarregam das tarefas da organização".[29]

Conclusão

Como afirmamos no artigo que publicamos em sua morte em 1989[30]: "Apesar dos graves erros que possa ter cometido, Munis permaneceu até o fim como um militante profundamente leal à luta da classe trabalhadora. Ele foi um daqueles militantes muito raros que estiveram sob as pressões da mais terrível contrarrevolução que o proletariado já conheceu, quando muitos desertaram ou mesmo traíram a luta militante, ele esteve mais uma vez ali, ao lado da classe no ressurgimento histórico de suas lutas no final dos anos 1960.

Lênin disse que, para os revolucionários, "depois de sua morte, tentam se tornar ícones inofensivos, canonizá-los, isto é, consagrar seus nomes para o "consolo" das classes oprimidas, a fim de enganá-las. Porque é que Nuevo Curso enche o seu blog com fotos de Munis, publica sem o menor olhar crítico alguns dos seus textos etc.? Porque é que o eleva ao ícone de uma "nova escola"?

Talvez possa ser um culto sentimental a um antigo combatente operário. Se for esse o caso, devemos dizer que o resultado será uma maior confusão, porque as suas teses, convertidas em dogmas, apenas destilarão o pior dos seus erros. Recordemos a análise precisa do Manifesto Comunista em relação aos socialistas utópicos e àqueles que mais tarde tentaram justificá-los: "embora alguns dos autores desses sistemas socialistas fossem em muitos aspectos verdadeiros revolucionários, seus discípulos hoje formam seitas inquestionavelmente reacionárias, que tremem e mantêm as velhas ideias de seus professores diante dos novos caminhos históricos do proletariado".

Outra explicação possível é que a autêntica Esquerda comunista está sendo combatida com uma "doutrina" de spam construída da noite para o dia, usando os materiais daquele grande revolucionário. Se for esse o caso, é a obrigação dos revolucionários de lutar com o máximo de energia contra tal impostura.

C.Mir 4-7-19


[1] Num artigo da Série sobre o Comunismo (IX - 1924-28: 1924-28: el Thermidor del capitalismo de Estado estalinista - o Termidor do Capitalismo de Estado Estalinista -, criticamos a utilização do termo "Termidor", muito típico do trotskismo, para caracterizar a ascensão e o desenvolvimento do stalinismo. O Termidor da Revolução Francesa (28 de julho de 1794) não foi propriamente uma "contrarrevolução", mas um passo necessário na consolidação do poder burguês que, além de uma série de concessões, nunca retornaria à ordem feudal. Por outro lado, a ascensão do stalinismo desde 1924 significou o estabelecimento definitivo da restauração da ordem capitalista e não representou, como Trotsky sempre pensou erroneamente, um "terreno socialista" onde "algumas conquistas de outubro" permaneceriam. Esta é uma diferença fundamental que Marx já pegou em El 18 de Brumário por Luiz Bonaparte, quando apontou que "As revoluções burguesas, como as do século XVIII, avançam rapidamente de sucesso em sucesso; seus efeitos dramáticos excedem uns aos outros; os homens e as coisas se destacam como gemas fulgurantes; o êxtase é o estado permanente da sociedade; mas estas revoluções têm vida curta; logo atingem o auge, e uma longa modorra se apodera da sociedade antes que esta tenha aprendido a assimilar serenamente os resultados de seu período de lutas e embates." O Termidor foi justamente um daqueles momentos de "assimilação" das conquistas políticas da burguesia, deixando espaço para as frações mais moderadas desta classe e mais propensas a pactos com as forças feudais, ainda poderosas).

[2] "La izquierda comunista no fue comunista de izquierda" -

[3] Os leitores podem visitar nosso site na seção sobre a Esquerda Comunista, onde você encontrará uma grande quantidade de documentação sobre ela. Ver Temas de reflexión y de discusión

[4] Trotskismo, filho da contrarrevolução

[5] Em 1926, a Oposição Unificada foi constituída entre os grupos provenientes do Manifesto dos 46 com os de Zinoviev e Kamenev, este último com um corte profundamente burocrático e manobrável.

[7] Tudo isso está amplamente documentado em O trotskismo, defensor da guerra imperialista

[8] Entre os indivíduos e pequenos grupos que se opuseram à traição das organizações da Quarta Internacional, devemos acrescentar também o RKD da Áustria (veja abaixo) e o revolucionários gregos Stinas que foi fiel ao proletariado e denunciou o nacionalismo e a barbárie bélica. Ver Documento - Nacionalismo e Antifascismo

[9] Ver, entre outros documentos, A esquerda comunista e a continuidade do marxismo ; Apuntes para una historia de la Izquierda Comunista - Notas para uma História da Esquerda Comunista.

[10] Como assinala o órgão Internacionalismo da esquerda comunista da França em seu artigo "O trotskismo, longe de promover o desenvolvimento do pensamento revolucionário e das organizações (frações e tendências) que o expressam, é um ambiente organizado para miná-lo. Esta é uma regra geral válida para qualquer organização política estrangeira ao proletariado, e a experiência mostrou que ela se aplica ao Estalinismo e Trotskismo. Vivemos o trotskismo durante 15 anos de crise perpétua, através de divisões e unificações, seguidas de outras divisões e crises, mas não conhecemos quaisquer exemplos que tenham dado origem a tendências revolucionárias reais e viáveis. O trotskismo, por si só, não secreta um fermento revolucionário. Pelo contrário, ele a aniquila. A condição para a existência e desenvolvimento de um fermento revolucionário é estar fora do quadro organizacional e ideológico do ." ".

[11] Ver, por exemplo, em Bilan No. 1, 1933, órgão da Fração Italiana da Esquerda Comunista, o artigo "Rumo à Internacional 2 e 3/4", que critica a perspectiva de Trotsky de avançar para a formação de uma Quarta Internacional.

[12] Ver, a este respeito, Anexo: Trotsky y la Izquierda italiana (Textos de la Izquierda comunista de los años 30 sobre el trotskismo) Trotsky e a Esquerda Italiana (Textos da Esquerda Comunista dos anos 30 sobre o Trotskismo)

[14] Ver ¿Cuales son las diferencias entre la Izquierda Comunista y la IVª Internacional? - Quais são as diferenças entre a Esquerda Comunista e a Quarta Internacional.

[15] Nascido em 1889 e falecido em 1970, fundou o Partido Comunista de Itália e deu um importante contributo para as posições da esquerda comunista, especialmente até 1926.

[16] "¿Hubo izquierda comunista en Uruguay y Chile?" - Havia uma Esquerda comunista no Uruguai e no Chile?

[17] "La "Izquierda comunista argentina" y el internacionalismo" - A "esquerda comunista argentina" e o internacionalismo

[18] Uma terceira tendência deve ser acrescentada: os RKDs austríacos destacaram-se do trotskismo em 1945. Internacionalismo discutiu com eles, no entanto, eles acabaram se transformando em anarquismo.

[19] Ver Castoriadis, Munis y el problema de la ruptura con el trotskismo I - Castoriadis, Munis e o problema da ruptura com o trotskismo I ; Castoriadis, Munis y el problema de la ruptura con el trotskismo II - Castoriadis, Munis e o problema da ruptura com o trotskismo II.

[20] Em 1948-49, Munis discutiu extensivamente com o camarada MC, um membro da Internationalisme, naquele período em que sua ruptura organizacional com o trotskismo amadureceu.

[21] Ver En memoria de Munis, militante de la clase obrera - Em memória de Munis, um militante da classe operária. ; Polémica: ¿Adónde va el F.O.R.? - Controvérsia: Para onde vai o F.O.R.? Crítica del libro jalones de derrota promesas de victoria - Crítica ao livro "marcos de Derrotar, promessas de vitória"; Las confusiones del FOR sobre Octubre 1917 y España 1936 - As confusões de FOR sobre outubro de 1917 e Espanha 1936, Revista internacional n°25  

[22] Manifiesto/ Manifesto/ Manifeste/ Manifesto 1961

[24] Carta abierta al Partido Comunista Internacionalista. Deveríamos acrescentar, como exemplo deste voluntarismo cego e no fundo desmobilizador, a experiência trágica de Munis. Em 1951 explodiu em Barcelona um boicote de bondes, uma manifestação muito combativa dos trabalhadores na noite negra da ditadura franquista. Munis se mudou para lá na esperança de "impulsionar a revolução", sem entender a relação de forças entre as classes. A Internationalisme e a MC desaconselharam esta aventura. No entanto, ele insistiu nisso e foi preso passando 7 anos nas prisões de Franco. Apreciamos a combatividade do militante e somos solidários com ele, mas a luta revolucionária requer uma análise consciente e não um simples voluntarismo ou, pior ainda, um messianismo, acreditando que, estando "presentes" nela, as massas estarão reunidas para levá-las à "Nova Jerusalém".

[25] Extraído do artigo La IVª Internacional

[26] La lucha de clases contra la guerra imperialista – A luta de clase contra a guerra imperialista – Italia 1943

[27] Resolución sobre los grupos políticos proletarios (1977) – Resolução sobre os grupos políticos proletários

[30] En memoria de Munis, militante de la clase obrera - Em memória de Munis, militante da classe operária.