O desaparecimento de um grupo proletário (OPOP) - Que lições?

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​Faz agora cerca de um ano e meio que agrupamento político OPOP[1] não deu mais sinais de vida política[2]. Pensamos que nos competia não permitir que o silêncio e a indiferença prevalecessem em torno deste evento, por duas razões principais. Em primeiro lugar, porque a luta histórica e internacional do proletariado tem a característica de dar à luz minorias revolucionárias e quando tal tentativa falha, como foi o caso da OPOP, devemos ser capazes de aprender com ela. Em segundo lugar, acontece que a CCI e OPOP desenvolveram uma relação contínua e até estreita durante um período de tempo, por isso temos uma responsabilidade particular de participar para assegurar que as lições sejam realmente aprendidas com o desaparecimento do OPOP.

Já vínhamos trabalhando há algum tempo em um artigo de balanço da existência deste grupo e se este trabalho chega bastante tarde, é porque não só foi necessário poder reunir, estudar e discutir todos os documentos úteis (incluindo a correspondência entre as nossas duas organizações), como também tomar a distância necessária para chegar a uma caracterização política o mais precisa possível. Da mesma forma, tivemos de ter em conta uma série de aspectos do funcionamento da OPOP, que no passado já tínhamos criticado, mas que, à luz de informações recentes que nos chegaram ao conhecimento, estão agora a tornar-se mais evidentes. Ao fazê-lo, tivemos de dar um passo atrás em relação também à nossa própria intervenção na direção desta organização, e acontece que ela nem sempre foi a mais adequada, porque tem sido demasiado conciliadora em relação às consideráveis debilidades dentro do OPOP, particularmente no que diz respeito à concepção, funcionamento e função da organização revolucionária.

A percepção tardia da gravidade de algumas destas fraquezas reais da OPOP não invalida, contudo, um juízo que fizemos da nossa relação com ela, nomeadamente a existência política potencial, no início, mas que infelizmente não pôde ser cultivada.

A fim de facilitar a leitura deste documento, destacamos a sua estruturação de acordo com as seguintes partes principais:

  • Os laços políticos entre OPOP e a CCI
  • Um primeiro período em que a possibilidade de uma evolução positiva ainda estava aberta
  • OPOP enfrentou limitações políticas importantes nunca superadas
  • A forma OPOP totalmente inapropriada para a vida política
  • Uma concepção errada da organização revolucionária que só poderia levar ao fracasso
  • A ruptura completa com a esquerda do capital é sempre um processo muito difícil
  • Do desenvolvimento político à esclerose e a explosão. Porquê?

I. Os laços políticos entre OPOP e a CCI

Encontramos OPOP pela primeira vez em 2005 e desde antão e durante alguns anos desenvolvemos com essa organização uma relação de confiança mútua alimentada por debates políticos abertos sem concessão, entre os quais alguns foram divulgados em nossas publicações respetivas[3].  Delegações da CCI e da OPOP foram convidadas a participar de congressos respectivos das duas organizações. Nossas organizações também efetuaram intervenções comuns em reuniões públicas no Brasil e em algumas lutas por meio de distribuições de panfletos comuns[4].

Mais do que o próprio desaparecimento da OPOP, é a forma como aconteceu que levanta questões: nenhuma declaração oficial desta organização, nenhuma análise produzida sobre o que aconteceu, nenhuma tentativa - mesmo por conta própria - de compreender problemas no seu seio que lhe tenham sido fatais.

O presente texto, que se dá como objetivo militante analisar as causas da falência da OPOP e de tirar lições disto, deve ser considerado na continuação das nossas polêmicas passadas com este grupo, as quais já evidenciavam erros políticos essenciais da OPOP. Entre elas e não a menor, uma incapacidade do grupo de se determinar criticamente em relação à continuidade histórica internacional da Esquerda comunista[5]. Com efeito, sendo o proletariado uma classe histórica, uma organização que se priva das lições que as minorias revolucionárias que permaneceram fiéis à causa do proletariado são capazes de lhe transmitir condena-se necessariamente à incapacidade de desempenhar um papel de vanguarda política. De fato, não são das antigas organizações de trabalhadores que traíram a causa do proletariado (Partidos Socialistas, Partidos Comunista, Trotskistas) que devemos esperar tais lições.

Apesar do esgotamento da dinâmica inicial do grupo que levou ao seu desaparecimento, não se pode excluir que exista ainda um sopro de vida entre alguns ex-militantes desta organização, não resignados à perca de esforços passados de clarificação política. Se realmente for o caso, esperamos que o presente texto talvez possa suscitar uma reflexão e os encorajemos a debater dele. Mais importante ainda, esperamos que as futuras tentativas coletivas de politização em Brasil y outros países possam aprender disto.

II. Um primeiro período em que a possibilidade de uma evolução positiva ainda estava aberta

Elementos do contexto político e da pré-história da OPOP

O período dos anos 1977-82 corresponde a uma efervescência política no Brasil, tanto do ponto de vista da luta contra os ataques às condições de vida da classe operária como da reflexão política.

De certa maneira, a fundação do PT em 1980 constituiu uma resposta da burguesia brasileira para enfrentar esta situação social, visando assim a orientar a luta do proletariado para becos sem saída. Função que os PC (Partido Comunista Brasileiro e Partido Comunista do Brasil) não estavam em condição de assumir por si mesmos.  Mesmo assim, este dispositivo das forças de esquerda (e extrema-esquerda) não conseguiu abafar totalmente a efervescência política como o que ilustra a própria história da OPOP cujo primeiro encontro, foi realizado nos dias 10 e 11 de dezembro de 1994[6].

A propósito da sua gestação política, OPOP diz: "A forma Oposição Operária, onde existe, não nasceu nem se fez de uma hora para outra, de uma vez. Pelo contrário, ela resultou de um processo longo de aproximações, retrocessos e rupturas, partindo sempre da situação de meras "oposições" a diretorias de sindicatos, para depois, ao longo de um aprendizado prático e teórico, saírem do terreno meramente sindical para se situarem no terreno de caráter autonomamente operário, anti-oficial e anti-capitalista. No princípio, todos militávamos na CUT, no PT, no sindicato e até fazíamos campanha para o Parlamento. Pouco a pouco fomos aprendendo, pela prática e a reflexão, a negá-los e a não reconhecer neles, necessariamente, nada mais do que formas de reprodução da ordem do capital, vale dizer, formas de submissão do proletariado à burguesia" (Carta de princípios - 2003)

As discussões que aconteceram no grupo e depois na própria OPOP percorreram um longo processo lento e difícil de ruptura com o conjunto da esquerda do capital, tocando alguns escritos essenciais de Pannekoek, Gorter ("Carta aberta ao camarada Lênin") mas sem ter havido um aprofundamento do que a Esquerda Comunista produziu na sua crítica ao oportunismo e à degeneração dos partidos comunistas. Em particular, a componente mais importante entre elas, a Esquerda Comunista Italiana, ficou totalmente desconhecida desses companheiros. A este respeito, não podemos deixar de perguntar por que razão esta omissão não seria o produto de uma abordagem política que carece de modéstia e tende a considerar-se auto-suficiente.  Assim, privados de vínculos internacionais, OPOP teve que "buscar seu próprio caminho".

Nos primeiros encontros que tivemos com OPOP, deu para constatar que eles tinham certos passos importantes no caminho na ruptura com as posições burguesas iniciais da esquerda do capital, o que se expressava mais em diversas posições de classe do que numa coerência global que faltara até o fim.

Um potencial de desenvolvimento político existiu na OPOP

Havia, no início, uma verdadeira vontade de romper com a esquerda do capital e de desenvolver o debate político.

O agrupamento OPOP tem demonstrado desde no  início uma verdadeira vontade de romper com a esquerda do capital e desenvolver o debate político.

Um número importante de posições proletárias significativas da OPOP foram adquiridas no contexto difícil de isolamento político que falamos. Neste contexto, alguns militantes foram capazes de resistir à ideologia dominante do anti-Leninismo, do anarco-conselhismo ou da idolatria leninista do esquerdismo para conseguir se reapropriar-se de alguns aspectos importantes da concepção de Lenin do partido.

Não é por acaso que o primeiro texto de tomada de posição da CCI sobre a carta de princípios do grupo OPOP em 2005 (Análise crítica da Carta de princípios), até hoje interna a nossas organizações respectivas, começava assim: "Este grupo é uma verdadeira expressão dos esforços da classe operária para se livrar da influência ideológica democrática e parlamentar, dos partidos de esquerda e dos sindicatos, verdadeiros órgãos de enquadramento do proletariado". De fato, a primeira "Carta de Princípios" da "Oposição operária" de 2003, defende as ideias seguintes:

  • Os soviets na Rússia e outros países constituíram os órgãos da luta revolucionária da classe operária e de seu poder sobre a sociedade;
  • Na Rússia, após a tomada do poder pelo proletariado,"A propriedade privada foi abolida, os pressupostos da produção e reprodução do capital permaneceram de pé (divisão e hierarquia do trabalho, formas de direção, privilégios, etc.), de “soviético” só ficou o nome e o capital pôde provar que não basta abolir a propriedade privada para ele desaparecer. O capital reapareceu sob a forma de um Capitalismo de Estado, dominado por uma burguesia de Estado";
  • Uma perspectiva, um projeto revolucionário, constituem um ponto de referência indispensável das lutas sociais;
  • A partir dos anos 1920, o peso da contrarrevolução (a qual, entretanto nunca é identificada com este termo na "Carta de princípios) sobre a consciência da classe operária explique ainda a ausência de uma tal perspectiva hoje;
  • A crise do capitalismo mundial desde o fim da fase de "prosperidade" depois da segunda guerra mundial é diferente das crises cíclicas do século XIX, ela é sistêmica;
  • A perspectiva que oferece o capitalismo aos operários é a miséria e a morte;
  • Os sindicatos, o parlamento, o Partido dos Trabalhadores (partido de Lula) são "nada mais do que formas de reprodução da ordem do capital, vale dizer, formas de submissão do proletariado à burguesia";
  • A democracia é a máscara hipócrita da ditadura da burguesia;
  • Contra os órgãos e as instituições (sindicatos) da burguesia, se deve opor a luta autônoma do proletariado;
  • A mobilização dos operários que ainda têm um trabalho é determinante para a luta dos desempregados;
  • As lutas parcelarias devem ser criticadas: "A mobilização contra os problemas reais da agressão ecológica, do racismo, … não são bandeiras capazes por elas mesmas de questionar o sistema porque não podem mobilizar a classe revolucionária (a classe operária) contra as raízes da exploração. Elas podem até mesmo alimentar a mistificação reformista quando descoladas do projeto revolucionário do proletariado" (Carta de princípios 2003)

Encontram-se também nesta carta de princípios, argumentações e conclusões de polêmicas passadas, internas ao grupo, acirradas, em crítica à concepção do Estado por Gramsci; a definição das classes sociais por E. P. Thompson (A Formação da Classe Operária Inglesa). Dá para entender a vontade de fazer com que combates políticos internos passados sejam concluídos de forma sintética para enriquecer o patrimônio teórico do grupo. Neste sentido é algo positivo que participa da definição política do grupo. O problema é que, um grupo político não se define unicamente por uma coleção de posições políticas. Tratar-se-ia então de um quadro teórico muito fraco se tais posições não se encaixassem numa coerência global, produto das lições do combate histórico do proletariado. Na verdade, esta coerência pouco existiu na OPOP.

Isto também é exemplificado pelo fato de que umas questões fundamentais do movimento operário não foram abordadas nas primeiras versões da carta de princípios:

  • O princípio de internacionalismo,
  • O papel dos revolucionários,
  • As origens da natureza contrarrevolucionária da esquerda do capital, do esquerdismo em geral e do trotskismo em particular, dos sindicatos;
  • As causas da derrota da primeira onda revolucionária mundial.

Na realidade, esta fraqueza é indicativa da dinâmica política da OPOP que além de tudo foi determinada pela necessária reação à atuação antioperária da esquerda, dos sindicatos, das instituições, sem por isso realmente conseguir a se colocar numa perspectiva revolucionária clara, com todas suas implicações políticas.

Essa crítica direcionada a OPOP não é nova, pois já a tínhamos formulado em parte pouco depois das primeiras reuniões entre nossas duas organizações. Foi ouvida como algumas outras críticas nossas. Isso resultou em discussões no seio da OPOP e, como resultado, em esclarecimentos significativos ou pequenas mudanças na formulação de posições de OPOP e também em réplicas escritas do grupo à CCI.

Mas, ao nosso ver, não houve no seio da OPOP uma reflexão mais geral e mais profunda no seio do grupo para fazer evoluir sua própria definição.

OPOP foi capaz de corrigir erros políticos significantes

Trata-se de erros ou omissões que foram corrigidas numa nova carta de princípios (2006), em particular as ideias seguintes:

  1. A Oposição Operária se coloca numa perspectiva internacionalista, "vez que o sistema do capital, nomeadamente um sistema em crise e em decadência (...) o sucesso das lutas anticapitalistas passa pela unificação internacional das forças dos trabalhadores avançados numa plataforma de organização unificada internacionalmente (...) a experiência das lutas dos proletários de todos os países do mundo não ensinam outra coisa"
  2. Afirmação explícita do papel fundamental de um partido de vanguarda revolucionário para a vitória da revolução. Além disso, é destacado a "Importância da teoria e da intervenção na classe, (...) todos os momentos de situações e crises revolucionárias devem ser potencializados e racionalizados segundo desenhos estratégicos e táticos direcionados para a revolução e a consequente construção socialistas. Porque, de colapso, o sistema capitalista, mesmo roto, não cai sozinho. Porque, se em cada momento, não for oferecida às massas a perspectiva de uma luta por elas desejada, a burguesia e seus assistentes darão uma outra direção, imporão um outro projeto."
  3. É uma responsabilidade de primeira importância por parte de uma organização revolucionária a denúncia da natureza e do papel de organizações contrarrevolucionárias que reivindicam um papel de defensor da classe operária: sindicatos, frentes de luta, ...
  4. Não deixar o terreno livre para a atuação dos sindicatos nas lutas.

III. OPOP enfrentou limitações políticas importantes nunca superadas

Uma defesa insuficiente do internacionalismo proletário

A pesar dos intentos de OPOP em colocar se numa perspectiva internacionalista, em nenhum lugar das publicações dela se encontra uma declaração intransigente em defesa do internacionalismo proletário.

Nunca há uma denúncia vigorosa de todas as formações políticas da esquerda à extrema esquerda que traíram o proletariado participando na guerra imperialista: os partidos socialistas face à Primeira Guerra Mundial, os PC e os trotskistas que fizeram o mesmo, face à Segunda Guerra Mundial.

Esta grande fraqueza da OPOP foi demonstrada, entre outras, dentro de um folheto co-assinado com grupos trotskistas sobre os conflitos no Médio Oriente, distribuído ao SP em 2006[7].

Diante da guerra, a "Carta de Princípios" evoca as reações que aconteceram no mundo para protestar contra as "agressões imperialistas" sem deixar bem claros que todos os países são imperialistas, e não somente os Estados-Unidos.

A OPOP nunca percebeu as mudanças históricas decorrentes da Primeira Guerra e da onda revolucionária mundiais

Por consequência, ela foi incapaz de se apropriar destes eventos históricos para definir um quadro histórico capaz de dar conta destes, a entrada do capitalismo numa nova época, a "era de guerras e revoluções" (Manifesto da IC em 1919), sua fase de decadência. Nem essa novidade foi  alguma vez associada por OPOP à irrupção mundial do imperialismo nessa época (como o evidenciaram Lênin e Rosa Luxemburg)

Do mesmo modo, também não parece atribuir qualquer importância ao fato de a traição definitiva da maioria dos partidos da Segunda Internacional ter tornado possível a guerra mundial. Isto é evidenciado por um documento desta organização - posteriormente retirado - que datou a passagem da socialdemocracia alemã para o campo do inimigo nos anos 1950. Além disso, logicamente, a OPOP não foi capaz de compreender como a abertura do novo período histórico se caracteriza, entre outras coisas e em particular, pela integração definitiva dos sindicatos no Estado capitalista. Com efeito, contrariamente a isso, a OPOP foi incapaz de fornecer uma base sólida para entender esta integração dos sindicatos ao Estado. Para ela, a tendência dos sindicatos para trair teria existido em todos os momentos como consequência do interesse expressado pelos dirigentes sindicais em apropriar-se de uma parte da mais-valia, em outros termos por se deixar corromper pelo Estado burguês. Ainda no caso do OPOP, só no final do século XX é que essa tendência se teria concretizado de maneira significativa[8].

Assim como as mudanças na vida econômica do capitalismo não são vistas como o produto do novo período, especialmente com as crises cíclicas do século XIX que deram lugar a uma situação de crise permanente, em que as fases de prosperidade relativa apenas preparavam o caminho para as fases de depressão. Incapaz de fornecer uma base sólida para esta mudança, a OPOP foi incapaz de ver, quanto mais de compreender, a crise dos anos 30.

A primeira causa da degeneração da revolução russa, o isolamento, nunca foi compreendida

Em diferentes momentos, a OPOP apresentou diferentes causas que explicam o fracasso da revolução russa: a falta de preparação  para a gestão da sociedade, o peso do feudalismo e do campesinato na Rússia, o carácter minoritário do proletariado na Rússia, etc.[9] Em total contradição com o reconhecimento da impossibilidade do socialismo em um único país, ela deduziu desses fatores que o contexto russo determinou em grande parte o destino da revolução naquele país. Não vê que o proletariado tinha perdido gradualmente o poder lá:

  • Porque ele foi massivamente mobilizado na guerra civil imposta pelo capitalismo mundial contra a Rússia Soviética;
  • Por conta do isolamento que o capitalismo mundial lhe impôs e da incapacidade da revolução mundial de se espalhar;
  • Tudo isso agravado por erros que levaram à absorção pelo Estado do partido bolchevique e da ditadura do proletariado.

Uma concepção errada da natureza do Estado, de qualquer estado.

O Estado não é o produto de uma determinada classe, é como Engels apontou, o produto de toda a sociedade dividida em classes antagônicas. Mas, identificando-se com as relações de produção dominantes (e, portanto, com a classe que as encarna), sua função é preservar a ordem econômica estabelecida e, portanto, os interesses da burguesia.

Após a revolução proletária vitoriosa, diferentes classes sociais persistem, mesmo após a derrota da burguesia a nível internacional. O Estado do período de transição que então emerge é a emanação de uma sociedade ainda dividida em classes e não pode em nada ser o motor de transformação da sociedade. Isto é o que A OPOP não entendeu, nem compreendeu que só o proletariado, organizado nos seus conselhos operários, exercendo sua ditadura sobre o Estado e a sociedade como um todo, está em condições de assumir a transformação social.

Esta falha de OPOP em abordar a questão do Estado tem implicações sobre uma teoria própria a este grupo, ou seja: do "pré-Estado". Voltaremos a isso mais tarde.

Uma profunda incompreensão do que não é a revolução proletária

Para nós e mais geralmente para o marxismo, a única revolução na agenda no capitalismo é aquela que deve derrubar este sistema e estabelecer uma nova sociedade livre da exploração e da guerra, o comunismo. O sujeito desta revolução é a classe dos trabalhadores assalariados, produtores da maior parte da riqueza social, o proletariado.

A OPOP não estava suficientemente clara de que a  única tentativa revolucionária mundial que ocorreu foi a primeira onda revolucionária mundial. De fato, ela acredita na ocorrência de outras,  uma vez que detecta situações revolucionárias no mundo onde não havia nada disso.: "Nestes países, face sua cada vez mais clara inviabilidade capitalista, a crise provoca um tão alastrado descontentamento e uma tão acentuada descrença nas instituições “democráticas” falidas, que a população, num número crescente deles, já ensaia um novo seriado de guerras civis (Argentina, México, Colômbia, Equador, Venezuela), podendo repetir, num grau certamente mais elevado, movimentos como os que se alastraram por toda a década de 70 do século passado. O mundo parece dar emergência a um punhado de situações e crises autenticamente revolucionárias." (Sublinhado por nós)

Este erro de avaliação da situação está ligado a outro, expressa na primeira carta de princípios e que tende a confundir a luta da classe operária com os movimentos populares das camadas sociais "oprimidas" ou com os movimentos interclassistas: "O que acontece de novo na forma Oposição é que cada luta específica é também uma luta geral e deve buscar a solidariedade do conjunto do povo oprimido" (sublinhado por nós). Antes que a classe operária possa liderar as camadas oprimidas, sem correr o risco de ser esmagada por elas, ela deve primeiro afirmar-se como a única classe capaz de realizar o projeto de uma outra sociedade como alternativa ao capitalismo.

O que falta, portanto, na "Carta de princípios" é colocar em evidência o papel central e único da classe operária que, só ela, é capaz de desenhar uma perspectiva revolucionária capaz de levar atrás dela camadas exploradas da sociedade.

Uma incompreensão sobre o que são e não são os conselhos operários

A "Carta de Princípios" não apresenta os conselhos operários como o produto de uma necessidade da luta de classe dentro das condições que correspondem à nova época do capitalismo (a da decadência) mas como o resultado duma visão abstrata destinada a encontrar uma solução face à evidência da impossibilidade de utilizar os sindicatos na atualidade.

Ao contrário do que ressalta dos esquemas desenvolvidos na Carta de Princípios, os conselhos operários não são o produto de um trabalho de organização prévio e progressivo (como podia acontecer com os sindicatos) mas surgem espontaneamente quando existe uma situação de crise revolucionária assim como aconteceu pela primeira vez em 1905 na Rússia.

Ao contrário dos sindicatos, eles não são órgãos permanentes com objetivo de obter reformas no seio do sistema : não  podem existir fora da mobilização operária. A função deles é precisamente a confrontação ao Estado capitalista (a dimensão política da luta) que na sua fase de decadência torna-se incapaz de conceder reformas duradouras. Órgãos do duplo poder durante as fases revolucionárias, eles são a forma que corresponde à ditadura do proletariado depois da tomada do poder. Mas não tendo realmente entendido por que os sindicatos são necessariamente contra a luta de classes, a OPOP não pode entender que os conselhos operários não podem ser órgãos permanentes da luta da classe trabalhadora, desde quando esta não esteja mobilizada em um nível muito elevado em um período pré-revolucionário.

Além disso.., a  "Carta de Princípios" se equivoca quando chama de conselhos operários, formas de mobilização que não tem nada a ver com a luta autônoma do proletariado, por exemplo como na Espanha 1936. Neste último caso, longe de atacar o Estado burguês destruí-lo, como foi o caso em outubro de 1917 na Rússia, os trabalhadores foram desviados e recrutados para a defesa do Estado republicano. Nesta tragédia, a CNT, anarquista, o sindicato mais poderoso, desempenhou de fato um papel de liderança, mas antioperária, desarmando os trabalhadores, empurrando-os no sentido de abandonar o terreno da luta de classes para capitular e enganá-los, entregando-os, de pés e mãos atadas, ao Estado burguês. Em vez de atacar o Estado para destruí-lo, como sempre afirmaram querer fazer, os anarquistas ocuparam cargos ministeriais.

Quanto às coletividades anarquistas onde se praticava a autogestão, quer dizer a organização pelos próprios operários, da sua exploração no seio do capitalismo, elas não tinham absolutamente nada a ver com os conselhos operários[10]

A incompreensão da impossibilidade na decadência do capitalismo de manter em permanência órgãos de defesa das condições de vida do proletariado

Em geral, a OPOP demonstrava não entender que as tentativas para tornar permanentes as assembleias ou os comitês de greve (o que preconiza a "Carta de Princípios") já foram condenadas por  experiência própria da classe operária: "A única atividade que pode gerar uma organização estável num terreno de classe, fora dos períodos de luta, não pode ser concebida para o curto prazo. Situando-se ao nível do combate histórico e global da classe, que é o da organização política proletária, há que tirar lições da experiência histórica operária, reapropriando o programa comunista e intervindo politicamente. Ora, esta é uma tarefa de minorias e não pode constituir uma base de agrupamento geral, unitário da classe.  A incapacidade de ser, ao mesmo tempo, uma organização unitária e uma verdadeira organização política, condena as organizações híbridas (unitárias e políticas) a se dissolver ou a se manter ilusoriamente vivas sob a forma de sindicatos." (Os sindicatos contra a classe operária).

A aberração, do ponto de vista do marxismo, da teoria do "pré-Estado"

Uma entre as motivações que contribuíram para esta “brilhante” inovação, exposta por OPOP nas discussões entre as duas organizações, é fazer com que, na futura revolução, o poder dos sovietes não seja "confiscado" como na Rússia depois da revolução! Como se este confisco fosse, como alega OPOP, o resultado de uma falta de preparação! Na realidade, foi o resultado de um equilíbrio de poder desfavorável ao proletariado frente à burguesia a nível internacional, e, também, de incompreensões da vanguarda quanto ao que representa o estado do período de transição.

Estamos de fato a falar de pura aberração devido a duas razões:

  1. O "pré-Estado" é uma entidade que, segundo OPOP, desde já, se constrói até se tornar o estado proletário. Progressivamente, como se fosse possível pelo proletariado edificar desde já na sociedade capitalista os órgãos do futuro poder proletário. Trata-se de gradualismo grotesco que, na primeira carta de princípios, até se esquece de falar da necessária insurreição.
  2. Estaríamos assim em presença de uma entidade, o Estado, que por natureza e pelo marxismo tem um papel conservador na sociedade dividida em classes, se tronaria magicamente um órgão de transformação revolucionária da sociedade.

IV. A forma OPOP totalmente inapropriada para a vida política

De fato, na nossa opinião, um obstáculo crescente à clarificação política da OPOP resultou da forma como o grupo estava organizado, como funcionava e com que objetivos. É certamente sobre esta questão que foi necessário um "esforço de esclarecimento" e que um profundo questionamento deveria ser levado a cabo. Tanto quanto sabemos, não foi o caso e o fato da CCI não ter sido mais "ofensiva" sobre esta questão nas discussões com a OPOP é uma crítica que deve ser feita à nossa intervenção. Em particular, teria sido necessário ser capaz de colocar o problema da forma mais teórica possível, possivelmente através de polêmicas públicas, com vista a provocar a reflexão no grupo, a fim de o levar a colocar-se as verdadeiras questões: Qual poderia ser a função política da OPOP, para ser útil à causa do proletariado? Como se organizar para isso?

Se olharmos agora para as considerações políticas que presidiram à definição da forma OPOP, torna-se claro porque é que isto levou a um resultado catastrófico sobre o qual discutiremos mais detalhadamente no resto deste texto.

Como a OPOP justifica sua própria forma de organização?

Com base nos elementos de ambas as citações de diferentes versões[11] da carta de princípios de OPOP, obtém-se a seguinte síntese:

"No Brasil, é muito difícil sobreviver uma forma como OPOP e ainda mais difícil criar e desenvolver um partido de quadros marxistas. Por quê? Porque não há tradição nem memória revolucionária neste país. (...) A OPOP não é um partido de quadros. (...) É óbvio que a plataforma programática da OPOP não tem a coerência que seria a de um partido de quadros tipo leninista. Mas negar, por causa desta ambiguidade, a vontade da OPOP e dizer que, não sendo um partido de quadros, não pode abraçar uma perspectiva revolucionária, é um julgamento sectário. (...) Alguns dos seus militantes estão convencidos da urgência de um partido de quadros, e até acham benéfico que OPOP acabe por formar militantes que, através da sua evolução, contribuam para a formação, num futuro imprevisível, de um partido de quadros."

Qual é o significado político para OPOP da expressão "partido de quadros"? Isto não é muito claro para nós. No que nos diz respeito, esta formulação refere-se à ideia de militantes politicamente formados capazes de transmitir e enriquecer a experiência do movimento operário, tendo em vista, a longo prazo, a formação de um partido de vanguarda da classe trabalhadora. Do ponto de vista da esquerda e da extrema esquerda do capital, herdeira da contrarrevolução, esta formulação refere-se à função de enquadramento do proletariado. Não estamos em posição de dizer claramente qual destes dois polos opostos a OPOP estava mais inclinado. Tudo o que podemos dizer é que a forma como a OPOP justifica sua forma de organização expressa o mais profundo ausência e incompreensão sobre o tipo de organização necessária para a vanguarda revolucionária.  

Na citação acima, podemos identificar claramente o medo do isolamento como um fator que levou a OPOP a escolher deliberadamente a forma híbrida de organização, ou seja, ao mesmo tempo, a defesa dos interesses imediatos do proletariado (uma "organização de massas") e a defesa dos seus interesses políticos (a luta pelo comunismo) : "As condições que tornam muito difícil no Brasil a criação de um grupo político marxista, para existir é necessário então abrir as portas mais amplamente, relaxando os critérios de adesão."

Contrariamente a um desejo vago expresso na Carta de Princípios, a própria forma da OPOP constitui uma limitação à possibilidade de aumentar e reforçar a sensibilidade para a necessidade de um partido de vanguarda. Com efeito, caso contrário, faria claramente parte dos seus objetivos políticos, como é, por exemplo, a denúncia da esquerda, dos sindicatos, ...

Muito pelo contrário, os documentos programáticos são muito pouco claros sobre a questão: "Parte de seus militantes está convencida da necessidade urgente de um partido de quadros, (...)esses membros não impõem à OPOP nenhum estilo de prática e de doutrina partidária própria de partido de quadros". De que serve colocar o problema de uma formulação tão implausível para um documento político? De fato, não serve nem mais nem menos do que esconder a realidade da escolha da OPOP para não mencionar a importância de um partido de vanguarda como condição para aderir a OPOP.

Um nevoeiro de oportunismo para tentar esconder escolhas oportunistas

O conceito de oportunismo, tal como historicamente usado no movimento operário, não serve para caracterizar atitudes políticas dentro da burguesia, mas dentro das organizações da classe operária. O oportunismo é uma manifestação da penetração da ideologia burguesa nessas organizações e é expresso em particular, seja por uma rejeição ou ocultação dos princípios revolucionários e do quadro geral das análises marxistas, ou por uma falta de firmeza na defesa desses princípios. Um dos exemplos mais infames do oportunismo foi o que ocorreu dentro dos partidos da Segunda Internacional, que foi cada vez mais abandonando o programa "máximo" - a revolução - e priorizando do programa "mínimo" – quer dizer a realização de reformas.

E a forma como a OPOP justifica a sua própria forma organizacional é precisamente uma abordagem oportunista. Ao mesmo tempo, porém, a OPOP não gostaria de ser criticado por isso.

A relativização pela OPOP deste princípio do marxismo (a necessidade de um partido do proletariado) é tão flagrante (ainda que, nas palavras da OPOP, é apenas uma simples "ambiguidade" assumida) que, para esconder a sua realidade, os próprios autores da Carta de Princípios inventaram um novo conceito político, muito vago e supostamente caracterizando a verdadeira dinâmica da OPOP que "abraça uma perspectiva revolucionária".

E como num passe de mágica pudesse não ser suficiente, a OPOP diz que de qualquer forma não é ela que é oportunista, mas os outros que são sectários quando colocam o dedo no seu próprio oportunismo: "Mas negar, por conta dessa ambiguidade, a disposição da OPOP e dizer que ela, por não ser um partido de quadros, não pode abraçar uma perspectiva revolucionária, é um juízo de sectarismo".

É enganar-se a si própria e aos outros utilizar a afirmativa de que "Parte de seus militantes está convencida da necessidade urgente de um partido de quadros, e até acha salutar que a OPOP acabe formando militantes que, pelo seu avanço, acabem por contribuir para a formação, em futuro não previsível, de um partido de quadros". Na verdade, tal desejo, quando é afastado da realidade e do significado político da luta de Lênin por um partido de vanguarda (correspondente às necessidades da revolução em ruptura com as anteriores formas obsoletas do movimento operário), permanece um ideal abstrato, uma fórmula vazia.

V. Uma concepção errada da organização revolucionária que só poderia levar ao fracasso

A nível político geral, portanto, deve-se concluir, para o balanço político da OPOP, que existe uma falta de coerência programática, o que, a princípio, é normal para um grupo cujos membros estão em ruptura com as posições políticas da esquerda do capital. Isto torna-se comprometedor para o futuro quando o grupo em questão, após mais de uma década de existência, ainda não tinha sido capaz de :

  • Adquirir uma estrutura histórica coerente para compreender a evolução da vida do capitalismo (decadência) e as consequências para a luta de classes;
  • Relacionar-se criticamente com a continuidade política das organizações que surgiram das lutas contra a degeneração e traição dos PCs e do Trotskismo, quer dizer a Esquerda comunista com seus diferentes componantes;
  • Assumir no que lhe cabe, tanto dentro quanto fora da organização, a luta necessária contra o oportunismo, ou seja a influência do peso ideológico da burguesia e da pequena burguesia;

Estas deficiências gerais significativas estão ligadas a um conjunto de fraquezas:

Uma visão estreita do seu papel como minoria revolucionária

Uma abordagem que não seja resolutamente internacionalista tem consequências potencialmente dramáticas para a defesa deste princípio na intervenção junto da classe trabalhadora. Mas além disso, uma deficiência na visão internacionalista também tem consequências negativas para a forma como se concebe a si mesmo como uma minoria revolucionária, na medida em que induz necessariamente uma percepção estreita da sua função, acumulando com os efeitos idênticos de uma incapacidade de se enquadrar numa continuidade política histórica crítica. Muito pelo contrário do que é necessário para poder contribuir positivamente para o processo que conduz à constituição do futuro partido mundial da revolução.

A falta de uma profunda convicção da necessidade da luta pelo comunismo

Foi apenas com dificuldade que a OPOP assumia plenamente sua orientação comunista revolucionária, por medo de ser mal compreendida ou rejeitada, e invocando sobre este assunto o caráter retrógrado do proletariado no Brasil, ou o perigo da repressão. Neste sentido, é bastante significativo que nem o seu nome "Oposição Operária" nem o da sua publicação "Germinal" se refiram à revolução, ao internacionalismo, ao comunismo. Do mesmo modo, a sua atividade careceu claramente da marca da paixão pelo esclarecimento político ao serviço de uma causa comum que vai para além de cada um de nós.

A ausência de pontos de referência históricos básicos

As questões da relação entre a organização da classe trabalhadora e a do seu papel não se colocam em si mesmas, nem são produto da especulação de "pensadores esclarecidos". São questões teóricas que evoluíram com as necessidades da luta da classe trabalhadora.

Sendo incapaz de se referir às críticas feitas pelas várias correntes da Esquerda Comunista à degeneração da revolução russa, a OPOP é incapaz de se distinguir claramente da extrema esquerda do capital quando, na forma do "leninismo" dos trotskistas e maoístas, apresenta os erros da revolução e seus famosos militantes em verdades intocáveis. Mesmo que, em certas questões, a OPOP seja capaz de se distanciar do catecismo esquerdista, criticando o que chama de "ambiguidades" de Lênin após a tomada do poder (sem compreender, porém, o peso do isolamento da revolução e sua degeneração na origem de alguns dos erros do grande revolucionário), era inevitável, nestas condições, que a OPOP tivesse a maior dificuldade em compreender o papel da organização revolucionária na era das guerras e revoluções.[12] Em particular que:

  • A organização revolucionária é uma parte da classe. Não é nem separada nem confundida (idêntica) com a classe. Não é nem uma mediação entre o ser e a consciência de classe. É uma forma particular dela, a parte mais consciente dela. Portanto, não inclui toda a classe, mas a sua fração mais consciente e ativa. Nem o partido é a classe, nem a classe o partido.
  • A organização, seja ela ainda que reduzida em tamanho, seja um partido desenvolvido, já não prepara ou organiza a classe, e menos ainda a revolução realizada por todo o proletariado;
  • É uma minoria mais reduzida do que no passado, porém mais consciente, selecionada por seu programa e sua atividade política, que consiste em lutar pelo comunismo, não mais pela simples propaganda de um objetivo distante, mas por sua inserção direta na grande luta pela revolução mundial.

Contra a corrente das necessidades da luta histórica da classe trabalhadora

Seu projeto de organização híbrida, além de constituir uma tentativa de escapar ao isolamento também expressa o peso sobre a OPOP de um passado longínquo em que as organizações de defesa dos interesses imediatos - os sindicatos, que ainda não estavam integrados no Estado capitalista, estas escolas de comunismo nos termos de Marx, poderiam constituir um instrumento para a influência da organização política no seio do proletariado. Com efeito, na visão do OPOP, a pré-Estado, constituído por uma rede de círculos operários construída progressivamente no seio da sociedade capitalista, substitui os sindicatos atualmente inutilizáveis. E, tal como na época em que os sindicatos serviram de correia de transmissão aos partidos socialdemocratas, o pre-Estado de amanhã assumiria a mesma função em relação à OPOP. É possível que isto não corresponda ao projeto consciente da OPOP, mas objetivamente é sua lógica interna.

A insuficiência de reais princípios políticos

Na ausência de uma bússola baseada em princípios político claros, havia a tendência - que temos apontado - dentro da OPOP em se confiar muitas vezes, em diversas questões, em certezas como se fossem dogmas, com frequência emanando de intelectuais cuja profissão acadêmica ou hobby é o estudo do marxismo. A mesma fraqueza também pode levar, como aconteceu na história, a um alinhamento acrítico por trás da autoridade política de alguns militantes, que por sua vez têm total liberdade "para agir por sua própria vontade" ou apesar de quaisquer considerações organizacionais. Este foi particularmente o caso da Oposição Internacional de Esquerda (OIE) no final da década de 1920 e início da década de 1930, que foi afetada por fraquezas dramáticas deste tipo: a falta de princípios dentro dela e a atitude de Trotsky, que na época havia sido criticada pela Fracção Italiana, principalmente através de uma carta dirigida a esta última, datada de 19 de Junho de 1930.  Um artigo da CCI volta sobre este evento: "É em 1929, com a expulsão de Trotsky da URSS, quando a Oposição Internacional de Esquerda (OIE) organiza-se de maneira mais centralizada e consequente. Este acontecimento é de uma importância capital para o movimento revolucionário, é a possibilidade oferecida aos diferentes grupos ou núcleos oposicionistas de reagrupar-se, de entrar em contato, de organizar-se. O papel de Trotsky vai ser decisivo. O que vai fazer? De fato, no curso deste período ele terá um papel negativo, a política pessoal que vai levar no seio da Oposição leva à dissipação e à dispersão das energias revolucionárias. Sua política se funda sobre a convicção de que o período continua sendo favorável para a revolução.

Mas, teria que tirar todas as lições da onda revolucionária dos anos 20, fazer um "balanço" e sobre esta base estabelecer uma plataforma política, sólida, para consolidar o movimento revolucionário. É isto a que se propõe a Fração italiana: "o problema central da crise do movimento comunista reside na localização e na análise de quais causas que nos levaram ao desastre atual"[13]. Para a Conferência de abril de 1930, a Fração tinha elaborado um documento que insiste sobre esta necessidade de um balanço e um reexame dos acontecimentos passados"." (Trotsky e o trotskismo)

De acordo com nossas próprias observações, a crítica dirigida anteriormente à OIE e Trotsky também se aplica ao OPOP. A comparação para aí porque, sejam quais forem as verdadeiras fraquezas de Trotsky em matéria de organização, seria descabido tentar esboçar a menor semelhança entre o grande militante revolucionário e os militantes da OPOP.

Certos princípios pisoteados

Houve momentos na OPOP em que os princípios básicos do movimento operário foram pisoteados, como a manutenção de laços políticos e culturais com organizações da esquerda do capital. De fato, é difícil acreditar que dentro desta organização tenha sido tolerado que um de seus membros tivesse tais ligações com o Partido Comunista do Brasil (PCB) e tivesse uma contribuição escrita em seu próprio nome, "Por que a essência não pode ser apropriada imediatamente?" publicada no site de uma fundação desta organização em novembro de 2013. Mas neste caso, há um assunto ainda mais sério, já que é a organização OPOP que está indiretamente, mas explicitamente, envolvida neste processo. É sim, na introdução pelo PCB desta publicação, está associado o nome de OPOP à fundação da qual o autor participou e de seu jornal Germinal[14]. É desnecessário dizer que, antes desta descoberta, a CCI não conhecia a "dupla vida militante" deste membro da OPOP, nem conhecia a tolerância da OPOP face a tais práticas, se ela própria as conhecia. Se a OPOP de fato tolerou conscientemente tal comportamento, a CCI só pode sentir-se enganada por acreditar na autenticidade do compromisso revolucionário deste grupo.

A incapacidade de ser o cadinho da homogeneização e do aprofundamento político coletivo[15]

Se o debate é o sangue vital da classe operária, é ainda mais para suas organizações revolucionárias onde deve ser colocado ao serviço do esclarecimento tanto para a compreensão do mundo e da intervenção na classe trabalhadora como perante todas as questões que se colocam ao nível do seu funcionamento interno. A existência de divergências dentro delas é a manifestação de que é um órgão vivo que não tem respostas prontas para abordar imediatamente os problemas que surgem diante da classe. O marxismo não é nem um dogma nem um catecismo. É o instrumento teórico de uma classe que, por meio da sua experiência e tendo em vista o seu futuro histórico, avança gradualmente, com altos e baixos, para uma consciência que é condição indispensável para a sua emancipação. Como qualquer reflexão humana, a que preside ao desenvolvimento da consciência proletária não é um processo linear e mecânico, mas sim contraditório e crítico. Envolve necessariamente o confronto de argumentos.

Para ser indispensável, não basta compreender o que é o debate proletário. Para ser produtivo, este debate deve ser conduzido com um método científico e rigoroso que estabeleça claramente onde começa, o que deve ser clarificado, os limites do assunto a discutir, a sua origem, o seu contexto, as posições no seio do movimento operário, o seu progresso no seio do grupo com as diferentes posições envolvidas, as conclusões provisórias sobre as quais será necessário continuar a debater, assegurar que foram dadas respostas pormenorizadas a todas as posições envolvidas.

Em nossa opinião, porém, a OPOP teve grande dificuldade em implementar tais princípios e tal rigor organizacional. Isto estava implícito e até explícito no fato de, por exemplo, nunca ter tomado uma posição política sobre a sua participação em vários congressos da nossa organização, apesar de, por vezes, as delegações da OPOP em causa terem levado a cabo projetos submetidos à sua organização. Isto foi um reflexo de quê? Falta de rigor político ou de coragem política? Da mesma forma, a OPOP nunca respondeu às nossas próprias posições após a nossa participação em alguns dos seus congressos, o que por vezes suscitava críticas.

A OPOP não tinha nem o quadro organizacional nem a vontade política para assumir um verdadeiro debate coletivo e associado dentro da organização. Uma característica perniciosa é sobreposta a esta deficiência: a tendência dentro da OPOP de criar "uma organização dentro da organização".

A OPOP era uma organização muito heterogénea, incluindo em questões políticas da sua Carta de Princípios. A este respeito, pareceu a todos os que entraram em contato com esta organização que alguns dos seus membros, os mais antigos do grupo, eram de certa forma os fiadores da identidade e da sustentabilidade política das suas posições. Não é de modo algum chocante que os camaradas com maior experiência política na OPOP tivessem que assumir responsabilidades acrescidas na defesa das posições desta organização.

O problema aqui é que a carta de princípios (ou uma de suas muitas variantes) torna possível deduzir que os camaradas mais avançados, são os próprios militantes que estão "convencidos da urgência de um partido de quadros".  Como resultado, estes camaradas encontram-se assim dotados de confiança política, o que por si só não é prejudicial desde que verificada e não sacralizada ou, por outras palavras, não é imposta face a qualquer questão nova, constituindo assim um obstáculo prejudicial à clarificação política. De fato, a clarificação política coletiva será afetada desde o início e poderá mesmo ser impossível a longo prazo se, dentro da organização, algumas pessoas estiverem numa posição de liderança ou de brilhante pensador enquanto, ao mesmo tempo, outras tendem a adoptar uma atitude mais seguidores em relação ais primeiros. [16]

Além disso, tal situação de organização dentro da organização torna-se uma fonte de crise aberta logo que começam a desenvolver-se diferenças reais, ou mesmo tensões, dentro deste núcleo de garantidores da  OPOP ou entre este e os demais membros da organização, quando não existem, ao mesmo tempo, uma concepção e regras de funcionamento internas suficientemente claras e partilhadas para manter a coesão política, mesmo no caso de lutas políticas, que são, contudo, inevitáveis em qualquer organização política viva.

Um método de recrutamento oportunista

Houve muitas vezes, nesta organização, uma pressa na admissão de novos membros, enquanto que, obviamente, alguns deles ainda estavam em processo de reflexão. A este respeito, a OPOP herdou métodos de recrutamento esquerdistas, cujo primeiro critério é a própria adesão – condição para o crescimento em número - e não a profunda convicção daquele que adere. No mesmo sentido, deu para assistir a tentativas, da parte de OPOP, de afastar alguns de seus contatos de certas influências e reflexões que os poderiam ter desviado da adesão à OPOP. A superficialidade de algumas dessas integrações explica, em parte, por que terminaram rapidamente em fracasso.

Uma intervenção exterior que, por vezes, era claramente oportunista

Sempre foram toleradas, dentro desta organização,  visões políticas que são contrárias à sua carta de princípios. Assim, em várias ocasiões, vimos vozes da OPOP, em suas próprias reuniões públicas ou em outros eventos, que reivindicavam, como componente ou meio da luta da classe trabalhadora pela sua emancipação:

  • O feminismo, enquanto a sua carta de princípios é precisamente crítica às lutas parciais;
  • A propaganda a favor do Movimento Sem Terra, por meio de bandeiras  desta organização colocados por alguns militantes;
  • Uma militância puramente sindicalista por parte de alguns dos seus militantes de São Paulo.

VI. A ruptura completa com a esquerda do capital é sempre um processo muito difícil

Uma lição a ser aprendida das muitas tentativas de ruptura com a esquerda do capital e sua ideologia é que também devemos aprender a nos livrar do que a militância inculca nestas organizações, ou seja, graves deformações que vão além das posições políticas por si só, porque também afetam de forma muito negativa a visão da organização, do comportamento político dentro dela.

Com efeito: "é possível romper com as posições políticas destas organizações (sindicalismo, defesa da nação e nacionalismo, participação em eleições, etc.), porém, é muito mais difícil livrar-se das atitudes, do modo de pensar, do modo de debater, dos comportamentos, das concepções, que estas organizações injetam em grau supremo e que constituem seu modo de vida. Esta herança, o que chamamos de herança oculta da esquerda do capital, contribui para provocar dentro das organizações revolucionárias tensões entre camaradas, desconfiança, rivalidades, comportamentos destrutivos, bloqueios de debate, posições teóricas aberrantes, etc., que combinadas com a pressão da ideologia burguesa e pequeno-burguesa lhes causam muito dano. O objetivo da série que iniciamos é identificar e combater este lastro pesado"[17]

Para ilustrar este último aspecto, podemos referir o caso do grupo argentino "Emancipacion  Obrera" (EO) que, numa outra época, teve um início notável e promissor na cena política internacional, por meio de um chamado a este para uma correspondência internacional lançado em fevereiro de 1986. Nossa entusiasta resposta[18] a este chamado destacou "a necessidade de certos esclarecimentos políticos, incluindo um em particular, a necessidade de conceber e situar-se na continuidade da história do movimento operário, de suas conquistas teóricas e políticas (não uma continuidade passiva e simples repetição, mas uma continuidade dinâmica e superação estreitamente ligada às experiências e evolução das exacerbações de todas as contradições do sistema capitalista, colocando na agenda a necessidade objetiva de sua destruição)".

Esta insistência da nossa parte tinha sido mal recebida por EO. A razão para isso é que um primeiro ato da ruptura formal com a esquerda do capital pode assumir a forma de uma rejeição de todos os dogmas que servem de justificativa para a política antiproletária destas organizações. O problema é que, posteriormente, qualquer quadro político tende a ser percebido como um "novo dogma" que apenas dificulta a reflexão e a atividade política.

A atitude de EO mudou gradualmente à medida que insistimos que "seria errado e até negativo procurar atalhos e pensar que podemos contornar as dificuldades começando por um agrupamento de ações políticas ou pela publicação de um jornal comum."[19] EO tornou-se hostil à CCI e depois desapareceu.

Uma semelhança entre EO e OPOP é surpreendente, ambos recusaram qualquer referência crítica à Esquerda Comunista.

Além disso, já ilustramos várias vezes neste texto a ruptura imperfeita da OPOP com a esquerda do capital, principalmente através de uma demarcação imperfeita com esta última, no que diz respeito ao internacionalismo em particular, mas também uma propensão para fazer concessões ao interclassismo, vendo situações revolucionárias onde não há nenhuma.

Devemos combater vigorosamente qualquer ilusão de que, ao deixar o campo da esquerda do capital (o da burguesia), qualquer nova atividade política é automaticamente proletária, revolucionária. Entre os dois campos, o da burguesia e o do proletariado, há o que Lênin chamou de pântano político, cujos grupos que o compõem podem se orientar para um ou outro dos dois campos fundamentais, ou mesmo viver entre os dois. Eles também podem desaparecer.

VII. Do desenvolvimento político à esclerose e a explosão. Porquê?

Uma dinâmica de clarificação das posições de classe, como a que animou OPOP no primeiro período da sua existência, só pode ser mantida e desenvolvida se for constantemente estimulada. Este tinha deixado de ser o caso na OPOP. Começa então um período de estagnação, cujo resultado pode ser ou a fossilização ou o desaparecimento. Com uma trajetória e manifestações diferentes da OPOP, a EO desapareceu.

Tal trajetória não foi uma conclusão inevitável para a OPOP e é importante ser capaz de identificar as limitações políticas que estavam presentes desde o início e que posteriormente se tornaram um obstáculo crescente ao desenvolvimento político positivo do grupo. Como vimos no início deste artigo, a OPOP cristalizou-se originalmente tanto como um agrupamento de elementos combativos opondo-se à sabotagem sindical das lutas, como também em reação à política burguesa da esquerda. Esta característica inicial, na qual, na evolução do grupo, são presentes tanto a imersão na luta imediata quanto a reflexão política, certamente contribuiu para favorecer dentro dele a ideia de que sua evolução devia continuar da mesma forma, levando assim à teorização de uma organização híbrida que, como a experiência tem demonstrado amplamente, é absolutamente insustentável no atual período da vida do capitalismo[20]. Esta confusão inicial foi necessariamente em detrimento da dimensão política da OPOP, que não foi cultivada tanto quanto deveria ter sido e especialmente não na direção certa. Na verdade, o que faltava então à OPOP era abertura à história da nossa classe e às organizações revolucionárias internacionais e internacionalistas existentes no mundo. Em vez de buscar esclarecimento político no debate e no confronto com organizações proletárias reais, a OPOP concebeu cada vez mais o seu próprio desenvolvimento confiando, antes de mais nada, nas suas próprias forças e recursos internos, o que a levou a becos sem saída, por vezes a reboque de intelectuais e académicos da moda. Uma vez iniciado este caminho, a abertura política que herdara desde os seus primórdios, embora não totalmente extinta, tinha-se tornado insuficiente para se ligar, mesmo de forma crítica, à única continuidade histórica e política do proletariado, a esquerda comunista, que tinha sido capaz de se manter no terreno da classe, combatendo o oportunismo das antigas organizações políticas de classe que tinham traído os interesses históricos do proletariado.

Tanto no Brasil como em várias partes do mundo, estão emergindo minorias em busca de uma perspectiva proletária organizada. Para estas minorias é essencial que conheçam e discutam a experiência da OPOP.

CCI (09/04/2020)


[1] Oposição Operária, publicando o Jornal Germinal, que não é mais acessível. Entretanto é possível ter acesso ao site por aqui, uma espécie de museu da internet: https://archive.org/web/. E digita: sites.uol.com.br/opop.

[2] Até o jornal Germinal que não é mais acessível. Entretanto é possível ter acesso ao site por aqui, uma espécie de museu da internet: https://archive.org/web/. E digita: https://revistagerminal.com.

[5] Ler nosso artigo A esquerda comunista e a continuidade do Marxismo

[6] Fonte: Carta de princípios - Edição revista e atualizada -- Projeto para discussão - Oposição Operária 2003. Essa Carta começa assim, dando informações importantes as origens de OPOP: "O presente documento, inicialmente uma tese apresentada pela coordenação da Oposição Operária, constitui hoje a Carta de Princípios, que foi aprovada no I Encontro da Oposição, realizado nos dias 10 e 11 de dezembro de 1994 e que agora—ano de 2003—passa por um necessário processo de revisão e atualização de conformidade com referências estratégicas combinadas com aspectos fundamentais da conjuntura mundial atual."

[7] Este folheto incluía uma denúncia unilateral do imperialismo de Israel, mas poupou outros imperialismos também presentes no Oriente Médio, como o Irã, por exemplo. Após a CCI ter alertado a OPOP sobre este assunto, a iniciativa de São Paulo foi criticada, mas sem provocar muito debate dentro do grupo.

[8] "É este, em definitivo, o traço novo que, tendo aparecido nestas duas últimas décadas, virou de vez os sindicatos, tornando-os instituições opostas aos interesses dos trabalhadores e favoráveis aos seus próprios interesses, interesses de burguesia" (carta de princípio 2003)

[9] Leia a propósito disso o debate contraditório publicado no nosso site "Debate sobre os erros da Revolução Russa".

[10] Leia a propósito disso em espanhol: El mito de las colectividades anarquistas. E também sobre os acontecimentos na Espanha dos anos 1930: Espanha 1936: Franco e a República massacram o proletariado; E também em português: Abril de 1939: Fim da Guerra Espanhola e prólogo da Segunda Guerra Mundial

[11] A seguinte passagem (contribuição de EC para II congresso da OPOP – julho 2007) pode ser retida: "Ela não é um partido de quadros. É, por natureza, uma organização aberta, porém com uma abertura pautada e limitada por um conjunto de princípios, expostos na Carta, que se colocam como parâmetros para a adesão. Ela é, pois, por ser aberta, uma organização "de massa", porém, como é limitada pelos princípios, ela é, ao mesmo tempo, antinômica a uma dimensão de massa—de que resulta ser e não ser uma "organização de massa" (...). A OPOP se opõe, pela crítica, pela denúncia e pela prática, ao aparelhismo, ao oportunismo, ao reformismo e à conciliação de classe. Parte de seus militantes está convencida da necessidade urgente de um partido de quadros, e até acha salutar que a OPOP acabe formando militantes que, pelo seu avanço, acabem por contribuir para a formação, em futuro não previsível, de um partido de quadros. Mas esta não é uma posição formal da OPOP—até porque esse assunto não foi discutido na OPOP—, mas só de membros seus. Por outro lado, esses membros não impõem à OPOP nenhum estilo de prática e de doutrina partidária própria de partido de quadros. O surgimento de um possível partido de quadros não afeta em nada a permanência da OPOP tal como ela é enquanto forma. (...) É óbvio que a plataforma programática da OPOP não tem a consistência que seria própria de um partido de quadros de tipo leninista. Mas negar, por conta dessa ambiguidade, a disposição da OPOP e dizer que ela, por não ser um PQ, não pode abraçar uma perspectiva revolucionária, é um juízo de sectarismo."

Na passagem citada, porém, não encontramos nada que explique por que a OPOP foi orientada para uma forma intermediária e não para a formação de um partido de quadros.

Na verdade, há outra passagem que nos informa sobre este assunto: () "O QUE É A OPOP? (Contribuição para o Congresso sem nenhuma data)": "Existem países que possuem—malgrado uma ação brutal da burguesia no sentido de apagar esta memória—, uma tradição de luta de classes que ainda hoje inspira certos movimentos do proletariado. O destaque é a França, na qual, por mais de um século—pelo menos da Queda da Bastilha à Comuna de Paris—, o proletariado acumulou uma tradição revolucionária que não pôde ser de todo apagada. Já em outros países, que não passaram por revoluções do calibre da Revolução Francesa—e esse é o caso dos EUA—, a burguesia conseguiu apagar, em grau variável, a memória da intervenção do proletariado nas suas revoluções burguesas, fato que dificulta sobremodo a compreensão da necessidade da luta anticapitalista por parte de seus trabalhadores (...). Por outro lado, em muitos outros países—e este é o caso do Brasil—nada de parecido ocorreu. No Brasil é muito difícil a sobrevivência de uma forma como a OPOP e mais difícil ainda a criação e o crescimento de um partido de quadros marxista. Por que? Porque não há tradição nem memória revolucionária neste país."

[13] Citado da carta da fração italiana dirigida a Trotsky em 19 junho de 1930, já evocada neste texto.

[14] Foi por acaso que descobrimos esta publicação na Internet enquanto tentávamos, sem sucesso, encontrar o rastro na Web da publicação Germinal. 

[15] Definimos de maneira positiva os princípios proletários que, segundo nós, devem orientar a vida das organizações revolucionárias, em particular no artigo "Relatório sobre a estrutura e o funcionamento das organizações revolucionárias" da Revista Internacional n° 33 e no artigo "O debate: conflito brutal para a burguesia, meio indispensável de esclarecimento para o proletariado" da série "O legado oculto da esquerda do capital".

[16] Ler a propósito disso uma crítica ao conceito de chefe genial feita pela Esquerda comunista de França em 1947, em "Problemas atuais do movimento operário"

[17]  Ler na nossa série de artigos "A herança oculta da Esquerda do Capital", o artigo "Uma falsa visão da classe operária". Os demais artigos da série serão publicados progressivamente em português. Já existem em espanhol.

[18] A nossa resposta a este chamado começou assim: "Esta proposta que aqui apresentamos com nossa resposta é claramente, e sem dúvida possível, proletária: denuncia a democracia burguesa, todo tipo de frentismo "antifascista" e nacionalismo; defende e afirma a necessidade do internacionalismo proletário diante da guerra imperialista. Saudamos o espírito e a abordagem dos camaradas em seu documento: a necessidade de uma discussão aberta, da "polêmica", de confronto de diferentes posições políticas, de luta política fraterna para constituir um pólo de referência política internacional"". "Correspondance internationale : Emancipacion Obrera, Militancia Clasista Revolucionaria (Argentine, Uruguay)", Revue internationale n° 46, https://fr.internationalism.org/booktree/2857

[19] Ler em francês nosso artigo "Correspondance internationale (Argentine) - à propos du regroupement des révolutionnaires", Revue internationale n° 49 et "Milieu politique prolétarien : "Emancipacion Obrera" à la dérive", Revue internationale n° 64.

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Meio proletário