A necessidade de uma resposta política, massiva e radical da classe operária

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A experiência da luta de classes dos dez últimos anos confirmou não apenas a necessidade, mas a possibilidade de uma resposta da classe operária.

A única resposta que permitirá ao proletariado quebrar definitivamente a máquina que o explora e oprime cada dia mais é a revolução social: a destruição total da máquina capitalista, a instauração de novas relações sociais fundadas não mais em função do lucro e da acumulação de capital, mas exclusivamente das necessidades humanas. No fim das contas, não há outra saída.

Isto quer dizer que, até lá, os proletários sofrerão passivamente a putrefação de suas vidas, esperando a "aurora do grande dia”. Semelhante conclusão, típica dos pretensos revolucionários de palavra radical e "modernista" (para quem Marx está "ultrapassado"), traduz, além de uma idéia completamente falsa da revolução social, um desprezo do movimento real do combate proletário.

Inicialmente: como poderia uma classe que não aprendeu a lutar e não se defende quando é atacada, encontrar a força e a vontade para se lançar na revolução até a vitória final? A revolução não "substitui" a resistência diária da classe explorada, é sua decorrência. A luta de classes diária é a única escola de guerra de que dispõe o proletariado.

Dada a impossibilidade para o capitalismo de voltar a uma situação de prosperidade, a concentração de todos os poderes no Estado e o reforço dos meios de repressão não implicam que toda luta de resistência está fadada à derrota. Mas, para lograr êxito, toda luta operária deve se dar os meios adequados ao momento e às condições históricas presentes.

Para imobilizar, mesmo momentaneamente, a ofensiva da burguesia, a classe operária terá de impor uma relação de forças tal que a burguesia só possa recuar para evitar de desestabilizar perigosamente seu poder político. Como o ilustram os dez últimos anos, hoje, mais do que nunca, a única linguagem efetiva, entre as duas classes antagonistas da sociedade, é a da força, da violência de classe.

Essa relação de forças, o proletariado só pode impor:

  • recusando toda passividade e resignação;
  • unindo todas as suas forças, além das separações profissionais, raciais ou nacionais;
  • combatendo diretamente o núcleo do poder burguês: o Estado e seu governo;
  • aplicando uma estratégia de classe contra classe, na luta em defesa de seus interesses contra a lógica do sistema.

A experiência das lutas operárias dos dez últimos anos confirma plenamente esta realidade. Há derrota, completa ou parcial, das lutas que não se estendem, nem se radicalizam. Há êxito quando, ao contrário, a luta se estende, se organiza - de modo unitário, autônomo, coordenado e centralizado - e permanece firme no seu terreno de classe, afirmando claramente seu caráter operário, priorizando as reivindicações comuns e unitárias (Polônia - 1980).

Dez Anos de Lutas

 

Desde a primeira publicação deste livreto, a luta de classes conheceu momentos diversos, no processo da luta operária mundial. Após a onda de lutas operárias, iniciada com a greve geral de 1968 na França, e que, sucessivamente, abalou a Itália (outono de 1969), a Polônia (1970), o conjunto dos países centrais e periféricos até 1974-75; após uma pausa relativa das lutas, em nível internacional – com exceção da Espanha, em 76-77 – são visíveis, no período que vai de 78 a 85, dois ciclos em que a combatividade proletária se manifestou abertamente em escala mundial.

O primeiro: inicia em 1978 (greve dos mineiros nos Estados Unidos), prossegue com lutas importantes, tanto na periferia (metalúrgicos, no Brasil) do sistema, quanto na Europa (trabalhadores dos hospitais, na Itália; siderúrgicos na França, Longwy e Denain, começo de 1979; do porto de Rotterdam, outono de 79; caminhoneiros, setor público e, principalmente, os siderúrgicos da Inglaterra, 1980. E culmina na greve de massas dos operários poloneses, em agosto de 1980.

O segundo: começa no outono europeu de 1983, com a greve do setor público na Bélgica. Em seguida, as lutas ocorrem no mundo inteiro: dos Estados Unidos à Índia, do Peru à África do Sul. Entre o outono de 83 e o fim de 84, levando em consideração apenas os movimentos mais significativos contra as demissões e o ataque aos salários na Europa ocidental, as greves atingiram: na Bélgica, o setor público, as minas; na Holanda, o setor público, as docas de Rotterdam; na Alemanha Federal, os estaleiros, a imprensa, a metalurgia; na Inglaterra, as minas de carvão, as docas, a indústria automobilística; na França, contra a esquerda no governo, a indústria automobilística, a siderurgia, as minas; na Espanha, a siderurgia, os estaleiros.

Essas greves se acrescentam a outras lutas, nesses mesmos em outros países. É o começo de uma nova onda de lutas operárias cuja principal característica é uma simultaneidade internacional sem precedentes.

A possibilidade da extensão

As lutas na Polônia são um exemplo claro de que só uma resposta radical, política e massiva da classe operária pode, atualmente, fazer recuar a classe dominante e seu Estado.

Uma luta radical: uma luta que vai à raiz das coisas. Desde logo, a luta proletária na Polônia se contrapôs radicalmente aos "imperativos da segurança da economia nacional".

Às medidas do governo - impondo aumento de preços dos bens de consumo, em nome dos interesses da economia nacional falida segundo a lógica capitalista - os operários responderam radicalmente, com sua linguagem de classe: "A lógica econômica que privilegia a acumulação do lucro, a produção massiva de armamentos e a manutenção dos privilégios dos burocratas da classe dominante não é a nossa lógica. Exigimos a satisfação de todas as nossas reivindicações!". Por sua firmeza, intransigência e determinação na defesa de seus interesses, os operários poloneses questionavam, na prática, as "sacrossantas leis da economia nacional". Esta era sua primeira força.

Uma luta política e massiva. A classe operária não pode se situar fora e contra a lógica do sistema econômico dominante, não pode resistir e coagir os governos a não reagir brutalmente contra os interesses das massas exploradas, sem se unir, sem efetivar sua principal força: o número.

Os operários poloneses se organizaram e unificaram suas lutas, com rapidez e eficácia extraordinárias. Em poucos dias, os operários do Báltico, sem sindicatos, organizaram-se em assembléias coordenadas e centralizadas pelos comitês eleitos e revogáveis. Logo, as lutas se estenderam ao conjunto da classe operária do país. Assim, milhões de proletários auto-organizados criaram uma relação de forças capaz de dobrar o governo.

Apesar das dificuldades - devidas essencialmente ao seu isolamento internacional e ao papel do Solidariedade [1] - que enfrentou o proletariado na Polônia, as lições positivas, desse que foi o auge das lutas na onda internacional de 78-81, continuam perfeitamente válidas: só uma resposta radical, política e massiva pode fazer recuar os governos do capitalismo em crise.

A necessidade da extensão

O proletariado polonês não foi capaz de se manter auto-organizado, deixando-se enquadrar no aparelho sindical: os MKZ (comitês interempresas autônomos) transformaram-se em MKS (seções locais do sindicato Solidariedade). Tal debilidade tornou possível o golpe de Jaruzelsky, em 3 de dezembro de 1981, abrindo o caminho para o fracasso das lutas nos países ocidentais. Lutas que, por não terem se estendido massivamente nem se unificado numa força de pressão política contra o Estado, confirmam, negativamente, as mesmas lições.

A greve dos mineiros ingleses, em 84-85, apesar de sua massividade, foi esmagada porque a luta não se estendeu duravelmente a outros setores da classe operária (se bem que as manifestações de solidariedade ativa tenham sido numerosas: greve dos portuários, com apoio dos desempregados).

Uma luta que não se estende está condenada à derrota.

As condições de uma real extensão

Na Revista Internacional no 38 (3e trimestre de 84), escrevíamos, a propósito das lutas na Europa ocidental:

"Até o momento, o proletariado não pôde estender, coordenar e, menos ainda, generalizar o seu combate. Enquanto os operários não conseguirem impedir o controle de suas lutas pelos sindicatos, enquanto não assumirem o controle em suas próprias mãos, eles não poderão organizar sua extensão. Ou seja: a auto-organização é fundamental para responder as necessidades de toda luta, hoje .

Cabe às assembléias decidir e organizar a extensão e a coordenação das lutas. São elas que, se puderem, enviam delegados chamando à greve nas outras fábricas. São elas que nomeiam e destituem, a qualquer momento, se necessário, os delegados. Ora, até o momento, a burguesia conseguiu esvaziar desse conteúdo todas as assembléias.

"Sem auto-organização, sem assembléias gerais não há extensão nem, muito menos, generalização internacional do combate. Mas sem extensão, os raros exemplos de auto-organização, de assembléias gerais na Bélgica, na França, na Espanha... perdem sua função e seu conteúdo proletários e deixam assim os sindicatos ocupar o terreno. Os operários começam a compreender que a organização da extensão só se fará ao preço do combate contra o sindicalismo ” (R. L., "simultaneidade das greves operárias: quais perspectivas?").

Esta é a primeira condição de uma real extensão das lutas: que os trabalhadores e suas assembléias mantenham o controle e a direção real desta extensão.

Outras condições importantes devem ser sublinhadas:

  • a prioridade do caráter horizontal de uma real extensão;
  • a importância da luta dos desempregados em todo o movimento de extensão.

Quando os trabalhadores de uma fábrica entram em luta, pode parecer "natural" que toda extensão seja orientada para outras fábricas da mesma empresa ou setor (extensão vertical). Mas as experiências mostram que semelhante orientação resulta no isolamento da luta na dinâmica corporativista ou setorial, que enfraquece o movimento em vez de revigora-lo num combate em termos de classe e de massas. A extensão horizontal, isto é, em direção aos centros de produção mais próximos geograficamente, mais combativos e determinantes politicamente, constitui, ao contrário, um reforço imediato da luta e representa uma ameaça, uma pressão muito mais potente contra a classe dominante. Eis porque ela deve ser prioritária.

A generalização da crise econômica, tendendo a nivelar por baixo as condições de vida de todos os setores da classe operária, cria as condições desta forma de extensão.

Mas a crise econômica aguçou o desemprego, como ameaça para aqueles que ainda trabalham (desempregados potenciais) e condição de vida para milhões de proletários. A extensão de uma luta é, antes de tudo, a busca da unidade entre operários empregados e desempregados.

A luta dos proletários desempregados representará, desenvolvendo-se, um potente fator de aceleração da unidade e da força de classe. Por não serem ligados a tal ou qual empresa ou setor produtivo, os desempregados em luta são um fator ativo contra as divisões corporativistas e pela unidade do combate de classe. Por dependerem da ação do Estado para sobreviver, os desempregados são forçados a colocar a luta num nível político. Dada a falta de perspectivas de sua existência, no capitalismo em crise mortal, eles são levados a conceber a luta contra a lógica capitalista em termos mais fundamentais.

O problema do desemprego e a luta dos desempregados são fatores de radicalização, de extensão e de dinamização da luta. Desde que os sindicatos não enquadrem essa luta em organismos separados do tipo "sindicato de desempregados", "associações de pobres" etc.

Os dez últimos anos evidenciaram a necessidade e a possibilidade de que o proletariado estenda e unifique suas lutas, adequando-as às condições históricas, pois os sindicatos se transformaram em engrenagens do Estado capitalista e não haverá luta conseqüente senão fora deles e contra eles.

1 Os operários poloneses colidiram rapidamente com dificuldades maiores:
- suas ilusões sobre a "democracia" e principalmente sobre a possibilidade de construir um sindicato "verdadeiramente operário", o Solidariedade;
- o trabalho de sabotagem da muito nacionalista organização sindical de Walesa e companhia;
- seu isolamento internacional: a única fração do proletariado mundial que podia, pela sua luta, contribuir para destruir as ilusões e contrariar a gigantesca campanha organizada em nível mundial pela burguesia para construir e credibilizar o Solidariedade, a única fração do proletariado que podia abrir uma verdadeira perspectiva de internacionalização da luta era o proletariado da Europa ocidental. Mas este recuava diante de uma ofensiva da burguesia que, com a estratégia da "esquerda na oposição" (após anos de "esquerda no poder") e campanhas de mídia de desorientação ideológica, reduziu a combatividade operária e impediu toda solidariedade efetiva. A burguesia apresentou a luta operária na Polônia como uma resistência de patriotas, ávidos de catolicismo e de democracia à ocidental.