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Pp. 11-13. Mehring cita o famoso Prefácio à Crítica da
Economia Política de Marx: “A conclusão a que cheguei e que, uma vez atingida,
se tornou o princípio diretor dos meus estudos, pode ser resumida como se
segue. Na produção social da sua existência, os homens entram inevitavelmente
em relações definidas, que são independentes da sua vontade, a saber, as
relações de produção que se adequam a um dado estágio do desenvolvimento das
forças materiais de produção. A totalidade destas relações de produção
constitui a estrutura econômica da sociedade, os verdadeiros alicerces sobre
que se ergue a superestrutura legal e política e a que correspondem formas
definidas de consciência social. O modo de produção das condições da vida
material condiciona o processo geral da vida social, política e intelectual.
Não é a consciência dos homens que determina a sua existência, é a existência
social que determina a consciência. Em determinado estádio do seu desenvolvimento,
as forças produtivas materiais da sociedade entram em conflito com as relações
de produção existentes ou—o que apenas exprime a mesma coisa em termos
legais—com as relações de propriedade em cujo quadro até ao operaram. De formas
de desenvolvimento das forças produtivas tais relações transformam-se em seus
freios. Inicia-se então uma era de revolução social. As transformações de base
econômica levam mais tarde ou mais cedo à transformação de toda a imensa
superestrutura. Sempre que se estudam tais transformações há que estabelecer a
distinção entre a transformação das condições econômicas da produção, que
podemos determinar com a precisão da ciência natural e das formas legais,
jurídicas, religiosas, artísticas ou filosóficas—em resumo, ideológicas—pelas
quais os homens ganham consciência desse conflito e o vencem. Tal como não
julgamos um indivíduo pelo que ele pensa de si próprio, também não podemos
julgar um tal período de transformação pela sua própria consciência; pelo
contrário, essa consciência é que tem de ser explicada pelas contradições da
vida material, a partir do conflito existente entre as forças sociais de
produção e as relações de produção. Nenhuma ordem social é destruída antes que
todas as forças produtivas que pode conter em si se tenham desenvolvido, e
nunca novas e superiores relações de produção substituem outras mais antigas
antes que as condições materiais da sua existência tenham amadurecido no quadro
da velha sociedade. Assim, a humanidade só se coloca missões que é capaz de
levar a cabo; com efeito, uma análise mais aprofundada mostra sempre que o
próprio problema só se levanta quando as condições materiais da sua solução já
existem, ou pelo menos se estão a formar. Em traços gerais, podem apontar-se os
modos de produção Asiático, antigo, feudal e burguês moderno como épocas que
marcaram o progresso do desenvolvimento econômico da sociedade. O modo burguês
de produção é a última forma antagônica do processo social de
produção—antagônico não no sentido do antagonismo individual, mas de um
antagonismo que emana das condições sociais de existência dos indivíduos—mas as
forças produtivas que se desenvolvem no seio da sociedade burguesa criam também
as condições materiais para a resolução desse antagonismo. Assim, a
pré-história da sociedade é encerrada por esta formação social.”